• Project: • Original Title: • Translated Title: MCC CEA 708 Closed Captions • Translator: No Author • Language: English • Subtitles: 384 • Words: 3633 • Comment: • Client: • Creation Date: 15. Aug. 2018 • Revision: • Revision Date: 15. Aug. 2018 • Media File: No Media • Format: 29.97 NTSC DF • Offset: 00:00:00:00 [00:00:24;24] ? [00:00:27;14] [00:03:14;24] Eu gosto de editar. Na verdade, [00:03:17;12] [00:03:17;19] desde que eu comecei a fotografar, [00:03:20;22] [00:03:21;01] acho que foi em 1970, eu fiz estilo de um filme [00:03:25;01] [00:03:25;08] do Arnaldo Jabor chamado "Pindorama", [00:03:28;14] [00:03:28;25] que diretor de fotografia era o Affonso Beato, que me chamou. [00:03:32;16] [00:03:32;28] Então, foi um aprendizado muito bom porque eu tinha que fazer isso, [00:03:36;08] [00:03:36;20] eu tinha que fazer da minha maneira, juntar os pedaços [00:03:39;29] [00:03:40;07] e projetar para as pessoas curtirem uma. [00:03:42;20] [00:03:42;29] Era uma época em que as pessoas olhavam, enfim, [00:03:46;01] [00:03:46;10] a projeção de filmagem era uma coisa, que dizer, [00:03:49;08] [00:03:49;15] era pessoal, era ligado, era despretensioso, [00:03:54;02] [00:03:54;14] não tinha uma questão: "Ah, vou fazer um trabalho porque isso daí vai..." [00:03:58;27] [00:03:59;04] Não existia isso, entendeu? [00:04:01;00] [00:04:45;14] A parte de fotografia começou junto com o cinema. [00:04:48;11] [00:04:48;21] Não houve, na verdade, um ensino [00:04:51;22] [00:04:52;00] a partir da fotografia. Foram os dois juntos. [00:04:55;11] [00:04:55;20] Quer dizer, a fotografia de cinema era uma coisa, [00:04:58;07] [00:04:58;18] eu gostava muito de cinema, enfim, eu via muito filme. [00:05:01;20] [00:05:01;29] E quando eu parei em 1968 de pintar, [00:05:04;26] [00:05:05;07] eu comecei a fazer fotografia de cinema, eu fiz UERJ durante três meses, [00:05:09;03] [00:05:09;11] a Escola Superior de Desenho Industrial do Rio, [00:05:11;20] [00:05:11;28] aí, foi quando conheci o Affonso Beato, [00:05:13;09] [00:05:13;18] que depois me chamou justamente para essa experiência. [00:05:15;21] [00:05:15;29] E aí, eu comecei a fazer fotografia direto. [00:05:18;05] [00:05:18;13] Tanto o estilo como cinema. [00:05:20;10] [00:05:21;08] [Repente] Para fazer parte do filme que acho espetacular [00:05:25;17] [00:05:25;26] Cada artista é um guerreiro da cultura popular [00:05:30;08] [00:05:31;09] ? [00:05:35;06] [00:05:44;02] [Sirene do bombeiro] [00:05:46;17] [00:05:58;29] [Trânsito] [00:06:00;22] [00:06:00;28] [Sirene da polícia] [00:06:05;10] [00:06:06;03] O cinema foi para mim a base de todo o processo da construção de livros, [00:06:11;13] [00:06:11;22] de construção de exposições, de instalações. [00:06:13;28] [00:06:14;08] Ele está sempre presente. São essas três coisas: [00:06:16;20] [00:06:16;27] a pintura, a fotografia e o cinema. [00:06:18;18] [00:06:18;26] Elas ficam juntas e fazem essa mistura [00:06:21;22] [00:06:21;28] que eu acabo fazendo. [00:06:23;20] [00:06:23;26] [Música africana] [00:06:27;01] [00:06:33;06] Esse lugar está bom. [00:06:35;04] [00:06:35;14] Tá bom, nada. Está "bravo". O negócio é ir embora. [00:06:37;28] [00:06:38;05] Liberdade! Liberdade! Liberdade! [00:06:40;28] [00:06:41;29] Liberdade! Liberdade! [00:06:44;15] [00:06:45;03] [Falas inaudíveis] [00:06:49;27] [00:06:57;28] [Falas inaudíveis] [00:07:02;03] [00:07:35;13] Dez meses! Des meses! Dez meses sem ir ao juiz! [00:07:38;26] [00:07:39;02] Dez meses! Dez meses! [00:07:43;22] [00:07:52;00] Fui condenado injustamente! Há oito anos! [00:07:55;04] [00:07:55;12] Sem nada! Sem informe, sem nada! Injustamente! [00:07:59;04] [00:07:59;14] Oito anos! Aí, de graça. Sem flagrante, sem nada! Nem pro 155 não caiu. [00:08:04;15] [00:08:04;25] E realmente para a sequência do cinema é fantástica, né? [00:08:07;23] [00:08:08;02] É o movimento, é o tempo, é você fazer uma... [00:08:12;12] [00:08:12;26] fazer um discurso sem ser todo picotado. [00:08:15;19] [00:08:16;01] Não que eu tenho alguma coisa contra um filme bem picotado, [00:08:18;08] [00:08:18;17] bem feito também é fantástico, entendeu? [00:08:20;20] [00:08:20;28] Mas o cinema dá essa possibilidade enorme de você [00:08:23;27] [00:08:24;08] contar alguma coisa ou mesmo de fazer uma proposta poética [00:08:27;08] [00:08:27;16] só juntando pedaços, é uma costura. [00:08:32;19] [00:09:16;26] Bom, a mesa de luz, praticamente, é o começo de... [00:09:20;21] [00:09:21;01] todo meu trabalho de edição sempre foi a partir da mesa de luz [00:09:27;01] [00:09:27;25] ou, enfim, dos contatos de uma época. [00:09:30;13] [00:09:30;22] Mas a mesa de luz, o slide começou sendo a matriz [00:09:34;04] [00:09:34;12] e eu construía sempre a partir disso. [00:09:36;26] [00:09:37;07] Então, a cada dia que eu venho aqui, eu entro numa viagem, [00:09:40;21] [00:09:40;29] essa viagem esses dias, quer dizer, eu recuperei [00:09:42;27] [00:09:43;09] essa imagem do Tunga, que era uma imagem antiga para colocar apenas como memória. [00:09:48;20] [00:09:52;20] O que acontece? É um quebra-cabeças que não tem fim. [00:09:57;02] [00:09:57;15] E, de repente, como é fotografia você entra nessa questões da memória que aqui, [00:10:01;26] [00:10:02;05] não por acaso, essa é uma imagem do Tunga, [00:10:05;16] [00:10:05;28] que eu procurei porque eu queria colocar essa imagem, [00:10:08;00] [00:10:08;09] eu sabia que eu tinha essa imagem e foi feita num trabalho [00:10:11;24] [00:10:12;02] que estava relacionado ao retrato dele, [00:10:16;00] [00:10:16;09] mas ao mesmo tempo teve umas imagens que eram embaixo de um jambo, [00:10:19;14] [00:10:19;26] de uma árvore de um jambo que virou uma imagem muito conhecida minha. [00:10:24;14] [00:10:25;26] E que também tem muito a ver com o Inhotim, que acho que foi o Tunga [00:10:28;12] [00:10:28;21] que deu as primeiras ideias de realmente [00:10:31;11] [00:10:31;21] começar a fazer uma coisa com arte contemporânea [00:10:34;00] [00:10:34;06] e mais dinâmica. [00:10:36;21] [00:11:02;21] Você não segurou, não? [00:11:04;22] [00:11:15;05] A questão da fotografia é que ela tem uma base que é um documento, uma memória, [00:11:20;10] [00:11:20;20] e ao mesmo tempo você recria, no meu caso [00:11:24;13] [00:11:24;20] eu saio desse documento e viro outra coisa. [00:11:27;20] [00:11:28;01] No caso o Tunga, não, porque o Tunga vai ser sempre o Tunga. [00:11:30;10] [00:11:30;20] Mas no caso disso aqui, isso aqui pode ser usado tanto numa [00:11:33;23] [00:11:34;03] questão de ilustração, coisa que eu não faço muito mais essa questão [00:11:39;14] [00:11:39;28] da ilustração de um tema, eu já faço uma questão que é uma criação poética [00:11:44;22] [00:11:44;28] em relação ao tema. [00:11:46;28] [00:11:48;02] A mesa de luz é uma viagem na minha linguagem. [00:11:51;08] [00:11:52;02] Isso aqui, por exemplo, que estou falando que é Santiago de Compostela, [00:11:54;21] [00:11:54;28] mas poderia não ser. Isso daqui, por exemplo, [00:11:56;18] [00:11:56;28] já não é Santiago de Compostela. é uma igreja em Londres. [00:12:00;10] [00:12:00;22] Mas não interessa mais, o que interessa é o que essas três imagens juntas [00:12:04;15] [00:12:04;22] elas vão querer dizer. Enfim. [00:12:09;21] [00:12:12;28] O caso oposto é Claudia Andujar, uma fotógrafa [00:12:16;10] [00:12:16;19] totalmente ligada a um tema, viveu aquele tema. [00:12:20;03] [00:12:20;15] A vida dela, a parte existencial dela foi viver e defender a questão dos Ianomâmi. [00:12:26;11] [00:12:26;23] Ou seja, a fotografia usada de uma maneira muito competente esteticamente, [00:12:31;05] [00:12:31;13] mas ter uma questão temática acima de tudo. [00:12:35;15] [00:12:39;29] No meu caso, os Caiapós, eu acabei chegando lá [00:12:42;29] [00:12:43;09] porque eu já tinha tentado várias tribos indígenas, [00:12:45;02] [00:12:45;14] nunca consegui nenhuma. Era meio colocado para fora e essa daí, [00:12:49;26] [00:12:50;10] eu consegui chegar num lugar onde estavam preparando uma série de festas, então, [00:12:55;10] [00:12:55;20] era uma tribo totalmente diferente, por exemplo, dos Ianomâmis. [00:12:59;05] [00:12:59;12] [? Canto indígena ?] [00:13:02;22] [00:13:55;20] Eu acho que tenho conceitos, mas não preciso me considerar um artista conceitual, [00:13:59;05] [00:13:59;17] porque daí eu teria de explicar tudo antes de ter um visual, entendeu? [00:14:02;12] [00:14:02;25] Então, é óbvio que tem um conceito atrás, de estar sempre com conceitos, [00:14:05;19] [00:14:06;01] mas eu não quero que esses conceitos fiquem na frente do visual, entendeu? [00:14:09;04] [00:14:09;17] Porque eu acho que é importante também que as pessoas sintam de uma forma emocional, [00:14:12;19] [00:14:13;00] que não sejam levados só por uma questão racional, entendeu? [00:14:17;08] [00:14:17;18] Porque senão a arte pode ficar muito chata, entendeu? [00:14:19;23] [00:14:20;04] Se você fica só no conceitual, eu acho que fica chato mesmo. [00:14:23;17] [00:14:24;03] Eu acho que tem que ter essa conjunção. [00:14:25;25] [00:14:26;07] É como o cinema, se você tem um filme que é só conceitual, [00:14:29;04] [00:14:29;13] você sai depois ou dorme, entendeu? [00:14:31;22] [00:14:32;02] Você tem que poder ter os ritmos. Eu acho que isso, [00:14:35;17] [00:14:35;23] na arte em geral é isso. [00:14:37;22] [00:14:38;03] Você tem uma conjunção de conhecimentos que vão fazer [00:14:43;06] [00:14:43;16] com que aquilo funcione como um todo, não vai ter aquela coisa: [00:14:47;14] [00:14:47;21] "meu conceito é esse". Conceito é uma... [00:14:51;24] [00:14:52;05] qualquer publicitário tem conceito o tempo todo, entendeu? [00:14:54;09] [00:14:56;03] O meu trabalho vai sempre entre o audiovisual, um livro [00:14:59;03] [00:14:59;13] e uma exposição, essas coisas sempre um puxa o outro, [00:15:02;13] [00:15:02;22] às vezes, é uma instalação que puxa um livro, [00:15:04;20] [00:15:04;29] outras vezes é um livro que puxa uma instalação. [00:15:08;09] [00:15:23;03] "Ah, mas ele é fotógrafo." "Não, mas ele tá ligado ao..." [00:15:25;26] [00:15:26;09] Ah, mas ele é pintor." Então, as pessoas não têm aquela coisa de chegar, [00:15:31;14] [00:15:31;26] que o curador, que o galerista vai chegar para o comprador, entendeu, [00:15:35;05] [00:15:35;13] e vai explicar: "Não, o fulano é isso." [00:15:37;28] [00:15:38;08] Só que eu acho que ninguém exatamente é só isso. Eu muito menos. [00:15:41;16] [00:15:42;18] [Homem narrando] A violência continua marcando o Rio. [00:15:44;24] [00:15:45;07] Na noite de ontem até agora foram encontrados [00:15:47;28] [00:15:48;08] em diferentes pontos dos bairros da zona norte [00:15:51;06] [00:15:51;13] nada menos que 74 cadáveres! [00:15:54;26] [00:15:55;06] Durante o dia que passou foram registrados [00:15:57;21] [00:15:58;01] oito assaltos a agências de banco. E atenção! Atenção! [00:16:02;25] [00:16:03;05] Está começando nesse momento mais uma blitz policial [00:16:06;03] [00:16:06;11] com homens da Polinter e da TV Norte! [00:16:09;07] [00:16:09;17] [Homem cantando samba] [00:16:13;25] [00:16:32;02] [Sirene de polícia] [00:16:35;02] [00:17:07;28] ? [00:17:10;13] [00:17:19;26] ? [00:17:23;08] [00:17:42;04] ? [00:17:45;24] [00:17:55;29] [Carro] [00:18:00;03] [00:18:33;04] [Pássaros ao fundo] [00:18:36;29] [00:18:38;29] ? [00:18:42;02] [00:19:18;24] ? [00:19:22;02] [00:19:51;14] [Miguel Rio Branco] Eu morar na cidade não é uma coisa que ligou muito não, sabe. [00:19:56;17] [00:19:58;02] A cidade, continuamente, eu acho ela uma coisa opressiva. [00:20:02;29] [00:20:05;17] Aqui, eu acho que o silêncio é uma coisa bem legal. [00:20:10;01] [00:20:10;10] Se você mora na cidade, você não tem silêncio. [00:20:13;13] [00:20:36;07] Esse projeto todo de Inhotim é uma coisa muito única. [00:20:39;10] [00:20:39;22] Eu fiquei sempre seduzido por essa questão da natureza, [00:20:42;03] [00:20:42;09] sobretudo, no Brasil. [00:20:43;23] [00:20:45;19] E a ideia de você ter um lugar que você fique afastado da cidade, [00:20:47;26] [00:20:48;06] mas que você consiga ter contato com a cidade, entendeu, [00:20:50;29] [00:20:51;08] é bem interessante. Porque, sei lá, eu acho mais equilibrado. [00:20:55;27] [00:20:57;08] E com o tempo passando, eu fui cada vez mais achando isso interessante. [00:21:02;21] [00:21:03;01] Quando eu conheci o Bernardo e o projeto do Bernardo, [00:21:06;06] [00:21:06;16] encaixava incrivelmente no tipo de coisa que eu acho perfeito, né? [00:21:10;06] [00:21:10;24] Que é você ter realmente um lugar, assim, [00:21:15;09] [00:21:15;20] de certa forma protegido, com a natureza preservada, [00:21:19;05] [00:21:19;15] e você dano todo um conhecimento cultural, educacional, [00:21:26;07] [00:21:26;19] eu acho que a educação tem que ser cada vez uma coisa mais forte, [00:21:30;16] [00:21:30;23] poderia se conectar com alguma universidade. [00:21:33;15] [00:21:34;03] E fazer, sei lá, o que em vários países do mundo você tem, [00:21:37;12] [00:21:37;20] você tem na Suíça, nos Estados Unidos, [00:21:39;10] [00:21:39;22] lugares que são fora do centro, onde as pessoas aprendem, estudam, [00:21:42;14] [00:21:42;25] elas têm uma noção do que pode ser uma sociedade melhor. [00:21:46;02] [00:21:46;11] E aqui a gente não está tendo isso de jeito nenhum, [00:21:48;15] [00:21:48;22] as nossas cidades estão liquidadas. [00:21:51;21] [00:21:51;29] Não que as outras sejam muito melhores. [00:21:54;01] [00:21:54;09] Então, para mim, é um grande projeto. [00:21:58;05] [00:21:59;03] E espero que ele consiga, justamente, manter aquilo e que dê filhotes. [00:22:04;22] [00:22:17;07] ? [00:22:19;22] [00:22:57;05] ? [00:22:59;17] [00:23:46;22] ? [00:23:49;14] [00:25:38;19] Construir é escrever com imagens. É um pouco isso, sim. [00:25:42;14] [00:25:49;08] Lá no pavilhão de Inhotim tem isso, você não tem a fotografia, fotografia quase. [00:25:54;14] [00:25:54;22] Você tem sempre as construções feitas com fotografia. [00:25:58;09] [00:25:58;17] Desde a instalação do Amaú, por exemplo, [00:26:02;05] [00:26:02;15] até a parte do filme das prostitutas que, na verdade, [00:26:07;19] [00:26:07;28] é mais importante que as próprias fotografias das prostitutas [00:26:09;25] [00:26:10;04] do Pelourinho que estão na parte de baixo, né? [00:26:13;00] [00:26:17;13] ? [00:26:20;04] [00:26:51;24] ? [00:26:55;10] [00:29:37;28] "Blue tango" é justamente essa questão cinemática, [00:29:40;23] [00:29:41;02] mas tem uma questão gráfica muito forte, né, [00:29:43;20] [00:29:43;29] você vê que é umas silhuetas, aquilo pode ser [00:29:46;23] [00:29:47;04] quase um desenho de tinta sobre um fundo azulado, entendeu? [00:29:51;08] [00:29:51;21] Se você tira os óculos, fica uma coisa bem interessante, [00:29:55;26] [00:29:56;03] porque você não fica na realidade, [00:29:59;05] [00:29:59;13] ali você já tem uma quebra da realidade, [00:30:01;02] [00:30:01;13] na verdade, o "Blue tango" já tem uma quebra grande da realidade. [00:30:04;09] [00:30:04;16] Você vê mesmo o movimento, [00:30:06;11] [00:30:06;19] você não vê os meninos, você não sente ali [00:30:10;09] [00:30:10;16] os meninos de rua jogando capoeira. [00:30:12;04] [00:30:12;13] Já é outra coisa. Já houve uma transformação. [00:30:14;18] [00:31:38;09] [? Música de berimbau ?] [00:31:41;27] [00:32:10;05] [? Música de berimbau ?] [00:32:14;11] [00:32:36;18] O que eu fazia lá para as pessoas, [00:32:38;24] [00:32:39;06] quer dizer, para ter alguma troca e as pessoas me aceitarem um pouco, [00:32:42;01] [00:32:42;10] era que eu levava monóculos, as pessoas me pediam [00:32:45;12] [00:32:45;21] para fazer retrato da família, pediam de fulano, [00:32:47;28] [00:32:48;10] eu fazia, na semana seguinte vinha a São Paulo revelar, [00:32:51;12] [00:32:51;24] levava num monóculo, e eu vinha com um saquinho de monóculos, entendeu? [00:32:56;06] [00:32:57;01] Então, esse material das famílias mesmo sobrou pouca coisa, [00:33:00;02] [00:33:00;08] mas eram retratos tradicionais, [00:33:02;14] [00:33:02;23] mas, assim, tinha aquela força daquelas pessoas. [00:33:06;25] [00:33:07;07] Eu fotografei durante seis meses, [00:33:09;12] [00:33:09;20] vindo mais ou menos uma, duas vezes por semana, [00:33:12;13] [00:33:12;24] mas eu filmei durante três dias. A parte de filmagem, mesmo, [00:33:16;18] [00:33:16;26] filmado em 16mm e demorou três dias. [00:33:19;11] [00:33:19;19] Mas, obviamente, as pessoas já me conheciam, [00:33:22;18] [00:33:22;26] sabiam quem eu era, tinha tido uma troca. [00:33:25;27] [00:33:26;07] E o filme nunca foi mostrado em Salvador, mesmo, [00:33:28;28] [00:33:29;10] alguma das meninas me pediram para não mostrar o filme ali. [00:33:33;17] [00:33:57;01] [Falas inaudíveis] [00:33:59;07] [00:34:05;25] [? Começa música reggae ?] [00:34:11;11] [00:35:22;26] ? [00:35:24;28] [00:35:46;05] ? [00:35:49;11] [00:36:09;16] Essa mesa é o... [00:36:11;13] [00:36:12;03] É o lugar que a mim me parece interessante [00:36:14;08] [00:36:14;18] é você ter um... eu não consigo fazer isso direito no digital. [00:36:19;10] [00:36:19;20] Acaba que tem que ter a matéria. [00:36:22;14] [00:36:25;09] Você pega as coisas e vai colocando, [00:36:27;05] [00:36:27;13] então, você tem junções que você faz [00:36:29;11] [00:36:29;23] que no digital você não faz da mesma forma, entendeu? [00:36:32;20] [00:36:36;19] Eu acho que existe a materialidade do objeto, [00:36:38;24] [00:36:39;05] mas no trabalho existe uma busca até por uma certa espiritualidade, entendeu? [00:36:43;17] [00:36:50;20] Aqui não tem nada posado, na verdade. [00:36:53;20] [00:36:53;26] Isso aqui foi em Madri. [00:36:56;00] [00:36:57;11] Havana. [00:36:58;27] [00:37:00;11] Nova York anos 1970, no Bauer. [00:37:03;11] [00:37:06;09] Isso aqui é Lima, no Peru. [00:37:08;13] [00:37:12;06] México, 1985. [00:37:14;21] [00:37:21;10] Faço uma maquete pequena que fica mais ou menos, [00:37:23;20] [00:37:23;28] maquete, às vezes, ficam assim. [00:37:25;21] [00:37:30;04] Agora, aqui dentro tem vários projetos de livros ainda. [00:37:33;26] [00:37:35;03] Porque praticamente como a maior parte do meu trabalho fotográfico [00:37:37;25] [00:37:38;02] sempre foi um trabalho muito escolhido. [00:37:41;26] [00:37:42;04] Você vai numa coisa que é feita, [00:37:45;00] [00:37:45;11] você acaba sempre fazendo as suas próprias imagens. [00:37:48;20] [00:37:50;04] Mesmo quando não é uma coisa encomendada. [00:37:53;19] [00:37:59;07] E acaba que os próprios livros viram os objetos, né? [00:38:02;17] [00:38:02;24] As maquetes. Como essa daqui por exemplo. [00:38:05;18] [00:38:05;24] Já é uma maquete... [00:38:08;13] [00:38:10;28] Cadê o livro? [00:38:12;07] [00:38:12;13] [Mulher] Está aqui. [00:38:13;24] [00:38:14;02] É, o livro final acabou ficando isso daqui. [00:38:16;27] [00:38:17;07] O tamanho ficou um pouco diferente. A capa mudou. [00:38:20;20] [00:38:23;10] Um foto-livro, o que ele é? [00:38:24;29] [00:38:25;07] Você tem um sequenciamento, uma construção, [00:38:31;18] [00:38:31;26] você diz alguma coisa. As páginas não são individuais, entendeu? [00:38:36;03] [00:38:36;11] A questão é essa, das páginas não serem realmente individuais. [00:38:39;10] [00:38:39;18] Isso vem do cinema. Não vem... [00:38:42;19] [00:38:42;29] os livros de fotografia antigamente, a maior parte deles [00:38:45;24] [00:38:46;05] eram feitos quase como catálogos, onde você tinha imagem: [00:38:49;22] [00:38:50;03] "Essas daqui são as minhas melhores fotos". Aí você faz as melhores fotos. [00:38:52;29] [00:38:53;09] O único livro meu que cai um pouco nesse negócio, [00:38:56;13] [00:38:56;23] que foi um livro onde um editor teve uma presença maior [00:38:59;00] [00:38:59;12] foi o da "Aperture", que é pior, que, para mim, é o pior livro, é mais catálogo. [00:39:03;10] [00:39:03;20] Então, a questão do catálogo não me interessa, [00:39:05;25] [00:39:06;05] o que me interessa é que tenha uma construção, que tenha um ritmo, [00:39:09;27] [00:39:10;10] que as peças não sejam... você vai ter imagens melhores, mas vai ter um todo. [00:39:16;00] [00:39:16;08] O todo é que vai funcionar. [00:39:18;01] [00:39:44;22] Na poesia, você tem uma narrativa, você não tem uma história. [00:39:48;04] [00:39:48;14] Então é isso, é muito mais conectado com uma questão poética, [00:39:51;09] [00:39:51;16] eu não estou fazendo história em quadrinhos, [00:39:53;12] [00:39:53;22] se bem que as histórias em quadrinhos é uma das minhas influências [00:39:56;11] [00:39:56;20] de começo da pintura, entendeu? Mas o legal é que [00:40:01;11] [00:40:01;20] fica uma coisa que não texto, eu não coloco texto. [00:40:05;03] [00:40:05;13] Essas coisas têm que ser visuais. [00:40:08;08] [00:40:08;24] Então, eu tenho um pouco essa nostalgia de não ser músico talvez, [00:40:11;24] [00:40:12;08] de você querer criar ritmos. E nos audiovisuais você tem muito isso nas instalações. [00:40:17;22] [00:40:20;10] Porque senão você vai escrever um livro, [00:40:22;12] [00:40:22;21] entra em outras questões, entendeu? [00:40:24;26] [00:40:25;06] Sem as artes plásticas, se não meu olho não está sendo satisfeito, [00:40:28;12] [00:40:28;20] eu preciso de satisfazer o meu olho, não é? [00:40:31;20] [00:40:32;11] ? [00:40:35;01] [00:41:37;13] [Índios cantam] [00:41:40;29] [00:42:09;03] Foram imagens feitas em San Diego e Tijuana. [00:42:13;10] [00:42:13;18] Então, a ideia minha era fazer um trabalho [00:42:17;12] [00:42:17;22] entre áreas desérticas e um deserto entre a comunicação das pessoas. [00:42:21;09] [00:42:21;19] Basicamente a ideia era muito simples, era uma ideia dessa. [00:42:23;28] [00:42:24;07] Não era falar... a questão é que as pessoas [00:42:26;27] [00:42:27;05] não se comunicam entre as raças. [00:42:30;03] [00:42:30;15] Muita gente interpretou como sendo um trabalho... isso lá, né? [00:42:34;16] [00:42:34;26] quando passou lá sobre a imigração. Não tinha nada ver com isso. [00:42:38;06] [00:42:38;20] Simplesmente é uma metáfora sobre um... [00:42:43;08] [00:42:43;19] essa coisa que o homem tem, que primeiro você tem o olhar, [00:42:47;10] [00:42:47;18] mas o olhar não quer dizer nada. [00:42:49;08] [00:42:49;20] Você olha para uma pessoa, você acha que está se sentindo muita coisa, [00:42:51;20] [00:42:52;05] mas ele pode ser meio vazio. Então, eu fotografei tudo entre San Diego e Tijuana. [00:42:58;14] [00:42:58;23] E os tubarões entraram no meio como uma certa coisa, [00:43:02;22] [00:43:03;01] tubarão é sempre uma coisa meio ameaçadora, [00:43:04;23] [00:43:05;01] não é um peixinho ou um pet exatamente. [00:43:08;17] [00:43:08;25] Você sempre vê como uma coisa mais... [00:43:12;06] [00:43:12;15] então, tem várias peças que saíram dos tubarões. [00:43:15;06] [00:43:15;17] Polípticos que foram também mostrados lá fora, enfim, [00:43:19;17] [00:43:19;25] e o "Tubarão de Seda" para mim era uma maneira [00:43:22;07] [00:43:22;15] de ter essa coisa quase como água. [00:43:26;13] [00:43:32;09] Caiapó aconteceu porque eu acabei chegando num lugar de garimpo, [00:43:35;23] [00:43:36;02] e eu sabia que tinha essa tribo dos Gorotiri perto. [00:43:39;09] [00:43:42;29] O importante é que eu ainda estava ligado na questão do documental na fotografia, [00:43:46;04] [00:43:46;19] eu estava fazendo um trabalho que acabou sendo publicado pela National Geographic, [00:43:50;15] [00:43:51;00] mas ao mesmo tempo eu estava me tocando que o meu caminho não era esse da documentação [00:43:55;15] [00:43:55;23] e sim da interpretação poética de uma questão [00:43:58;14] [00:43:58;24] de você realmente fazer uma criação visual ou audiovisual, sobretudo, [00:44:03;05] [00:44:03;12] em geral, e que fosse além do tema. [00:44:07;21] [00:44:08;26] E hoje em dia eu continuo mexendo isso, [00:44:11;03] [00:44:11;10] já se passaram muitos anos. [00:44:13;23] [00:44:16;19] Então, no trabalho dos caiapós, em 1983 mesmo [00:44:19;29] [00:44:20;07] eu já consegui desconstruir isso [00:44:21;29] [00:44:22;09] com o diálogo com o Amaú. Amaú é um índio surdo-mudo caiapó. [00:44:28;06] [00:44:28;17] Para uma sociedade onde o caiapó é uma sociedade de som, [00:44:32;17] [00:44:32;25] que não é uma sociedade de escrita, [00:44:35;03] [00:44:35;11] é uma sociedade de som, tudo é verbal, [00:44:37;26] [00:44:38;04] mais uma vez ele é também um marginal. [00:44:40;11] [00:44:40;21] Ele é um marginal dentro... mas não é um marginal totalmente afastado, [00:44:44;02] [00:44:44;14] mas ele não é parte da tribo, apesar de ser parte da tribo. [00:44:48;25] [00:44:49;03] Então, para mim, era uma espécie de um joker. [00:44:52;03] [00:44:52;11] Quando eu usei naquele trabalho, o "Diálogos com Amaú", [00:44:56;04] [00:44:56;17] ele era uma espécie de cara que ficava brincando com a realidade, entendeu? [00:45:00;14] [00:45:00;24] [Cantos indígenas] [00:45:04;16] [00:45:12;16] [Cantos indígenas] [00:45:15;05] [00:47:07;19] Essa história do labirinto começou com uma proposta do Bernardo [00:47:12;21] [00:47:13;01] de uma fazer um projeto de labirinto pra Inhotim. [00:47:16;28] [00:47:17;06] Isso foi antes de ter o pavilhão, [00:47:20;03] [00:47:20;12] ele já tinha trabalhos meus, enfim. [00:47:22;20] [00:47:23;10] E eu achei a ideia ótima. Quer dizer, toda essa... [00:47:26;07] [00:47:26;24] todo aquele projeto de Inhotim, essa conexão de arte com natureza, [00:47:31;10] [00:47:31;22] aí eu comecei a pedir a ele para mandar algumas pedras para cá, não é? [00:47:37;05] [00:47:38;04] Para poder ter uma noção de espaço, de tamanho, de escala. [00:47:45;04] [00:47:47;22] Então, ele me mandou uma série de pedras que eu fui plantando aqui. [00:47:52;08] [00:47:57;19] Então, ficou um projeto bem interessante, [00:48:00;25] [00:48:01;05] que acabou não sendo feito porque era um projeto bem grande, [00:48:04;28] [00:48:05;08] eram dois andares, era uma coisa bem mais complexa. [00:48:08;26] [00:48:11;02] Mas me deu muita vontade, foi o que continuei, [00:48:13;16] [00:48:13;24] trabalhando hoje em dia com essa mistura [00:48:16;09] [00:48:17;10] de natureza, pedras, fotografia começou a virar um coadjuvante. [00:48:22;09] [00:48:26;24] Aí você dá muito mais espaço para uma coisa vivida do que uma coisa feita, [00:48:31;19] [00:48:31;29] digamos, para um sistema de arte ou um mercado de arte. [00:48:36;09] [00:48:36;18] A arte começa a virar uma coisa ligada à sua vida. [00:48:40;01] [00:48:41;13] E além do que que essa questão das árvores, [00:48:43;26] [00:48:44;03] ela te traz uma tranquilidade [00:48:47;08] [00:48:47;20] que normalmente eu não tinha muito no resto do meu trabalho. [00:48:51;12] [00:49:02;19] Tem sempre uma conexão com o seu ser, não é? [00:49:05;00] [00:49:17;16] Aquele projeto do MAM começou aqui. [00:49:20;23] [00:49:21;04] Aqueles tubos de televisão, eles foram daqui para lá. [00:49:26;08] [00:49:43;25] Eles vieram, justamente, eles saíram daqui para lá. [00:49:45;26] [00:49:46;08] Isso foi um esboço daquela instalação de São Paulo, o "Wishful Thinking". [00:49:50;13] [00:49:53;27] E é um pouco isso. São os restos. [00:49:55;21] [00:49:56;03] Quer dizer, a vontade que eu tenho é de ver essa civilização massacrante [00:50:00;21] [00:50:01;02] que a gente tem, ela meio que abaixar a bola, entendeu? [00:50:04;23] [00:50:21;19] A minha ideia era que se você tivesse ruínas de uma civilização [00:50:24;24] [00:50:25;01] que já fosse invadida pela floresta, [00:50:27;10] [00:50:27;21] que é uma coisa muito fácil de acontecer nos trópicos, [00:50:30;22] [00:50:31;03] mais rápido nos trópicos do que em qualquer outro lugar. [00:50:33;23] [00:50:47;23] A fotografia começa a entrar em outro, [00:50:50;07] [00:50:50;18] ela vai entrando cada vez mais numa coisa mais sutil. [00:50:52;20] [00:50:52;27] Quer dizer, como na instalação de São Paulo, [00:50:55;04] [00:50:55;14] que ela entra em alguns vídeos quebrados, outros estão funcionando. [00:50:58;17] [00:50:58;27] Então, você tem a imagem fotográfica já lá no fundo, [00:51:02;04] [00:51:02;15] não tem aquele preciosismo formal da fotografia em si. [00:51:07;01] [00:51:07;15] Ela fica só na ideia dela mesmo, né? [00:51:11;18] [00:51:24;26] Aqui se chama "Wishful Thinking" porque é um desejo que eu vejo [00:51:27;25] [00:51:28;03] que a civilização chegou a um ponto que só mesmo [00:51:30;10] [00:51:30;22] ela de certa forma acabando para ela começar outra história. Entendeu? [00:51:34;08] [00:51:34;16] Porque a gente está em um beco sem saída. [00:51:36;22] [00:51:37;02] Não é só aqui no Brasil, mas a gente está num beco sem saída no geral. [00:51:40;12] [00:51:40;24] Quer dizer, tem que renascer. O ser humano [00:51:44;10] [00:51:44;18] tem que repensar muito a maneira de viver. [00:51:47;15] [00:52:02;11] E hoje em dia o que eu acho que está me interessando, [00:52:04;21] [00:52:05;02] assim como aquela instalação que estava lá em São Paulo, [00:52:07;08] [00:52:07;17] é essa mistura mesmo de natureza, de volumes, pedras, objetos, [00:52:12;06] [00:52:12;15] e tecnologia, fotografia também, mas de outra forma. [00:52:17;06] [00:52:17;15] No caso da instalação do MAM, entrava no vídeo, [00:52:21;07] [00:52:21;17] como se fossem coisas jogadas fora. Com o resto de civilização. [00:52:25;18] [00:52:28;08] Eu tenho a impressão de que o que a gente precisa mesmo não é tanto arte, [00:52:32;08] [00:52:32;16] é uma coisa mais ligada à vida, e é mais ligada [00:52:34;19] [00:52:34;27] à natureza e à nossa sobrevivência. [00:52:38;14] [00:52:39;20] E isso em Inhotim acho que se faz muito bem. [00:52:43;17] [00:53:06;23] ? [00:53:08;13]