• Project: • Original Title: • Translated Title: MCC CEA 708 Closed Captions • Translator: No Author • Language: English • Subtitles: 489 • Words: 4109 • Comment: • Client: • Creation Date: 15. Aug. 2018 • Revision: • Revision Date: 15. Aug. 2018 • Media File: No Media • Format: 29.97 NTSC DF • Offset: 00:00:00:00 [00:00:24;24] ? [00:00:27;29] [00:01:32;17] Eu sinto que tudo que leio [00:01:34;22] [00:01:35;02] aparece... digamos, tudo o que eu leio e me impressiona [00:01:39;00] [00:01:39;10] aparece no meu trabalho algo que não consigo decifrar exatamente [00:01:42;23] [00:01:43;00] a qual produto literário me refiro. [00:01:45;03] [00:01:45;11] Mas sem dúvida, tanto em Borges como em Cortázar [00:01:49;00] [00:01:49;08] há algo relacionado ao fantástico [00:01:52;13] [00:01:52;20] e sobretudo com o paradoxo. [00:01:55;09] [00:01:55;20] Em Borges existe muito paradoxo, vemos essa imagem do oximoro [00:01:59;16] [00:01:59;23] desse conceito que se anula a si mesmo. [00:02:03;09] [00:02:07;16] São estratégias literárias [00:02:10;13] [00:02:10;23] que de repente percebo que aparecem no meu trabalho [00:02:14;10] [00:02:14;20] e aparecem não como uma ilustração dessas estratégias, [00:02:17;24] [00:02:18;02] mas simplesmente como uma espécie de absorção dessas estratégias. [00:02:22;18] [00:02:50;08] O fato de transformar uma aquarela em uma obra para o espaço público [00:02:55;05] [00:02:55;12] é uma proposta de Rodrigo Moura. [00:02:59;06] [00:02:59;16] Ele me disse: [00:03:01;09] [00:03:01;19] "Qual dessas aquarelas parece possível para fazer um espaço real?" [00:03:06;21] [00:03:07;15] E eu tinha problema com isso [00:03:09;03] [00:03:09;13] porque sempre que pensei em transformar essas imagens [00:03:12;13] [00:03:12;23] em esculturas ou objetos nunca fiquei muito satisfeito. [00:03:16;17] [00:03:16;27] Então para mim, era uma situação um pouco delicada. [00:03:21;26] [00:03:23;08] Mas, depois de analisar muito [00:03:25;18] [00:03:25;28] concluí que a piscina era o adequado. [00:03:29;17] [00:03:47;23] ? [00:03:50;10] [00:03:57;29] Isso eu fico curioso também para pensar, [00:04:01;19] [00:04:02;01] como as pessoas vão relacionar, assim, [00:04:04;16] [00:04:04;24] se ela vai ser um destino mesmo, [00:04:06;14] [00:04:06;22] no sentido das pessoas virem... [00:04:08;13] [00:04:08;21] Isso é um pouco difícil de prever. [00:04:09;23] [00:04:10;01] É e passar o dia assim... [00:04:12;12] [00:04:12;20] Parece que isso poderá se realizar [00:04:15;08] [00:04:15;16] porque para mim tem uma equipe muito [00:04:18;07] [00:04:18;15] [Homem ao fundo] Com certeza. [00:04:19;15] [00:04:19;22] Muito importante fazendo, certo? [00:04:21;10] [00:04:21;17] [Homem ao fundo] Sem dúvida. [00:04:22;09] [00:04:22;15] Muito eficaz. [00:04:23;26] [00:04:24;07] Temo que isso me parece que é quase tão importante como a imagem. [00:04:29;03] [00:04:29;10] Claro, é o que você está falando, [00:04:31;18] [00:04:31;26] no desenho, essa potência não está clara, né. [00:04:37;09] [00:04:37;15] Não. [00:04:38;09] [00:04:38;17] O que dá essa espessura, esse peso, [00:04:41;00] [00:04:41;08] é realmente a pesquisa, técnica, [00:04:43;24] [00:04:44;03] o pensamento mesmo de como traduzir isso. [00:04:48;01] [00:04:49;24] Enquanto aquele espectador na aquarela está totalmente fora [00:04:52;20] [00:04:53;00] no espaço em Inhotim com a piscina [00:04:56;03] [00:04:56;12] o espectador começa a fazer parte dessa obra. [00:04:59;13] [00:04:59;25] E começa a ter um sentido que é muito difícil de codificar. [00:05:06;00] [00:05:06;10] Que é a pessoa estar caminhando dentro de um diretório, [00:05:09;15] [00:05:09;24] de um lugar que é uma listagem de gente, de pessoas. [00:05:14;06] [00:05:17;12] [Crianças gritando] [00:05:20;24] [00:06:04;09] Bem, precisávamos de um lugar livre, que não tivesse muita árvore ao redor [00:06:10;19] [00:06:10;29] e não foi muito difícil porque acredito que na primeira [00:06:14;23] [00:06:15;01] ou na segunda reunião apareceu este lugar [00:06:17;15] [00:06:17;22] e ficou claro que deveria ser ali. [00:06:20;22] [00:06:21;03] E também estava no caminho, havia outras obras perto. [00:06:25;27] [00:06:26;04] E estava o... [00:06:28;09] [00:06:28;15] como se chama? [00:06:29;14] [00:06:29;21] A obra de Chris Burden com as... [00:06:34;01] [00:06:34;13] Beam Drop. [00:06:35;29] [00:06:37;18] E essa é uma obra que eu admiro [00:06:39;21] [00:06:39;29] então estar perto dessa obra é fantástico. [00:06:42;28] [00:06:43;05] Não há como eu sair daqui. [00:06:44;25] [00:07:42;25] Magritte foi uma presença muito forte durante toda a minha adolescência. [00:07:47;17] [00:07:48;02] Eu tinha um tipo de adoração por Magritte. [00:07:52;01] [00:07:54;02] Mas é uma presença que está disponível [00:07:57;11] [00:07:58;08] em determinadas leituras de contos de Paul [00:08:03;24] [00:08:04;05] ou em minhas primeiras leituras de Borges ou também em Cortázar. [00:08:09;07] [00:08:09;25] Existe um nexo entre estas expressões. [00:08:14;18] [00:08:15;13] E talvez um deles pode ser o fantástico. [00:08:19;16] [00:08:19;27] O que está um pouco paralelo à realidade cotidiana. [00:08:24;12] [00:08:25;03] E bem, Magritte obviamente colocava isso em imagens. [00:08:29;06] [00:08:32;06] Determinadas imagens de quadros de Magritte que vejo agora [00:08:37;20] [00:08:38;00] e os sinto tão relacionados a algumas obras minhas [00:08:40;28] [00:08:41;09] que me chama muito a atenção, e parecia que nesta época [00:08:44;00] [00:08:44;09] essas imagens me ficaram muito gravadas. [00:08:46;23] [00:08:47;03] Há uma obra, não me lembro agora o nome [00:08:50;18] [00:08:50;27] de onde se vê uma paisagem através de uma janela [00:08:55;22] [00:08:56;03] e o vidro está quebrado, então tem pedaços caídos no chão [00:09:00;02] [00:09:00;11] mas os pedaços levam consigo a paisagem que se vê através da janela. [00:09:04;12] [00:09:04;26] Então são as lógicas que se encontram muito associadas. [00:09:08;17] [00:09:08;23] Creio que... [00:09:10;22] [00:09:11;27] há um sentimento familiar da poesia. [00:09:16;21] [00:09:18;00] Esse sentimento familiar da poesia, seria como, para facilitar [00:09:24;06] [00:09:24;14] vou chamá-lo de sentimento de turista [00:09:28;14] [00:09:28;22] que vão muito longe procurar a poesia. [00:09:31;23] [00:12:02;19] Poderia dizer que as imagens para mim aparecem, em geral [00:12:07;08] [00:12:07;24] quando estou um pouco descuidado [00:12:09;16] [00:12:09;26] e descuidado quer dizer quando não estou pensando nisso. [00:12:13;23] [00:12:14;03] Não se tratando de produzir uma imagem. [00:12:15;27] [00:12:16;09] [Vidro quebrando] [00:12:19;08] [00:12:37;25] Em Buenos Aires Tour, creio que há um primeiro momento [00:12:40;09] [00:12:40;16] que é uma espécie de Big-Bang [00:12:42;16] [00:12:42;24] que é a ruptura do vidro. [00:12:44;06] [00:12:44;16] Mas depois há toda uma estrutura muito obsessiva [00:12:47;11] [00:12:47;19] que se monta sobre esse acaso. [00:12:50;03] [00:12:50;13] Há regras muito claras, ou seja, é preciso ir até determinados pontos [00:12:54;00] [00:12:54;08] e buscar, buscar, ou seja [00:12:55;29] [00:12:56;09] e o que a pessoa vai encontrar, aí, sim, existe o acaso. [00:12:58;19] [00:12:58;27] Mas a estrutura final é muito precisa [00:13:01;20] [00:13:01;29] uma vez que está determinada pelo acaso. [00:13:04;06] [00:13:04;13] Por isso eu diria que Buenos Aires Tour [00:13:06;08] [00:13:06;17] está baseado no acaso. Ou talvez, joga com a ideia do acaso. [00:13:09;26] [00:13:10;06] Mas ao mesmo tempo joga com a ideia de controle. [00:13:12;26] [00:13:13;05] Ou seja, com a ideia do desespero que há no acaso. [00:13:17;07] [00:13:32;21] Eu chegava nesse lugar, passeava um pouco pelas esquinas [00:13:35;29] [00:13:36;09] começava a recolher alguns objetos, tirava algumas fotografias [00:13:39;22] [00:13:40;02] e ia eventualmente no mesmo dia em mais dois ou três lugares mais. [00:13:44;10] [00:13:45;13] Este é um objeto um pouco estranho [00:13:47;22] [00:13:48;02] realmente muito estranho que encontrei em uma esquina [00:13:51;19] [00:13:51;28] na esquina da Estados Unidos com a Dean Funes. [00:13:54;21] [00:13:55;13] Era um papel que estava jogado ao lado de uma árvore. [00:13:58;18] [00:13:59;07] Por acaso também havia chovido então a letra, a tinta estava borrada. [00:14:05;16] [00:14:06;02] E sempre me atraem esses tipos de coisas [00:14:08;27] [00:14:09;06] que estão escritas e depois são abandonadas. [00:14:11;25] [00:14:12;08] Mas este caso foi algo muito especial, porque este era uma carta suicida. [00:14:16;25] [00:14:17;04] Era de uma pessoa que ia suicidar-se e estava se despedindo. [00:14:21;07] [00:14:32;12] Essa esquina da Santiago del Estero com a México [00:14:35;07] [00:14:35;14] é para mim como o começo deste projeto. [00:14:38;03] [00:14:41;10] Decidi que o vidro que usamos para colocar [00:14:43;10] [00:14:43;21] em cima do mapa de Buenos Aires se quebraria exatamente neste lugar. [00:14:48;00] [00:14:48;11] Assim fizemos, o quebramos no meu estúdio aqui. [00:14:51;09] [00:14:52;09] Embora não tenha sido um evento aleatório [00:14:56;21] [00:14:56;29] o modo como se quebrou bem nesse ponto [00:14:59;24] [00:15:00;05] eu decidi que ele se quebraria aqui [00:15:02;14] [00:15:02;24] porque certamente as linhas de rupturas desse vidro [00:15:05;29] [00:15:06;07] obviamente não podiam ser previstas. [00:15:08;22] [00:15:09;04] Ou seja, de alguma maneira, este acaso que determinou o desenho das linhas [00:15:12;24] [00:15:13;03] é o que determina finalmente o Buenos Aires Tour. [00:15:16;13] [00:15:20;28] A primeira coisa que me lembro dele é o fato de que em algum momento [00:15:26;16] [00:15:26;26] quando ele estava vivendo, trabalhando em Londres [00:15:30;20] [00:15:30;26] e coincidiu por acaso [00:15:33;01] [00:15:33;10] que eu também estava passando um tempo lá [00:15:36;06] [00:15:36;14] como escritora visitante em uma universidade. [00:15:40;20] [00:15:41;03] Em um determinado momento em uma das minhas viagens à Argentina [00:15:44;25] [00:15:45;05] ele me falou dessa ideia que ele tinha de fazer o Buenos Aires Tour [00:15:50;12] [00:15:50;22] e me disse que gostaria que eu escrevesse os textos. [00:15:55;22] [00:15:56;19] Nós nos reunimos em seu atelier e aí quebramos juntos o vidro [00:16:03;05] [00:16:03;12] sobre o mapa de Buenos Aires. [00:16:05;23] [00:16:06;03] A ideia era de que cada vez que esse vidro quebrado [00:16:10;09] [00:16:10;16] digamos, essa rachadura, tocava em uma esquina [00:16:14;10] [00:16:14;21] então esse iria ser um lugar de intervenção. [00:16:18;19] [00:17:48;05] ? [00:17:52;02] [00:18:11;21] ? [00:18:15;14] [00:18:23;26] É uma cópia que a mim parece ser muito importante [00:18:26;08] [00:18:26;19] é uma cópia de um dicionário encontrado no ponto Riachuelo [00:18:30;22] [00:18:30;29] no extremo da linha alaranjada. [00:18:34;03] [00:18:34;12] Esse foi o primeiro objeto que recolhi [00:18:37;17] [00:18:37;24] e para mim é muito significativo. [00:18:41;06] [00:18:41;17] É um dicionário espanhol/inglês. [00:18:46;07] [00:18:46;17] Ou inglês/espanhol, escrito a mão e com caneta. [00:18:49;21] [00:18:49;28] E quando eu o encontrei estava todo borrado. [00:18:51;25] [00:18:52;03] Parecia que estava borrado por causa da chuva. [00:18:55;07] [00:18:56;01] E me pareceu significativo desde o momento em que o encontrei, [00:19:00;25] [00:19:01;06] mas depois comecei a pensar que quem sabe havia uma relação [00:19:04;24] [00:19:05;04] muito direta entre o que é, entre o que pretende um dicionário [00:19:07;05] [00:19:07;13] e o que pretende um guia de turismo. [00:19:09;24] [00:19:10;20] O dicionário trata através das palavras individuais [00:19:14;24] [00:19:15;02] de compreender uma linguagem. [00:19:16;28] [00:19:17;09] Já um tour [00:19:19;16] [00:19:19;26] ou seja um tour normal, um tour que nós conhecemos [00:19:23;24] [00:19:24;04] também tenta dar a ideia de uma cidade [00:19:27;27] [00:19:28;08] mas através de suas parcialidades como monumentos, restaurantes, teatros. [00:19:32;02] [00:19:32;10] Mas nenhum dos dois chega a seus objetivos. [00:19:36;12] [00:19:36;22] Nem o dicionário chega a compreender uma linguagem [00:19:40;06] [00:19:40;15] nem um tour normal chega a compreender uma cidade. [00:19:44;10] [00:19:54;10] É insólito que a alguém tenha ocorrido a ideia de escrever um dicionário! [00:19:59;13] [00:19:59;23] Um dicionário em ordem alfabética. É uma coisa absurda, não? [00:20:03;04] [00:20:03;13] Então se vê: "With"- como se pronuncia: Com. [00:20:07;26] [00:20:08;16] "Work"- como se pronuncia: Trabalho. [00:20:12;28] [00:20:13;27] Eu chamei este caderno/dicionário de 'Treasure Island'. [00:20:18;09] [00:20:18;21] E isto foi muito inspirador para mim [00:20:20;21] [00:20:20;29] porque aqui eu escrevi 18 palavras [00:20:25;04] [00:20:25;15] que eram como as 18 palavras mais importantes para mim. [00:20:30;13] [00:20:30;25] Fiz como uma espécie de re-escritura do dicionário [00:20:35;24] [00:20:36;05] mas, usando "Against", ou seja, [00:20:38;29] [00:20:39;10] usando palavras que para mim são muito significativas. [00:20:42;02] [00:20:42;10] O "Against" que significa "Contra", [00:20:44;16] [00:20:44;24] que é a rebeldia, a insubmissão, o desacato, enfim... [00:20:48;28] [00:20:49;07] Depois fui incluindo as palavras mais importantes [00:20:53;02] [00:20:53;10] para mim e para minha escrita. [00:20:55;27] [00:20:56;05] Então estão: "Body", "Death", "Poem", etc. [00:20:59;29] [00:21:00;12] "Pain"- máquina de engolir moedas para pequenos príncipes. [00:21:06;16] [00:21:07;16] "Postwar landscape"- isto. [00:21:11;21] [00:21:12;15] "Reality"- Fuck you. [00:21:15;16] [00:21:16;25] ‘Syllable"- O nome nômade de Deus [00:21:21;14] [00:21:21;22] reduzido ao ubíquo e ao interminável. [00:21:26;02] [00:21:26;22] "Space"- Um vírus que se estende ao campo do imaginário [00:21:32;13] [00:21:32;23] as palavras são círculos concêntricos. [00:21:36;15] [00:21:37;05] "Sunday"- Emily Dickinson. [00:21:40;03] [00:21:40;17] A arte da fuga, Alien avança com muletas. [00:21:45;06] [00:22:07;16] A ficção e a realidade são a mesma coisa. [00:22:10;09] [00:22:10;17] Poderíamos dizer que ao escrever, ao existir [00:22:13;17] [00:22:13;27] o Buenos Aires Tour passa a ser também como uma camada a mais [00:22:18;08] [00:22:18;18] agregada a essa ficção que chamamos de realidade. [00:22:22;25] [00:22:58;08] Quando comecei a pensar no Buenos Aires Tour [00:23:00;26] [00:23:01;08] surgiu essa concepção da obra através da colaboração de pessoas diferentes. [00:23:07;12] [00:23:07;22] Pois eu pensava, este livro ou estes objetos vão encontrar textos. [00:23:12;16] [00:23:12;24] E eu dizia: "Eu sou escritor? Não." [00:23:14;25] [00:23:15;05] Então certamente haverá uma pessoa que escreva muito melhor que eu. [00:23:18;06] [00:23:18;23] E havia... minha intenção era que tivesse sons. [00:23:22;14] [00:23:22;29] Então, eu dizia: "Tenho sensibilidade suficiente [00:23:26;08] [00:23:26;14] para escolher os sons?" [00:23:28;28] [00:23:29;07] Ou seja, em relação a outros elementos do livro? [00:23:32;23] [00:24:06;22] Sempre pensamos [00:24:08;04] [00:24:08;13] em uma segunda parte para esse Buenos Aires Tour. [00:24:13;08] [00:24:13;22] Que justamente se chamava Retour [00:24:16;01] [00:24:16;11] que em francês é "retorno", e ao mesmo tempo é o tour novamente. [00:24:20;17] [00:24:20;25] Nunca o fiz, porque nunca... [00:24:23;12] [00:24:24;12] nunca cheguei a entender bem qual forma teria isso, ou seja [00:24:28;21] [00:24:29;04] se seria um livro, se seria um mapa, se seria simplesmente um site na web. [00:24:33;12] [00:24:35;10] Nunca chegamos a determinar que forma teria isso [00:24:38;01] [00:24:38;09] e por isso não o comecei novamente. [00:24:40;28] [00:24:41;08] Mas, eu gostaria dessa ideia de revisitar os lugares [00:24:45;09] [00:24:45;19] cada um dos seus pontos [00:24:47;09] [00:24:47;18] de seus 46 pontos que formavam o Buenos Aires Tour. [00:24:51;00] [00:24:58;29] Os objetos encontrados são sinais também. [00:25:03;27] [00:25:04;10] Eu creio que são como muitos níveis que se pode ler em Buenos Aires Tour. [00:25:08;23] [00:25:09;08] Pode-se ler a cidade real [00:25:11;12] [00:25:11;21] pode-se ler a cidade registrada pelas fotos [00:25:16;26] [00:25:17;09] pode-se ler a cidade que descrevem, ou inventam, ou alteram [00:25:24;23] [00:25:25;03] os textos escritos por mim, pode-se ler os objetos encontrados. [00:25:30;18] [00:25:31;02] Como se fosse, poderia ser um... [00:25:33;20] [00:25:34;02] Tudo é legível do ponto de vista semiológico, são símbolos. [00:25:40;04] [00:25:40;16] O jeito que estão, que são objetos gastos pelo tempo [00:25:44;20] [00:25:45;01] acrescenta uma camada a mais [00:25:48;05] [00:25:48;15] porque é como, de alguma maneira, também o Buenos Aires Tour [00:25:53;00] [00:25:53;10] com o tempo vai se transformar nisso. [00:25:56;06] [00:25:56;25] Também o Buenos Aires Tour, ou seja, tudo. [00:25:59;24] [00:26:00;02] Os textos escritos, as fotografias [00:26:02;13] [00:26:02;20] tudo em algum momento vai ser uma ruína. [00:26:05;24] [00:26:06;01] Então, esses textos encontrados [00:26:08;08] [00:26:08;19] que estão já marcados pelo tempo, são como uma antecipação [00:26:12;10] [00:26:12;18] do que vai acontecer com o próprio texto [00:26:17;03] [00:26:17;14] com os próprios livros, com os artistas, com todos nós, certo? [00:26:20;28] [00:26:21;07] Ou seja, seremos como ruínas, restos, fragmentos. [00:26:28;06] [00:26:28;27] Talvez, se encontrará em algum lugar, ou não. [00:26:31;28] [00:26:32;20] Não sabemos, mas creio que isso é interessante. [00:26:35;12] [00:26:35;21] Que o tempo apareça marcado nos objetos. [00:26:39;10] [00:27:19;11] ? [00:27:21;25] [00:27:28;18] Tem algo que me atrai no cinema [00:27:30;14] [00:27:30;21] que tem a ver com a essência do cinema. [00:27:34;20] [00:27:35;03] Que, nós percebemos o movimento [00:27:38;02] [00:27:38;10] e esse movimento está estruturado com base em uma... [00:27:40;24] [00:27:46;11] descomposição do movimento. [00:27:48;22] [00:27:49;03] Então, está todo formado por fotos fixas [00:27:52;08] [00:27:52;22] e só estamos vendo o movimento. Então nessa... [00:27:57;14] [00:27:57;21] nessa essência há um aparente paradoxo. [00:28:02;07] [00:28:02;17] Como é possível criar o movimento a partir de pontos fixos? [00:28:06;11] [00:28:07;04] [Bip, bip, bip] [00:28:10;09] [00:28:39;12] O vídeo A flecha de Zenão se refere justamente a isto. [00:28:45;02] [00:28:45;12] É um filme que vai começar, mas, afinal [00:28:49;15] [00:28:49;21] anula a si mesmo [00:28:52;29] [00:28:53;06] em uma análise de um micro-segundo. [00:28:57;14] [00:28:57;22] E vai desaparecendo justamente [00:28:59;08] [00:28:59;17] porque parecia que não podia avançar nunca mais. [00:29:02;13] [00:29:06;09] Mas essa questão relacionada com o movimento [00:29:09;27] [00:29:10;04] e com a análise do movimento [00:29:11;22] [00:29:12;03] com estas fotos fixas, essa reiteração das fotos fixas [00:29:16;15] [00:29:16;22] acho que para mim é o ponto central. [00:29:20;29] [00:29:21;09] Acho que é um tema [00:29:25;04] [00:29:25;12] que aparece em muitas outras obras também [00:29:28;04] [00:29:28;16] e que se relaciona com o fato de tratar ficcionalmente de parar o tempo. [00:29:35;11] [00:29:35;25] ? [00:29:39;20] [00:30:22;20] Tive uma formação musical durante aproximadamente sete anos [00:30:26;22] [00:30:27;03] estudei piano de maneira bastante intensa. [00:30:30;12] [00:30:31;07] Mas estudei piano clássico, ou seja [00:30:33;04] [00:30:33;14] composições de Beethoven, Bach, Debussy. [00:30:37;27] [00:30:38;06] Mas eu tinha um grande problema em ler as partituras. [00:30:41;22] [00:30:42;03] Então se somavam duas dificuldades. Por um lado a impossibilidade de ler [00:30:47;07] [00:30:47;16] e por outro lado a dificuldade em improvisar. [00:30:49;20] [00:30:49;27] Se eu tivesse diante do piano [00:30:51;20] [00:30:51;29] e não havia uma partitura na minha frente [00:30:53;23] [00:30:54;00] eu não conseguia fazer absolutamente nada. [00:30:55;26] [00:30:56;08] Então essa intersecção entre a dificuldade de improvisar [00:30:59;01] [00:30:59;08] e a dificuldade de ler [00:31:01;08] [00:31:01;17] fez com que pouco a pouco eu deixasse de tocar [00:31:03;05] [00:31:03;13] porque eu podia tocar apenas [00:31:05;28] [00:31:06;07] se tocasse todo meu repertório permanentemente. [00:31:08;18] [00:31:08;29] Então isso seria uma tortura, não seria algo prazeroso. [00:31:11;09] [00:31:11;19] Foi assim que finalmente quando eu tinha 22, 23 anos [00:31:14;24] [00:31:15;01] parei de tocar [00:31:16;19] [00:31:17;01] e pouco a pouco essas imagens das partituras começaram a aparecer. [00:31:20;21] [00:32:46;16] Edgardo Rudnitzky foi meu professor. Não meu professor, [00:32:50;15] [00:32:50;24] mas algo como uma espécie de coordenador [00:32:54;04] [00:32:54;11] em uma oficina que fiz no ano 98 [00:32:55;22] [00:32:56;01] que se chamava Oficina de Experimentação Cênica [00:32:58;10] [00:32:58;19] que ele coordenava junto com um diretor de teatro [00:33:01;05] [00:33:01;13] que se chama Joel Schumacher. [00:33:03;19] [00:33:04;01] Uma experiência incrível, porque era pôr em contato diretores de teatro [00:33:08;29] [00:33:09;09] com escritores, com músicos e com artistas visuais. [00:33:14;21] [00:33:15;03] Então a ideia era montar grupos e produzir obras [00:33:19;21] [00:33:19;29] ainda que fosse de maneira virtual ou teórica. [00:33:24;07] [00:33:25;25] E descobri que com Edgardo havia muita semelhança de pensamento. [00:33:32;20] [00:33:33;26] Eu diria que ele é como um músico visual [00:33:37;10] [00:33:37;19] no sentido que a ele importa muito o que se vê. [00:33:40;25] [00:33:43;04] E no meu caso, eu sempre obcecado pela música [00:33:48;13] [00:33:48;22] e com a minha impossibilidade de tocar música, [00:33:52;12] [00:33:52;23] mas ao mesmo tempo como muito admirador da questão musical. [00:33:57;23] [00:33:58;02] O trabalho que fizemos com Edgardo ao longo de todos esses anos [00:34:01;27] [00:34:02;03] tem muito disso. [00:34:03;19] [00:34:04;11] Como um desejo de... [00:34:07;12] [00:34:07;18] ir até a raiz do sentido [00:34:10;26] [00:34:11;03] e talvez até perder o sentido. [00:34:12;25] [00:34:13;06] [Rolo de filme] [00:34:16;12] [00:34:18;17] [Gritos] [00:34:22;14] [00:34:45;20] Cada artista tem uma estratégia para alcançar determinado fim. [00:34:48;12] [00:34:49;22] E eu acredito que estas obras são delicadas [00:34:53;00] [00:34:53;07] e são desenhos muito velhos de longe [00:34:57;00] [00:34:57;06] não muita distância. [00:34:59;02] [00:34:59;12] Mas à medida que nos aproximamos, começamos a descobrir camadas [00:35:01;26] [00:35:02;03] que de longe não se via. [00:35:04;00] [00:35:04;10] Então é um desenho velho que pede que as pessoas se aproximem, [00:35:09;05] [00:35:09;15] mas à medida que se aproximam descobrem primeiro que essas linhas [00:35:12;13] [00:35:12;29] não são linhas desenhadas mas sim textos. [00:35:15;13] [00:35:15;25] E depois, à medida que se aproximam mais [00:35:18;05] [00:35:18;13] começam a descobrir que tipo de texto é. [00:35:20;23] [00:35:26;03] Então através de um caminho indireto. [00:35:28;07] [00:35:28;17] Às vezes penso que é uma estratégia que se parece muito [00:35:31;27] [00:35:32;05] com as estratégias das plantas carnívoras [00:35:34;12] [00:35:34;25] que atraem com seu aroma e com a sua cor a mosca que pousa e depois a come. [00:35:40;10] [00:35:40;21] Também não estou dizendo que vou comer o espectador, mas... [00:35:45;01] [00:35:45;08] [Risos] [00:35:46;03] [00:36:24;12] No caso do Still Song não existe a luz. [00:36:27;16] [00:36:27;28] Há uma espécie de lembrança da luz ou o que se está vendo [00:36:31;24] [00:36:32;03] é uma consequência da luz, do fenômeno da luz. [00:36:36;14] [00:36:36;23] Faz com que se remata a uma lembrança de uma situação. [00:36:39;22] [00:36:40;10] Mas por outro lado [00:36:41;28] [00:36:42;08] há uma transformação da luz em um fenômeno violento. [00:36:46;12] [00:36:46;22] E a luz, que é na realidade algo impalpável e etéreo [00:36:54;05] [00:36:54;15] no caso do Still Song se transforma numa arma letal. [00:36:58;01] [00:38:28;09] ? [00:38:31;11] [00:38:55;23] ? [00:38:58;02] [00:39:36;14] Há aproximadamente três anos [00:39:38;23] [00:39:39;05] a Galeria Ruth Benzacar se mudou de seu endereço tradicional [00:39:44;25] [00:39:45;02] no bairro do Centro-Retiro [00:39:48;04] [00:39:48;15] para esse local no bairro de Villa Crespo. [00:39:53;07] [00:39:53;16] A galeria Benzacar passou de uma galeria [00:39:56;06] [00:39:56;16] que tinha determinadas características arquitetônicas [00:39:59;13] [00:39:59;21] por exemplo, o fato de que era uma galeria baixa [00:40:02;10] [00:40:02;18] que tinha colunas, que tinha... [00:40:04;13] [00:40:04;19] dutos de ventilação. [00:40:09;04] [00:40:09;15] Todas as características que se deviam ao fato [00:40:11;24] [00:40:12;04] de que estava construída no subsolo, e não tinha nada de luz natural. [00:40:15;29] [00:40:16;24] Então, passou de repente para esta nova galeria [00:40:21;05] [00:40:21;12] que foi construída por Nicolás. [00:40:24;17] [00:40:25;21] E que tem as características opostas, ou seja [00:40:30;10] [00:40:30;17] tem luz natural permanentemente, [00:40:33;11] [00:40:33;27] tem tetos altíssimos [00:40:36;09] [00:40:36;20] e muito pouca interferência de elementos arquitetônicos. [00:40:39;18] [00:40:43;25] Esta instalação, Díptico, o que faz é... [00:40:47;07] [00:40:48;08] é transportar o espaço da velha galeria Ruth Benzacar [00:40:52;04] [00:40:52;13] para o interior da nova galeria Ruth Benzacar. [00:40:55;03] [00:40:55;14] Claro que isso não ocorre de uma maneira fluida porque... [00:40:59;09] [00:40:59;29] a galeria antiga não entra perfeitamente no novo espaço [00:41:05;23] [00:41:07;05] e portanto se dá uma série de interferências ou intersecções [00:41:10;17] [00:41:10;24] entre os dois espaços. [00:41:12;15] [00:41:13;01] Que de alguma maneira não são só interferências físicas [00:41:16;20] [00:41:16;29] como também interferências de tipo temporário. [00:41:20;20] [00:41:20;28] Porque constantemente estamos passando... [00:41:23;10] [00:41:23;21] da situação de passado para a situação de presente. [00:41:26;17] [00:41:26;28] Há lugares onde são justamente as interferências que ocorrem [00:41:31;03] [00:41:31;13] de todos os espaços, o espaço branco que está sobre a superfície. [00:41:39;03] [00:41:40;03] E o espaço antigo do bairro Retiro que estava no subterrâneo. [00:41:44;27] [00:41:45;25] Então... [00:41:47;03] [00:41:48;05] Como fazia Jorge, não entram comodamente. [00:41:51;14] [00:41:51;26] Há lugares que interferem [00:41:53;09] [00:41:53;20] há lugares que estão adequados, há lugares que vêm em diagonal. [00:41:57;01] [00:41:57;10] E esta parede gera este encontro onde, bem... [00:42:00;24] [00:42:01;05] começa uma interferência e erupções que não são tão prolixas, [00:42:04;09] [00:42:04;18] mas que são parte das interferências entre os espaços [00:42:07;04] [00:42:07;14] de duas épocas e tempos de arte distintos. [00:42:10;18] [00:42:26;22] -Eu gosto desta solução. -Não, mas viu... [00:42:30;08] [00:42:30;15] Incrível. É incrível! [00:42:33;11] [00:42:35;22] Esta viga o rompe... [00:42:38;20] [00:42:40;17] Mas que forte, é o túnel do tempo. [00:42:43;03] [00:42:43;09] É o túnel do tempo. [00:42:46;00] [00:43:04;01] Através desta porta se acessa os fundos da galeria atual. [00:43:10;18] [00:43:20;15] E durante a mostra, vamos mostrar [00:43:24;05] [00:43:24;14] aqui nos fundos da loja, vamos mostrar ao público em geral [00:43:27;09] [00:43:27;18] esta maquete que é a maquete do projeto. [00:43:31;20] [00:43:32;02] E onde se vê, estamos usando o mesmo código de representação [00:43:36;19] [00:43:36;28] para a maquete que para o espaço que a contém. [00:43:40;22] [00:43:41;01] Ou seja, o espaço representado na cor de madeira [00:43:44;07] [00:43:44;14] e o espaço atual na cor branca. [00:43:47;09] [00:43:47;22] É meio complexo porque construir um espaço já existente [00:43:51;16] [00:43:51;27] e com tanta tradição, em um espaço que não tem absolutamente nada a ver. [00:43:55;15] [00:43:55;25] Então eu tentei solucionar os erros cometidos na galeria anterior. [00:44:00;29] [00:44:01;17] Era difícil construir coisas que não iam de acordo comigo, [00:44:05;06] [00:44:05;16] mas também, por começar a entender a linguagem de Jorge [00:44:09;01] [00:44:09;10] e entender o valor dessas peças que por aí [00:44:12;13] [00:44:12;20] para a arquitetura não tem tanto potencial, [00:44:15;10] [00:44:15;19] mas que em um lugar suscetível, às vezes [00:44:19;03] [00:44:19;10] podem começar a criar novas leituras. [00:44:21;21] [00:44:22;17] Há algo que me interessa muito na colaboração [00:44:25;12] [00:44:25;22] que é... [00:44:27;22] [00:44:29;07] o fato de que cada um oferece o seu saber. [00:44:32;07] [00:44:32;15] E essas ofertas contribuem... [00:44:34;12] [00:44:38;16] com a melhora de uma exposição estética. [00:44:42;09] [00:44:43;22] Acho que isso é algo que aprendi nos meus anos de teatro. [00:44:50;03] [00:44:50;13] Fiz por muito tempo cenografia e participei de produções de teatro. [00:44:54;20] [00:44:55;12] E, em teatro é impensável a ideia de trabalhar sozinho. [00:44:59;12] [00:44:59;22] Sempre dependemos de alguém que faz o texto, que faz a iluminação [00:45:03;09] [00:45:03;19] que faz a cenografia, que faz os sons e a música, dos atores. [00:45:08;28] [00:45:09;22] E, realmente há algo muito interessante [00:45:12;22] [00:45:13;00] nesse processo de colaboração [00:45:14;26] [00:45:15;05] e se sente que cada um oferece tudo o que sabe [00:45:17;17] [00:45:17;26] para contribuir com a elaboração de uma peça [00:45:21;10] [00:45:21;19] que ao final quando se mostra ou quando se estreia [00:45:25;07] [00:45:25;15] as colaborações já estão tão fundidas [00:45:29;15] [00:45:29;24] que já não se sabe mais exatamente o que é isso. [00:45:32;19] [00:45:33;04] Me fascina. [00:45:35;08] [00:45:36;07] Parece que realmente tem presença de escultura. [00:45:40;15] [00:45:40;28] Sim, não é? Trabalhamos muito nisso, na síntese que íamos usar na maquete [00:45:44;23] [00:45:45;01] -para que... -Está belíssimo! [00:45:46;07] [00:45:46;18] ...não fosse uma maquete de arquitetura, mas para que fosse um pouco mais. [00:45:49;23] [00:45:50;02] Algo que eu gosto muito que fizemos ela móvel. [00:45:53;01] [00:45:53;08] Sim. Está muito bom. Muito bom. [00:45:56;16] [00:45:57;03] Sabe que é um bunker, né? De verdade. [00:45:59;18] [00:45:59;26] Não era um estacionamento? [00:46:00;23] [00:46:01;04] Sim, mas foi construído com a estrutura de bunker. [00:46:04;11] [00:46:04;20] Porque estávamos para entrar em guerra com o Chile [00:46:06;21] [00:46:06;27] quando foi construído. [00:46:08;01] [00:46:08;09] Lembra de história da lagoa do deserto? [00:46:10;26] [00:46:11;14] Bem, neste momento o estacionamento estava sendo construído. [00:46:16;06] [00:46:16;14] Então foi construído com condições... [00:46:18;07] [00:46:18;25] Pensando no bunker. [00:46:20;09] [00:46:20;15] Um abrigo incrível. [00:46:21;15] [00:46:21;24] ...de bunker. Então na verdade era um bunker. [00:46:25;03] [00:46:25;14] Então tinha essa característica, de ser muito enorme e robusto. [00:46:30;17] [00:46:30;24] Por isso todas estas colunas e... [00:46:33;16] [00:46:40;25] Um aspecto que me parece muito importante também é a iluminação. [00:46:44;19] [00:46:45;12] A iluminação se dá... [00:46:48;25] [00:46:49;02] através de três linhas de entrada de luz [00:46:53;15] [00:46:53;23] que se localizam no que seriam [00:46:57;09] [00:46:57;23] as barras de iluminação da galeria anterior. [00:47:01;04] [00:47:01;15] Mas nesse caso os spots que se fixam nestas barras [00:47:04;17] [00:47:04;24] estão encaixados por furos. [00:47:06;13] [00:47:06;23] Estes furos, ao mesmo tempo que... [00:47:09;17] [00:47:10;09] permitem a iluminação do espaço através do espaço novo [00:47:14;27] [00:47:15;09] permite que o espectador veja através deles os espaços que o contém. [00:47:21;25] [00:47:23;00] Então, ocorre uma situação estranha em que o espaço atual [00:47:28;00] [00:47:28;11] está iluminando o espaço representado que é o espaço interior. [00:47:34;23] [00:47:35;01] Díptico é uma obra que não só depende da galeria que a contém [00:47:40;15] [00:47:42;22] como também depende do momento em que é feita esta peça. [00:47:47;09] [00:47:47;15] Porque... [00:47:48;27] [00:47:50;02] A galeria Benzacar antiga [00:47:54;18] [00:47:54;28] que é a galeria que está representada no interior da galeria atual [00:47:59;11] [00:48:00;07] é uma galeria, um espaço que está na lembrança das pessoas, [00:48:03;12] [00:48:03;22] mas não vai estar por muito tempo na lembrança das pessoas. [00:48:06;19] [00:48:07;00] Então, se eu fizesse esta mesma instalação dez anos depois [00:48:11;05] [00:48:11;12] não teria nenhum sentido. [00:48:14;23] [00:48:15;19] Mas agora, no entanto, é um espaço que continua na memória das pessoas. [00:48:18;23] [00:49:05;02] Há obras que têm títulos muito específicos [00:49:08;18] [00:49:08;29] e que de alguma maneira dão alguma pauta para o trabalho. [00:49:14;18] [00:49:14;28] Díptico, me parece ser um título que de imediato alude a duas coisas [00:49:18;24] [00:49:19;01] a dois módulos. [00:49:20;12] [00:49:20;19] Ocorre que quando alguém pensa em um díptico [00:49:22;10] [00:49:22;17] pensa em dois módulos, um ao lado do outro. [00:49:25;01] [00:49:25;10] E neste caso são dois módulos que se cruzam [00:49:29;11] [00:49:29;20] que se inter-relacionam ou que se interceptam. [00:49:32;07] [00:49:32;21] E neste sentido é uma espécie de díptico pervertido. [00:49:37;05] [00:49:37;29] Mas o título me parece que agrega esta dimensão [00:49:43;15] [00:49:43;23] que talvez o trabalho por si só não tenha. [00:49:47;04] [00:49:52;17] Estamos trabalhando agora em uma série de documentos [00:49:56;12] [00:49:56;23] e objetos que vão relatar o que foi esta instalação. [00:50:01;28] [00:50:02;09] Então, estamos trabalhando, recuperando planos, desenhos [00:50:06;21] [00:50:06;28] e fotografias e estamos fazendo um vídeo [00:50:09;11] [00:50:09;20] e estamos editando um livro com todo este material [00:50:14;02] [00:50:14;12] e um texto de Mariana Enríquez que relata a instalação [00:50:20;13] [00:50:20;24] e principalmente do aspecto fantasmagórico da instalação. [00:50:24;04] [00:50:37;08] É um trabalho que está associado com outros [00:50:39;24] [00:50:40;02] que o que faz é denotar com um desespero [00:50:44;14] [00:50:44;22] diante do tempo que passa. [00:50:46;23] [00:50:47;02] Ou seja, é como, "Eu não quero que o tempo passe [00:50:49;08] [00:50:49;17] então vamos movê-lo para que esta situação seja permanente". [00:50:52;15] [00:50:54;02] Há momentos em que o fato de que eu me proponha [00:50:58;25] [00:50:59;02] a um determinado espaço para fazer uma obra [00:51:02;01] [00:51:02;10] para propor uma obra, também me facilita muito as coisas. [00:51:04;23] [00:51:05;01] Porque na medida em que há um espaço proposto [00:51:09;18] [00:51:09;25] há um limite muito claro proposto. [00:51:12;05] [00:51:12;15] Não somente um limite espacial, [00:51:14;03] [00:51:14;12] mas um limite de determinadas condições [00:51:17;14] [00:51:17;22] climáticas, geográficas e sociológicas. [00:51:21;14] [00:51:21;22] Ou seja, há muita... de história por exemplo. [00:51:24;09] [00:51:25;09] Então a pessoa inevitavelmente tem que trabalhar com esses limites. [00:51:31;02] [00:51:32;03] E pode parecer estranho ou parecer paradoxo, [00:51:34;08] [00:51:34;20] mas eu me sinto muito mais livre quanto mais limites eu sinto. [00:51:38;29] [00:51:43;00] ? [00:51:46;11]