• Project: • Original Title: • Translated Title: MCC CEA 708 Closed Captions • Translator: No Author • Language: English • Subtitles: 520 • Words: 4559 • Comment: • Client: • Creation Date: 15. Aug. 2018 • Revision: • Revision Date: 15. Aug. 2018 • Media File: No Media • Format: 29.97 NTSC DF • Offset: 00:00:00:00 [00:00:36;22] ? [00:00:39;14] [00:02:04;21] Não é ordem nem desordem, é bagunça. [00:02:07;12] [00:02:07;26] O que é bagunça? O mundo é uma bagunça. [00:02:10;15] [00:02:10;23] E a gente trata de dar ordem a essa bagunça. [00:02:13;22] [00:02:14;04] Dar ordem é achar as coisas, então, no meio de uma coisa confusa você acha, [00:02:18;16] [00:02:18;26] descobre, depois essa coisa volta a essa confusão. [00:02:21;10] [00:02:21;21] Quando você toma de novo, você redescobre essa coisa. [00:02:23;29] [00:02:27;26] Essas coisas que eu vinha lhe dizendo não são só coisas [00:02:31;13] [00:02:31;22] como essa máquina, isso aqui, isso aqui, isso aqui. [00:02:35;29] [00:02:36;10] Não são coisas como o vento, como a chuva, como o perfume, [00:02:39;19] [00:02:39;29] como uma lembrança. São de todas as ordens essas coisas. [00:02:43;12] [00:02:43;19] Quer dizer, há as coisas materiais, [00:02:45;13] [00:02:45;23] que a arte é realmente feita dessas coisas materiais, [00:02:48;10] [00:02:48;20] mas há coisas mais sutis que estão implícitas, embutidas. [00:02:51;20] [00:02:52;02] Digamos que essa máquina sopre, então, esse sopro pode estar invocando um vento. [00:02:55;16] [00:02:56;01] Então, além dessa máquina que você está vendo, tem também o vento. Que vento é esse? [00:02:59;01] [00:02:59;07] É um vento. [00:03:00;27] [00:03:02;05] Uma obra não é um conjunto de signos que diz assim: [00:03:04;21] [00:03:05;04] "sso quer dizer aquilo, isso quer dizer aquilo, logo, isso quer dizer aquilo. [00:03:08;05] [00:03:08;14] Uma obra de arte é sempre uma cebola, [00:03:11;13] [00:03:11;23] sempre uma quantidade de cascas dentro das outras, dentro das outras. [00:03:15;17] [00:03:16;00] Não se trata de comunicar uma coisa, se trata de tornar presente uma coisa. [00:03:19;14] [00:03:40;06] O que o Tunga mostra é o próprio processo de germinação da cultura mesmo. [00:03:44;16] [00:03:45;13] Essa é a potência da arte. Fazer com que essa germinação seja possível. [00:03:53;10] [00:04:04;27] O Tunga é este artista mago que instaura o território, [00:04:09;13] [00:04:09;21] ritual onde os deuses podem vir. [00:04:12;08] [00:04:12;16] Onde essa experiência pode acontecer. [00:04:15;28] [00:04:16;06] Onde pode se dar esse acontecimento [00:04:18;22] [00:04:19;00] desta reconexão com a nossa condição de vivo [00:04:22;05] [00:04:22;16] e com a coisa mais essencial da vida, que é a nossa potência de criação [00:04:28;14] [00:04:28;24] e transfiguração da realidade, né? E transvaloração dos valores. [00:04:32;21] [00:04:32;29] Isso é o que temos de mais precioso [00:04:35;09] [00:04:35;17] e é isso que está sendo abusado e cafetinado. [00:04:39;07] [00:04:39;17] Então, ali instaura-se o espaço ritual onde isso, [00:04:45;03] [00:04:45;09] quem sabe, [00:04:46;23] [00:04:47;02] sabe-se lá, vai ser possível, porque nada garante. [00:04:50;29] [00:04:51;14] Ele era um mago. [00:04:53;21] [00:04:54;02] Ele era um mago. Ele era um produtor e, de repente, fazia uma mágica... [00:04:58;11] [00:04:58;18] "tum". De repente aparece um pássaro. [00:05:01;09] [00:05:01;15] "Uai, de onde saiu?" [00:05:03;12] [00:05:04;21] ? [00:05:07;15] [00:05:46;12] [Narrador] Quando nos defrontamos pela primeira vez com uma cultura, [00:05:49;24] [00:05:50;01] seja ela uma antiga civilização já extinta, [00:05:53;03] [00:05:53;10] ou uma tribo recém-contatada, [00:05:55;24] [00:05:56;01] seus mitos, costumes, cultos, objetos, [00:05:58;29] [00:05:59;14] formas de estruturar e expressar pensamento via linguagem causam estranheza. [00:06:05;17] [00:06:06;00] Ao mesmo tempo alguma coisa em nós compreende [00:06:09;01] [00:06:09;14] e identifica algo comum que legitima aquelas outras possibilidades de vida e morte. [00:06:14;21] [00:06:15;08] Como os dois polos de um imã o espanto se dá na medida do reconhecimento. [00:06:21;08] [00:06:22;28] ? [00:06:25;29] [00:06:45;28] [Tunga] O campo da investigação da ciência e o campo da investigação da arte [00:06:48;26] [00:06:49;09] eu acho que são do mesmo campo. A tradução da intuição da investigação que se faz [00:06:54;27] [00:06:55;07] tomam rumos diversos. Se eu traduzir que conhecer é aprender a viver, [00:07:00;11] [00:07:00;20] como ser humano, eu posso considerar que a poesia [00:07:04;07] [00:07:04;15] é um instrumento de conhecimento. [00:07:06;10] [00:07:06;21] É tão eficaz, tão importante, tão presente quanto o saber da ciência. [00:07:11;01] [00:07:14;16] Na base de ambos está a mesma inquietação, [00:07:17;15] [00:07:17;26] que é uma vontade de saber, uma vontade de se perguntar [00:07:20;25] [00:07:21;04] e, sobretudo, uma disposição a de estar perplexo [00:07:25;03] [00:07:25;12] perante o mundo e querer saber mais dele. [00:07:29;00] [00:07:30;03] ? [00:07:33;23] [00:07:45;01] O "True Rouge" foi a primeira construção [00:07:49;22] [00:07:50;14] feita para abrigar uma obra. [00:07:53;29] [00:07:54;10] É uma obra que quase, embora não tenha som, [00:07:57;03] [00:07:57;11] quase é musical. E para ela ter essa força [00:08:00;19] [00:08:00;29] de algo musical, [00:08:03;24] [00:08:06;20] quase como se fosse um som desses vidros se tocando, mas ele não se tocam. [00:08:11;29] [00:08:12;11] Essa sensação só é garantida enquanto ela está no silêncio. [00:08:18;04] [00:08:18;14] Então, ela tinha que estar no fim de uma caminhada. [00:08:21;08] [00:08:21;16] Então, eu acho que desse sentido, [00:08:23;13] [00:08:23;22] acho que tanto a localização quanto a construção, [00:08:26;03] [00:08:26;13] quanto os materiais que foram usados no piso, no teto, [00:08:31;10] [00:08:31;21] isso tudo fazia parte de promover a melhor experiência. [00:08:35;00] [00:08:35;25] ? [00:08:39;19] [00:09:40;24] [Tunga] Você estar diante de uma situação de equilíbrio dinâmico e instável, [00:09:46;08] [00:09:46;16] é mais ou menos como você sentir o seu corpo [00:09:50;28] [00:09:51;08] nesses momentos anteriores ao homo erectus , [00:09:54;12] [00:09:54;20] ao fato de você andar com os dois pés, [00:09:56;29] [00:09:57;06] e com a coluna em direção aos céus. [00:09:59;24] [00:10:00;01] Mas eu acho que a todo corpo que se olha [00:10:03;10] [00:10:03;19] existe uma possível representação do nosso próprio corpo. [00:10:07;23] [00:10:08;03] Curiosamente, o homo erectus , que é um dos nossos antepassados, [00:10:13;19] [00:10:13;29] mostra uma passagem fundamental para os hominídeos, [00:10:19;13] [00:10:19;24] se equilibrar em dois pés. Essa situação de equilíbrio [00:10:23;13] [00:10:23;22] que nós temos e parecemos ser tão destros, [00:10:26;12] [00:10:26;20] todos nós nos lembramos ao olhando os bebês [00:10:29;16] [00:10:30;00] que se aprende a andar, ou seja, se aprende a colocar em equilíbrio esse conjunto [00:10:34;16] [00:10:34;25] que é o corpo, né? Ossos, músculos, nervos, limbos e tudo mais [00:10:39;19] [00:10:40;01] com uma certa dificuldade. É o saber que a gente adquire num período da vida [00:10:46;11] [00:10:46;19] e que implica realmente um grande programa. [00:10:49;06] [00:10:49;18] Você estar diante de uma situação de equilíbrio dinâmico, instável [00:10:54;22] [00:10:55;02] é mais ou menos como você sentir o seu corpo [00:10:58;14] [00:10:58;24] nesses momentos anteriores ao homo erectus , [00:11:02;22] [00:11:03;03] ao fato de você andar com dois pés e com a coluna em direção aos céus. [00:11:07;12] [00:11:14;22] ? [00:11:18;00] [00:11:38;12] "O suave vermelho róseo, [00:11:40;29] [00:11:41;09] espreitando em uma nuvem distante por cima do oceano. [00:11:44;09] [00:11:44;17] Um dentre milhões de vermelhos. [00:11:46;02] [00:11:46;09] Este é o milionésimo primeiro vermelho. [00:11:49;11] [00:11:49;18] True Rouge. True Rouge. [00:11:52;02] [00:11:52;13] Ou através de uma tentativa de compreender a existência [00:11:56;00] [00:11:56;07] da poesia algébrica "True Rouge", [00:11:59;22] [00:11:59;29] em que 'tr' [00:12:01;15] [00:12:01;22] é a representação monocromática [00:12:05;29] [00:12:06;09] na seguinte fórmula: [00:12:07;24] [00:12:08;01] 'tr', mais espaço, representado por 'é', [00:12:10;13] [00:12:10;21] mais vermelho, representado por 'r', vezes dois [00:12:13;11] [00:12:13;19] é igual a vermelho, 'r', mais espaço vermelho, [00:12:18;12] [00:12:18;18] ou 'er'. [00:12:20;08] [00:12:20;15] Ou seja, 'tr', mais 'r' vezes dois [00:12:24;14] [00:12:24;22] é igual a 'r' mais 'er'." [00:12:28;06] [00:12:29;08] ? [00:12:30;17] [00:12:30;25] [Tunga narrando] Você estar diante [00:12:32;06] [00:12:32;16] de uma situação de equilíbrio dinâmico e instável... [00:12:35;13] [00:12:35;23] [Homem gritando] Experimente, experimente, experimente. [00:12:38;03] [00:12:38;10] O que foi que eu disse? [00:12:39;26] [00:12:40;09] Isso, experimente. [00:12:41;24] [00:12:42;01] Usando a seguinte frase, usando a seguinte... [00:12:45;16] [00:12:45;22] O que eu achei? [00:12:47;06] [00:12:47;16] Experimente, eles disseram. Experimente com a seguinte frase. [00:12:51;15] [00:12:51;21] "True Rouge é a cor"... [00:12:53;11] [00:12:53;19] Você pode brincar com isso. [00:12:56;20] [00:12:57;02] Experimente, experimente, experimente, experimente. [00:12:59;10] [00:12:59;19] "True Rouge". Por favor, diga-nos, Tunga. [00:13:02;08] [00:13:02;15] Senhoras e senhores, este é Tunga, o artista, [00:13:05;02] [00:13:05;09] que criou o que vocês estão vendo. [00:13:07;29] [00:13:08;07] "True Rouge é a cor que o meu amor usava." [00:13:11;21] [00:13:11;27] Isso! [00:13:12;27] [00:13:13;05] "True Rouge é a cor que o meu amor usava." [00:13:15;13] [00:13:15;21] "True Rouge é a cor que o meu amor usava." [00:13:18;16] [00:13:18;23] [Sobe música] A vida na mesa, [00:13:22;01] [00:13:23;20] ? Arrasa a beleza, ? [00:13:27;06] [00:13:28;29] ? A sua tristeza ? [00:13:34;00] [00:13:34;06] ? [00:13:39;17] [00:13:39;24] ? A vida na mesa, ? [00:13:42;23] [00:13:45;04] ? A trança tá presa ? [00:13:49;03] [00:13:50;19] ? A sua tristeza ? [00:13:54;11] [00:14:06;12] ? Se manda, Tereza ? [00:14:10;00] [00:14:11;29] ? Ilesa na mesa ? [00:14:15;26] [00:14:17;08] ? A trança é a mesma ? [00:14:21;02] [00:14:27;29] ? Arrasa a certeza ? [00:14:30;27] [00:14:33;02] ? [00:14:35;28] [00:14:38;26] ? Ilesa beleza ? ? Arrasa a certeza ? [00:14:43;20] [00:14:44;01] ? A brasa é presa e acesa ? [00:14:48;00] [00:14:48;10] ? A trança é a mesma ? [00:14:53;09] [00:14:54;04] [Gritos] [00:15:00;02] [00:15:00;15] ? Escapa, Tereza. ? [00:15:03;27] [00:15:05;07] ? Se abraça a Tereza ? [00:15:09;05] [00:15:09;16] ? Arrasa a pobreza. ? [00:15:14;12] [00:15:15;19] Tunga deu nome de instauração para esse tipo de obra, [00:15:20;18] [00:15:21;01] ele podia ter chamado de instauração ou performance. [00:15:24;26] [00:15:25;06] E ele deu nome de instauração, e ele não gostava da palavra performance, [00:15:28;01] [00:15:28;09] aliás, a Lygia Clark e o Hélio Oiticica [00:15:30;19] [00:15:30;27] odiavam a palavra performance, porque a Lygia [00:15:34;01] [00:15:34;14] via na performance uma coisa ainda de uma relação de espetáculo com o outro. [00:15:38;10] [00:15:38;21] A performance tem uma relação com o time muito estrita, né? [00:15:42;15] [00:15:42;24] E a coisa dele é esse transbordamento do tempo, [00:15:46;05] [00:15:46;19] não sabe quanto tempo aquilo vai durar, pode durar sete, oito, dez horas, enfim, [00:15:50;22] [00:15:51;01] essa do CCBB durou algo por aí: 10, 12 horas. [00:15:57;03] [00:15:57;12] E no dia seguinte, que não tem mais performance, [00:16:00;11] [00:16:00;21] e a peça está numa galeria, está, sei lá, num museu, [00:16:05;00] [00:16:05;20] a peça ela segue sendo exposta com aquela interferência. [00:16:11;11] [00:16:11;20] Se um bando de talco espalhado, fica espalhado. [00:16:15;01] [00:16:15;09] Ninguém vai lá para arrumar. [00:16:16;20] [00:16:16;29] Se é uma peça toda borrada de tinta maquiagem, [00:16:20;09] [00:16:20;16] ninguém vai lá para limpar. [00:16:22;06] [00:16:22;14] A peça durante um mês, dois, três meses, [00:16:25;02] [00:16:25;13] ela fica com aquela cara. Ela é fotografada, vai pros livros [00:16:30;03] [00:16:30;15] com aquela cara, entendeu? Quando se deixa uma pista muito contundente [00:16:35;16] [00:16:35;28] de que algo passou por ali, ninguém tem dúvidas de que ali algo passou. [00:16:41;12] [00:16:41;22] Então, assim, nessas instaurações quem não viu aquelas performances [00:16:46;23] [00:16:47;01] sente que a peça tem uma história, [00:16:50;15] [00:16:51;01] uma história de ontem ou de anteontem, não sabe quando. [00:16:53;26] [00:16:54;07] Mas que alguém passou ali e alterou a peça naquele local. [00:16:57;24] [00:16:58;09] Na verdade, ela vira uma espécie de turbinazinha que vai mexendo com essa ideia de pronta, [00:17:05;00] [00:17:05;11] entendeu? Dentro de cada um. Então, o pronto, pro Tunga, [00:17:09;12] [00:17:09;19] é se realmente a turbina estava ativada. [00:17:12;22] [00:17:13;02] Se estava ativada, se ela estava provocando isso dentro de cada um, [00:17:16;26] [00:17:17;08] seja de que forma for, é que a peça, em termos, está pronta. [00:17:21;07] [00:17:21;17] ? [00:17:23;22] [00:17:32;16] ? [00:17:35;06] [00:18:11;03] Vai? Tá ouvindo? Ah, já está... [00:18:14;10] [00:18:15;01] Estamos gravando. Ai, estamos nesse corredor aqui e estou me sentindo [00:18:19;12] [00:18:19;21] como uma partícula. Aliás, nós somos partículas. [00:18:23;09] [00:18:23;16] E cabe a um espaço de arte, [00:18:26;04] [00:18:26;13] ao espaço onde você pretende ir ver arte [00:18:30;00] [00:18:30;29] acelerar as partículas. Eu acho que isso daqui é uma metáfora [00:18:34;09] [00:18:34;17] de um acelerador de partículas. [00:18:37;04] [00:18:37;17] Então, você entra nesse pavilhão e esse pavilhão foi concebido desse modo um pouco, [00:18:40;13] [00:18:40;21] tem um núcleo central, e esse núcleo central [00:18:42;24] [00:18:43;02] é uma instalação que se chama "Ão". [00:18:46;01] [00:18:46;12] "Ão" no Toro, "Ão" é uma metáfora, talvez, de um acelerador de partículas. [00:18:51;02] [00:18:51;15] E nesse centro você percebe que [00:18:55;29] [00:18:56;12] sendo você uma partícula, você se choca com outras partículas que aqui estão [00:19:00;02] [00:19:00;12] e interage com elas. Eu acho que esse pavilhão foi concebido nesse sentido. [00:19:04;05] [00:19:04;15] No sentido de que você experimenta o confronto, a interação [00:19:09;24] [00:19:10;03] e você enquanto partícula, com a sua experiência [00:19:13;08] [00:19:13;17] com aquilo que foi pensado para o artista. [00:19:16;04] [00:19:17;03] Cada pessoa, cada partícula que entra nesse espaço [00:19:20;07] [00:19:20;23] interage de um modo diferente. Eu acho que esse espaço é o somatório dessas interações. [00:19:26;04] [00:19:26;13] Eu acho que Inhotim é o somatório dessas experiências. [00:19:30;06] [00:19:30;26] Proporcionar esse tipo de experiência, esse tipo de integração [00:19:34;16] [00:19:34;23] daquilo que acontece no mundo hoje, [00:19:37;10] [00:19:37;19] na visão de diversos artistas, na visão plural [00:19:40;19] [00:19:41;01] termina nos dando uma visão do que é o núcleo central que a gente procura. [00:19:46;20] [00:19:47;06] O núcleo central dessa vida que é a vida de hoje, [00:19:50;23] [00:19:51;05] a vida contemporânea tão ligada àquilo que ainda há de mais arcaico no sujeito [00:19:55;28] [00:19:56;07] quanto aquilo que há de vir no ser humano. Ponto. [00:20:00;22] [00:20:16;12] É um projeto muito ambicioso e que é fruto de uma colaboração [00:20:21;20] [00:20:21;29] de mais de dez anos de Inhotim, com Tunga, com o artista. [00:20:27;14] [00:20:27;23] Tunga foi um dos artistas que Bernardo Paz [00:20:31;18] [00:20:31;28] encontrou ele pessoalmente no final dos anos 1990. [00:20:35;10] [00:20:35;18] Ele ficou muito curioso com o trabalho dele, [00:20:38;04] [00:20:38;14] com o raciocínio do Tunga, das questões do Tunga. [00:20:43;07] [00:20:43;21] E eu acho que Tunga foi realmente a pessoa que muito inspirou o Bernardo [00:20:49;03] [00:20:49;12] a levar o projeto de Inhotim para a frente, [00:20:52;03] [00:20:52;11] de tornar isso um projeto público, [00:20:54;13] [00:20:54;25] de realmente profissionalizar a parte de coleção de arte. [00:20:59;24] [00:21:00;04] Criar os fundamentos para futuramente se criar uma instituição. [00:21:04;06] [00:21:27;17] [Conversas inaudíveis] [00:21:30;23] [00:21:46;09] O que a gente está imaginando é o que vocês estão vendo. [00:21:48;25] [00:21:49;04] Ninguém tá preso e está contente, feliz da vida. [00:21:51;23] [00:21:52;03] Está sempre com a cara meio puto, chateado com a vida, [00:21:55;09] [00:21:55;16] e pensando, tramando em fugir disso aqui. [00:21:58;15] [00:21:58;28] A gente não quer ficar dentro de uma galeria, a gente quer ficar no mato, [00:22:01;22] [00:22:01;29] quer ir para a liberdade. [00:22:03;08] [00:22:04;20] ? [00:22:07;16] [00:22:13;12] ? Se manda, Tereza ? [00:22:16;13] [00:22:18;21] ? Ilesa na mesa ? [00:22:21;27] [00:22:24;06] ? A trança é a mesma ? [00:22:27;17] [00:22:29;09] ? Rara beleza ? [00:22:32;13] [00:22:34;21] ? Arrasa a certeza ? [00:22:38;19] [00:22:45;15] ? Ilesa beleza ? [00:22:48;29] [00:22:50;02] São obras, assim, que acho que desde os anos 70 [00:22:53;06] [00:22:53;17] até 2010, 2011, cobrem quase 30 anos da carreira, da história do artista. [00:23:00;12] [00:23:02;06] O projeto em princípio, quando a gente começou a trabalhar [00:23:06;01] [00:23:06;11] a configuração desse pavilhão, a gente pensou, então, [00:23:10;11] [00:23:10;20] em seis obras, seis instalações de escala maior [00:23:14;10] [00:23:14;21] que seriam o núcleo, a base da construção desse pavilhão. [00:23:19;23] [00:23:20;09] Do outro lado o próprio Tunga sempre tinha um certo medo, [00:23:24;10] [00:23:24;19] eu acredito, de virar uma retrospectiva permanente. [00:23:29;24] [00:23:30;04] Então, a gente pensou que seria interessante revisitar [00:23:32;27] [00:23:33;07] algumas das performances que Tunga fez nos anos 80, 90 [00:23:37;29] [00:23:38;26] e mais recentes. Então, vai ter várias performances acontecendo que, talvez, [00:23:44;23] [00:23:45;07] pode ser ativados em vários momentos durante a exposição dessa primeira montagem, [00:23:50;26] [00:23:51;17] mas com certeza no dia da abertura alguns deles [00:23:54;17] [00:23:54;25] vão ser reativados em vários momentos. [00:23:56;06] [00:23:57;00] ? [00:24:00;28] [00:24:23;25] ? [00:24:27;10] [00:24:44;27] ? [00:24:49;03] [00:25:39;19] ? [00:25:42;27] [00:26:47;03] ? [00:26:52;04] [00:28:57;08] Toro é um dos objetos básicos da topologia [00:29:00;24] [00:29:01;24] e uma das características dessa topologia [00:29:05;19] [00:29:05;27] é pensar o espaço não metricamente, [00:29:08;02] [00:29:08;11] mas a partir de outros elementos constitutivos. [00:29:11;27] [00:29:12;06] A princípio, a ideia de não fragmentar, [00:29:14;13] [00:29:14;25] de não seccionar uma forma era uma ideia para mim fundamental [00:29:18;21] [00:29:18;28] de criar uma percepção de continuidade [00:29:20;29] [00:29:21;09] essa continuidade seria uma curva, um objeto fechado sobre si mesmo. [00:29:24;02] [00:29:24;12] mas eu pensei que uma esfera, talvez, não seria uma coisa adequada [00:29:29;29] [00:29:30;09] porque não há essa penetrabilidade, não há essa conectibilidade. [00:29:34;19] [00:29:34;29] O toro me apareceu, me surgiu como uma forma adequada [00:29:38;25] [00:29:39;05] talvez até a partir de experiências concretas [00:29:42;04] [00:29:42;13] que vão se realizar no filme "Ão", por exemplo. [00:29:45;07] [00:29:46;19] [Música ao fundo] [00:29:49;02] [00:29:49;08] ? Day and night ? [00:29:53;06] [00:29:54;11] ? Night and the day ? [00:29:58;06] [00:30:00;07] ? Night and the day ? [00:30:04;07] [00:30:06;17] ? Day and night ? [00:30:10;01] [00:30:12;29] ? Night and the day ? [00:30:16;16] [00:30:18;13] ? Night and the day ? [00:30:22;07] [00:30:24;23] ? Day and night ? [00:30:29;23] [00:30:30;21] ? Night and the day ? [00:30:34;17] [00:30:36;27] ? Day and night ? [00:30:40;21] [00:30:43;00] ? Night and the day ? [00:30:47;06] [00:30:48;15] ? Night and the day ? [00:30:52;28] [00:30:54;18] ? Night and the day ? [00:30:58;11] [00:31:02;04] Porque o Toro é a questão do contínuo absoluto. [00:31:05;02] [00:31:05;10] Ou seja, ele está procurando sempre examinar [00:31:08;09] [00:31:08;21] o contínuo e o descontínuo do ponto de vista filosófico. [00:31:11;14] [00:31:14;04] É a primeira vez que se viaja no interior do Tunga, [00:31:18;17] [00:31:18;27] e aquela viagem é eterna, porque não há entrada nem saída, [00:31:21;11] [00:31:21;25] impossível dentro de um Toro, o Toro não tem como entrar, não tem como sair dele. [00:31:26;11] [00:31:26;19] E ao ter a engenhosidade de filmar o interior, [00:31:31;00] [00:31:31;12] o Toro foi um trabalho de 1981, a ascensão de um túnel daqui do Rio de Janeiro [00:31:35;16] [00:31:35;26] que é curva, e ele imaginou o looping dessa curva. [00:31:38;26] [00:31:39;04] E o mais interessante do "Ão" ainda [00:31:41;08] [00:31:41;19] é que o looping não é feito através de um looping curto [00:31:46;04] [00:31:46;12] na câmara como poderia ser feito, [00:31:48;12] [00:31:48;20] mas o looping circula fisicamente a sala, o perímetro da sala. [00:31:53;04] [00:31:53;16] Então, o espectador visualiza o looping do interior do Toro [00:31:58;28] [00:31:59;06] literalmente porque as carretilhas e o filme [00:32:04;05] [00:32:04;12] atravessam a sala. É um filme... [00:32:07;04] [00:32:07;15] uma obra que digitalizada perde o seu sentido porque [00:32:12;02] [00:32:12;11] faz parte, o corpo fílmico faz parte da obra. [00:32:16;01] [00:32:16;09] A obra dele tem essas recorrências de ideias, [00:32:19;24] [00:32:20;03] de materiais, de conexões, tudo parece um pouco [00:32:24;08] [00:32:24;18] autorrecorrente, sabe, e parece ir criando com isso [00:32:29;25] [00:32:30;05] uma espécie de mitologia, de símbolos que se intercomunicam, [00:32:36;23] [00:32:36;29] se comentam, enfim, [00:32:38;26] [00:32:39;07] ela é muito analógica, eu acho, o pensamento dele é muito analógico, assim. [00:32:42;28] [00:32:43;06] Fazer analogias entre diferentes coisas. [00:32:45;12] [00:32:45;21] E, ao mesmo tempo, pega numa coisa muito primária, assim, [00:32:48;22] [00:32:49;01] como eu falei, do subterrâneo do ser humano. [00:32:51;16] [00:32:51;27] Então, você se reconhece ali numa coisa muito primordial, [00:32:55;16] [00:32:55;25] seja sexual, seja instinto de vida e morte, [00:33:00;09] [00:33:00;16] coisas muito, assim, básicas [00:33:02;11] [00:33:02;21] e ao mesmo tempo todo um estranhamento de você falar "de onde veio isso?" [00:33:06;12] [00:33:06;22] daí a ideia de uma cultura não contatada até então, [00:33:10;25] [00:33:11;03] mas ao mesmo tempo que você se identifica [00:33:13;04] [00:33:13;12] com algumas coisas muito táteis quase, [00:33:17;24] [00:33:18;03] de arrepiar, e de o poro arrepiar ali, [00:33:21;13] [00:33:21;21] malha de ferro excitada pelo imã, [00:33:25;02] [00:33:25;10] os cabelos que lembram o túnel, [00:33:28;27] [00:33:29;07] xipofagia capilar das irmãs lembram o túnel, [00:33:36;05] [00:33:36;15] dois irmãos, até em termos de associações de palavras você tem [00:33:42;05] [00:33:42;14] "dente" com "pente", você tem "túnel" com "funi", [00:33:46;19] [00:33:46;26] enfim, e coisas como a ideia do osso [00:33:51;09] [00:33:51;20] que ao mesmo tempo remete a falo, mas remete a serpente, [00:33:54;28] [00:33:55;08] remete a clava que é uma arma de morte primordial, [00:33:58;07] [00:33:58;14] então, tem a ver com origem e fim, [00:34:00;19] [00:34:01;02] essas conexões todas dão, enfim, a aparência de você estar em contato [00:34:05;20] [00:34:06;00] com toda uma simbologia de uma cultura inédita, talvez, [00:34:10;20] [00:34:10;28] ancestral ou nunca vista e ao mesmo tempo com muita afinidade [00:34:16;07] [00:34:16;16] porque são coisas que nos tocam, assim, muito de pele, [00:34:22;14] [00:34:22;21] muito imediato aos sentidos. [00:34:25;18] [00:34:25;25] Talvez uma coisa se traduza na outra, [00:34:29;27] [00:34:30;08] talvez a identificação de que aquilo tem algo de humano [00:34:35;18] [00:34:35;27] seja o que nos faz estranhar no próprio trabalho. [00:34:39;28] [00:34:40;09] ? [00:34:42;21] [00:35:03;23] ? [00:35:06;06] [00:35:23;17] [Tunga] As matérias são palavras ou as palavras são matérias, [00:35:27;25] [00:35:28;05] quer dizer, eu procuro uma materialidade no pensar, [00:35:30;28] [00:35:31;06] uma materialidade da equivalência, [00:35:32;27] [00:35:33;06] do pensar com algo que seja palpável ou algo que seja perceptível. [00:35:37;29] [00:35:38;11] Eu acho que há aí uma conjunção com o modo de pensar na arte [00:35:43;01] [00:35:43;09] ou até o modo de pensar na alquimia de ver [00:35:46;14] [00:35:46;21] o mundo como um pensamento. [00:35:49;03] [00:35:57;18] É um tecelão, mas um tecelão de ideias, né, [00:35:59;28] [00:36:00;07] trabalhando, desde as narrativas ficcionais, [00:36:03;13] [00:36:03;22] desde a cabelereira, desde os imãs, do magnetismo, [00:36:09;22] [00:36:10;03] do Toro, da figura do Toro, desde o vidro, da transparência, [00:36:13;21] [00:36:14;00] desde os fluídos, visco plásticos com umas gelecas. [00:36:20;15] [00:36:20;22] Sinos, garrafas, esponjas... imã. [00:36:23;21] [00:36:24;27] Os imãs como a geleia, como os cosméticos, o batom, [00:36:30;09] [00:36:30;20] tudo isso na obra de Tunga entra, também são recorrentes [00:36:34;19] [00:36:35;00] e entram, é lindo isso nele, faz parte do truque mágico dele, [00:36:39;27] [00:36:40;18] eles entram para dar liga para essa quantidade estapafúrdia [00:36:46;06] [00:36:46;16] de objetos insólitos que um não tem nada a ver com outro. [00:36:49;17] [00:36:49;27] Quando ele encostava o sino numa curva de garrafa, [00:36:53;23] [00:36:54;08] encostava a curva de garrafa numa curva de taça, a curva de taça no não sei o que, [00:36:58;00] [00:36:58;11] ele estava querendo ali a sobra, o não visto, que era a linha. [00:37:03;05] [00:37:03;19] Que era a linha que a gente tinha a impressão de que existia entre uma coisa e outra, [00:37:08;28] [00:37:09;09] a impressão de que aquilo existe era a matéria do trabalho dele. [00:37:12;25] [00:37:13;08] Moldar o invisível. Isso que a gente chama de "invisível" [00:37:17;02] [00:37:17;14] é exatamente esse campo de forças que agitam todas essas formas da natureza [00:37:22;22] [00:37:23;03] e as formas da realidade humana, que são formas culturais. [00:37:25;24] [00:37:26;12] Ele falou: "que irresponsabilidade do artista habitar o sonho, [00:37:30;11] [00:37:30;21] habitar o sonho". Eu diria que o Tunga permanece no meu sonho [00:37:35;18] [00:37:35;28] porque tem essa potência de você descobrir [00:37:40;05] [00:37:40;12] que é possível, sim, moldar a realidade [00:37:44;16] [00:37:44;24] é que ela se molda a partir do invisível. [00:37:47;09] [00:37:47;16] E parece que a gente está esquecendo disso [00:37:49;14] [00:37:49;20] de um modo geral. [00:37:51;10] [00:37:56;15] ? [00:37:59;00] [00:38:05;26] [Tunga] O processo de fazer uma peça ou um texto, um filme, o que quer que seja, [00:38:09;26] [00:38:10;04] é sempre um processo de investigação profunda de tentar extrair [00:38:13;16] [00:38:13;26] e compreender as razões. Por que eu estou fazendo isso e não aquilo? [00:38:17;28] [00:38:18;06] E isso não aquilo? E isso não aquilo? [00:38:19;27] [00:38:20;05] Nesse momento é que eu me surpreendo, [00:38:22;03] [00:38:22;15] porque embora eu acredite saber o que eu fiz, a obra, [00:38:25;14] [00:38:25;22] no dia seguinte eu durmo, acordo, vou olhar [00:38:28;07] [00:38:28;15] e percebo que ela começa a me ensinar coisas. [00:38:30;26] [00:38:40;28] Num concerto, você não compõe o concerto inteiro de uma vez só. [00:38:44;04] [00:38:44;15] Você escreve uma linha ali que é para um instrumento, [00:38:49;08] [00:38:49;19] uma outra pra um quarteto, uma outra para não sei o que [00:38:52;24] [00:38:53;07] e as coisas vão se compondo e se juntando e esse conjunto forma um concerto. [00:38:57;02] [00:38:57;12] E ele próprio fala que a obra dele, [00:39:01;18] [00:39:01;26] a obra inteira é um como um concerto. [00:39:05;10] [00:39:05;17] Tudo que é produzido resignifica todo o resto [00:39:09;06] [00:39:09;15] e modifica a obra, que é a obra de uma vida. [00:39:13;00] [00:39:13;09] Quem tem poder não é o artista, é a obra de arte. [00:39:15;28] [00:39:16;05] O artista vai embora, a obra fica. [00:39:18;05] [00:39:18;13] Continua dando sentido, gerando sentido. [00:39:20;20] [00:39:21;02] Então, eu acho que a obra que você faz é que forma o público dela [00:39:25;02] [00:39:25;09] e que seduz o público dela, [00:39:28;13] [00:39:28;27] que passa a se interessar por aquilo, ter curiosidade, [00:39:31;24] [00:39:32;02] e através daquilo vai aprender alguma coisa. [00:39:34;22] [00:39:52;20] E ele ficava na casa dele fazendo essas equações, [00:39:55;15] [00:39:55;24] essas misturebas entre uma taça, um vidro, um desenho, [00:39:59;15] [00:39:59;23] um colar de pérolas, um pouco de gelatina. [00:40:02;18] [00:40:02;27] Uma borboleta que caiu morta em cima da obra dele. [00:40:05;22] [00:40:06;02] Então, ele fazia essas coisas todas e aquilo ali ficava com ele. [00:40:09;13] [00:40:09;20] Não era a obra, era dele. [00:40:11;26] [00:40:12;27] Tinha peças que ficavam com o Tunga dois anos, [00:40:15;11] [00:40:15;18] dois anos e meio, três anos. [00:40:17;19] [00:40:18;12] Às vezes eles mexiam uma coisa ou outra, [00:40:20;10] [00:40:20;17] mas algumas peças ele não mexia nada, [00:40:22;08] [00:40:22;17] mas ele não mostrava, porque a peça é uma espécie de cura, [00:40:25;17] [00:40:25;25] "cura" é um termo que a gente usa para gesso, [00:40:28;01] [00:40:28;11] para queijo e para qualquer outra enfermidade, né? [00:40:31;12] [00:40:33;29] Teve duas fases o Tunga, uma fase bem anterior mesmo [00:40:36;19] [00:40:36;28] lá na década de 70, que ele fazia as coisas com as próprias mãos [00:40:40;05] [00:40:40;14] na casa dele. Depois ele começou a encomendar serviços fora. [00:40:46;07] [00:40:46;19] Ele até vendeu esse peixe que ele pensava as coisas numa rede, [00:40:49;15] [00:40:49;25] ele trabalhava numa rede e os fornecedores faziam para ele. [00:40:54;11] [00:40:54;21] Dava muito problema tecnicamente, diariamente, [00:40:57;17] [00:40:57;24] dava muito problema. Quando eu entrei, aí, [00:41:01;01] [00:41:01;11] eu fui aproximar dele de novo as mãos dos materiais, [00:41:05;28] [00:41:06;08] ou seja, era alguém que ele estava vendo trabalhar. [00:41:09;21] [00:41:11;22] Chamava a casa dele de "pensatórium" e aqui de "laboratórium" [00:41:16;02] [00:41:16;14] e lá ele pensava e aqui a gente fazia o trabalho, esse laboro. [00:41:21;08] [00:41:37;26] É tudo o Tunga fazendo. [00:41:40;11] [00:41:40;24] Dessas peças é que fomos ampliando e foi brincando com essas possíveis curvas [00:41:46;15] [00:41:46;22] que se encontram uma nas outras [00:41:50;06] [00:41:50;13] e que têm a ver com esses desenhos dele. [00:41:53;06] [00:42:29;25] Essas peças são os nossos modelos dos crânios da peça [00:42:34;16] [00:42:34;25] que a gente expôs no Louvre. Eles sobreviveram [00:42:37;12] [00:42:37;24] porque são feitos de uma, dessas resinas bem fortes, [00:42:40;12] [00:42:40;20] mas o molde de silicone saiu dela, [00:42:43;00] [00:42:43;13] e daí foi para o fundidor, as peças que estão lá na obra são de bronze. [00:42:46;13] [00:42:50;03] "À la lumière des deux mondes" [00:42:51;24] [00:42:52;03] que era a que estava lá no Louvre, agora está em Inhotim. [00:42:55;08] [00:42:55;22] Então, a gente vê que é um crânio que está ampliado, [00:42:58;08] [00:42:58;17] acho que está ampliado, vamos ver, quatro vezes ampliado. [00:43:02;13] [00:43:10;23] Ah, bom, este aqui eu acho que é Sócrates. [00:43:14;11] [00:43:14;21] Talvez seja Sócrates. Isso é simplesmente incrível. [00:43:19;02] [00:43:37;10] ? [00:43:39;13] [00:43:43;22] A arte deve ser independente [00:43:45;27] [00:43:46;04] de momentos culturais ou de países. [00:43:49;02] [00:43:49;10] Em me preocupei em ter um vocabulário [00:43:52;01] [00:43:52;10] que pudesse ser entendido por qualquer cultura, [00:43:54;15] [00:43:54;23] que pudesse ter sido feito por qualquer um. [00:43:57;14] [00:43:57;21] Estamos na Era Contemporânea, [00:43:59;10] [00:43:59;21] mas podemos continuar lendo os poemas da antiguidade, [00:44:04;09] [00:44:04;16] porque o mistério continua lá. [00:44:07;01] [00:44:07;09] A estrutura política ainda é a mesma. [00:44:10;21] [00:44:14;20] A energia de conjunção pode ser, [00:44:16;29] [00:44:17;05] como é, tanto [00:44:18;19] [00:44:18;28] aquilo que constitui uma língua, uma linguagem, [00:44:21;27] [00:44:22;06] a gente fala porque a gente conjuga as coisas, [00:44:24;21] [00:44:24;28] conjuga o falar, ao conjugar sons [00:44:27;22] [00:44:28;02] a gente cria sentidos e a reincidência desses sentidos [00:44:31;23] [00:44:32;03] terminam se fixando e ao você conjugar uma reincidência dessa com outra [00:44:36;23] [00:44:37;02] você forma um sentido que não está nem em um nem em outro. [00:44:40;01] [00:44:40;09] Acho que o termo máximo da expressão [00:44:43;02] [00:44:43;20] dessa questão, da energia da conjunção é uma palavra só, [00:44:47;19] [00:44:47;25] chama-se: "amor". [00:44:50;06] [00:44:57;28] Tunga é uma figura ímpar, poderosíssima, [00:45:02;24] [00:45:03;23] porque o Tunga conseguiu se inserir totalmente no sistema da arte [00:45:08;14] [00:45:08;27] exatamente no momento que o sistema da arte passa também a ser cafetinado, [00:45:14;10] [00:45:15;01] sempre foi, mas prioritariamente cafetinado, [00:45:18;06] [00:45:18;16] ele consegue se inserir mantendo essa potência da arte [00:45:22;14] [00:45:22;21] que é participar dessa formação cultural. [00:45:27;20] [00:45:28;05] Porque essa germinação o que é? É criar novas formas da cultura [00:45:32;14] [00:45:32;23] que implica novos modos de existência, novos sentidos e etc. [00:45:36;18] [00:45:36;27] E o Tunga é o artista que conseguiu se inserir, [00:45:42;19] [00:45:42;27] como nenhum artista brasileiro, [00:45:44;23] [00:45:45;01] no sistema internacional da arte e no mercado [00:45:47;11] [00:45:47;19] mantendo completamente vivo e potente [00:45:52;13] [00:45:52;25] essa força política própria da arte que é participar [00:45:57;03] [00:45:57;13] desse processo permanente de germinação cultural [00:46:01;19] [00:46:01;26] toda vez que a vida assim o exige. [00:46:05;17] [00:46:05;25] Então, essa para mim é a força maior do Tunga [00:46:10;11] [00:46:10;21] e que faz dele um artista ímpar e muito poderoso. [00:46:15;15] [00:46:16;03] ? [00:46:18;19] [00:46:19;12] Olha, escrever é uma coisa que faz parte dos meus planos [00:46:22;05] [00:46:22;13] e faz parte do meu trabalho. [00:46:23;23] [00:46:24;00] É um livro de ficção, eu diria, [00:46:26;06] [00:46:26;13] mas é um livro de ficção pouco convencional. [00:46:29;11] [00:46:31;29] É imaginação num terço diante da ficção, [00:46:34;26] [00:46:35;07] ele solicita um espaço, solicitam objetos que às vezes não estão no real. [00:46:39;15] [00:46:39;23] Por isso eu os construo. Às vezes é o contrário, [00:46:42;25] [00:46:43;10] eu crio um objeto e o objeto parece que me solicita uma historinha para ele existir. [00:46:47;19] [00:46:48;00] E essa historinha então é criada em forma de texto. [00:46:51;24] [00:46:52;05] As narrativas podem produzir outras versões dos fatos, [00:46:56;01] [00:46:56;10] e o que mais me interessa na obra de arte [00:46:58;24] [00:46:59;05] é que ela siga produzindo outras versões da sua própria existência. [00:47:03;20] [00:47:13;18] [Sobe música] [00:47:15;12] [00:47:16;11] ? Day and night ? [00:47:19;22] [00:47:21;16] ? Night and the day ? [00:47:25;00] [00:47:27;11] ? Night and the day ? [00:47:30;26] [00:47:33;19] ? Day and night ? [00:47:37;03] [00:47:40;03] ? Night and the day ? [00:47:43;19] [00:47:45;18] ? Night and the day ? [00:47:49;16] [00:47:51;22] ? Day and night ? [00:47:55;14] [00:47:57;21] ? Night and the day ? [00:48:01;20] [00:48:04;02] ? Day and night ? [00:48:08;01] [00:48:10;09] ? Night and the day ? [00:48:13;00] [00:48:15;21] ? Night and the day ? [00:48:19;05] [00:48:21;26] ? Night and the day ? [00:48:25;20] [00:48:27;17] ? Night and the day ? [00:48:31;18] [00:48:33;27] ? Day and night ? [00:48:37;22] [00:48:38;06] ? Night and the day ? [00:48:42;15] [00:48:44;12] ? Day and night ? [00:48:47;02] [00:48:49;04] ? Night and the day ? [00:48:52;15] [00:48:54;29] ? Night and the day ? [00:48:58;19] [00:49:01;06] ? Day and night ? [00:49:05;02] [00:51:43;26] ? Caveira ? [00:51:46;01] [00:51:46;13] ? Tourada ? [00:51:48;23] [00:51:48;29] ? Na areia ? [00:51:51;09] [00:51:51;18] ? Cabeça jogada no mar ? [00:51:55;14] [00:51:58;22] ? Guerreiro ? [00:52:01;01] [00:52:01;07] ? Guerreiro ? [00:52:03;12] [00:52:03;18] ? De bronze ? [00:52:05;26] [00:52:06;06] ? Me cobre de ouro e de prata ? [00:52:10;05] [00:52:13;13] ? Cabelo ? [00:52:18;11] [00:52:22;05] ? Grudado no meu ? [00:52:27;24] [00:52:31;05] ? Cabelo ? [00:52:36;14] [00:52:40;13] ? Grudado no meu ? [00:52:46;17] [00:53:26;13] ? Cabelo ? [00:53:29;11] [00:53:29;17] ? Do poço ? [00:53:31;12] [00:53:31;18] ? No escuro ? [00:53:33;21] [00:53:34;01] ? Um brilho ilumina ? ? o seu rosto em mim ? [00:53:39;29] [00:53:42;27] ? Eu choro ? [00:53:45;10] [00:53:45;17] ? De amantes de água ? [00:53:49;23] [00:53:50;03] ? Estás na beira de um rio ? [00:53:54;08] [00:53:56;25] ? Pangeia ? [00:54:02;03] [00:54:05;18] ? Em todo lugar ? [00:54:11;19]