[Só o sacrifício da vida [pode resgatar o erro de um fracasso. [Já se vão 24 anos que eu escrevi [isso no diário [e foi pouco antes de eu pegar [um trem em Porto Alegre [com destino ao Rio de Janeiro. [Minha missão era ser [Presidente da República. [Foi uma jornada longa. [15 anos na presidência. [Comecei como líder de uma Revolução [que queria mudar o Brasil, [logo enfrentei duas contra-revoluções. [Foram mais de mil mortos, [7 mil opositores presos, [muitos torturados. [Eu fui um ditador. [Enfrentei tudo e não me arrependo [em momento algum [de censurar os jornais, [fechar o Congresso [e cancelar as Eleições Presidenciais. [Sempre governei para o povo [e me senti amado por ele. [Foram as leis de proteção [ao trabalhador, [salário mínimo, [as férias remuneradas. [Fui deposto pelos militares, [sim, os mesmos que antes me apoiaram. [Vivi 5 anos de exílio e solidão [e voltei. [Voltei em Eleições diretas para ser [novamente o Presidente do Brasil. [Derrotei o Brigadeiro Eduardo Gomes, [líder da Aeronáutica. [A oposição tentou me derrubar [com um Impichiman, não conseguiu. [Aprovei no Congresso o controle [do petróleo pelo Estado. [A Petrobras. [Nos últimos meses da minha vida [o meu governo foi gravemente acusado de corrupção. [Gravemente. [O Exército e a Aeronáutica estavam insatisfeitos, [queriam o poder, [era ano de eleições, enfim... [Diariamente, [o jornalista Carlos Lacerda [difamava a mim [e a minha família. [Eu era o seu inimigo número 1. Me obedece. Faz o que eu to mandando e entra no prédio. Vai, vai, vai... Um atentado... Eu quero falar com o General Carreado agora. Mande chamá-lo. Só um homem é responsável por esse crime. É o protetor dos ladrões, cuja impunidade lhe dá audácia para atos assim. Esse homem tem nome e endereço certo... É Getulio Vargas. E está sentado na cadeira da presidência da República desse país. [Sr. Lacerda, o major estava [a serviço da aeronáutica [ou estava trabalhando [como seu segurança? [O senhor anda armado, [sr. lacerda? [Foi um atentado? O major assassinado tinha apenas 32 anos. Deixou viúva e 4 filhos em uma tristeza profunda. Pela honra da Aeronáutica, afirmo que esse crime não ficará impune. [Brigadeiro Eduardo Gomes, [o alvo era mesmo o major Vaz ou [0 jornalista Carlos Lacerda? [Brigadeiro Eduardo Gomes.. Papai, a eleição para deputado é daqui há 3 meses. Lacerda no papel de vítima está eleito. Isso é uma farsa. Ninguém engessa um ferimento de bala. Meu pai, eu sou médico. Se um tiro de 45 acertasse o pé do Lacerda, ele teria que amputá-lo. O Lacerda estava armado. A polícia foi até a casa dele buscar o revólver e ele se negou a entregar. O delegado mesmo insinuou que ele teria atirado sem querer no major ou até mesmo o próprio pé. Eu soube que ele ficou possesso. Pelo menos o chefe de polícia está fazendo o seu trabalho. O sujeito só me mandou ficar dentro do táxi. Depois foi aquela história, tiro para tudo quanto é lado. O sujeito entrou correndo e me mandou sair rápido. Eu fiquei confuso e com medo. Onde do táxi do senhor faz ponto? Na rua Silveira Martins, no bairro do Catete. O táxi faz ponto aqui ao lado do Palácio? Sim, senhor. O táxi foi atingido por um guarda municipal que perseguiu o criminoso. O taxista nega envolvimento, mas o delegado não acredita. O senhor mandou me chamar, doutor Getulio? Logicamente você sabe que mataram o Major Rubens Vaz, da Aeronáutica. A arma que usaram é do mesmo calibre das armas da minha guarda pessoal. -É isso Gregório? -É, sim senhor. Algum homem da guarda está envolvido nesse crime? De jeito nenhum, doutor Getulio. Eu tenho a guarda nas mãos, e não acredito que eu tenha sido traído. Nenhum deles ia fazer nada sem me perguntar. [Getulio Vargas [é um presidente corrupto. O senhor quer que eu mande dispersar? Eu quero saber quem está por trás desse crime. O senhor perdeu a confiança em mim, doutor Getulio? Esse tiro dado no pé do Lacerda atingiu as costas do meu governo. Pode ir Gregório. Meu irmão sabe que você veio atrás de mim? Não, ele não sabe. Doutor Benjamim, o Lacerda não podia continuar tratando o presidente como se ele fosse um bandido. Isso não se faz. Eu vou lhe falar uma coisa. Como quem confessa a um pai ou a um padre Não revele esse meu segredo por aí Ai, papai... é incrível que nessa idade o senhor ainda não tenha aprendido uma coisa tão simples. Você é muito mal criada. Soube do que aconteceu? -Gregório me contou na viagem. -Que viagem, meu irmão? Na viagem de Petrópolis para cá. Você não mandou ele me chamar? Mandei o Fitipaldi lhe chamar e não o Gregório. Sim, mas foi o Gregório quem me alcançou na estrada. Surgiu o nome de um homem da minha guarda... Climério... Você sabe quem ele é? O Gregório me falou que o sujeito foi meu comandado em 32. Parece que era muito dedicado, mas eu não me lembro. Você ajudou a escolher os homens da guarda. Não deveria saber quem ele é? É praticamente impossível o Gregório não estar metido nosso. É, essa também é a minha opinião. Climério Euribes de Almeida, investigador 763, guarda pessoal do Presidente da República. Lotado aqui, no Palácio do Catete. Esse homem foi denunciado pelo motorista de táxi como sendo participante do assassinato. Gregório, o que um integrante da guarda pessoal do presidente estava fazendo na rua Tonelero em frente a casa do Carlos Lacerda? Esse Climério não é elemento da minha confiança. Se ele não é elemento da sua confiança, como ele está na guarda que o senhor comanda? General, eu não faria nada que pudesse prejudicar o Presidente. Gregório, telefone agora para esse tal de Climério e mande ele vir já ao Palácio. -Boa noite General Zenório. -Boa noite pra quem, Gregório? Um momento, por favor. Doutor Getulio, o Climério não está em casa. E o Gregório disse que não sabe para onde ele foi. Mas como não sabe? Presidente, o Gregório se contradisse na conversa que tivemos com ele. A princípio ele afirmou que não tinha nenhuma relação com Climério, mas posteriormente nós viemos a saber que o Gregório é padrinho do filho do Climério. Major... Major, diga ao Gregório que ele está proibido de sair daqui do Palácio. -Agora, agora... - Presidente, os colegas do major morto estão culpando o senhor. Eles fizeram uma reunião enorme. O senhor perdeu o controle da situação, ministro? Se eu estivesse lá, isso teria sido resolvido rapidamente. General, não é uma questão de comando. E sim, que estratégia usar para acalmar os ânimos. Presidente, talvez seja o caso de o Exército fazer algumas prisões para mostrar que a situação está sob controle. Calma. Quem tem que ser presos, são os criminosos. E mesmo que um membro da guarda esteja envolvido, é necessário deixar bem claro que o Governo não tem nada a ver com isso. Patrão, -é preciso tomar uma providência. -Minha filha... General, dissolva a guarda imediatamente. Mas dissolver a guarda pode parecer uma confirmação de culpa. Isso não importa. E pode prender qualquer pessoa desse Palácio que esteja envolvida no crime. A ordem do Gregório é para você sumir. Eu só quero saber se eu estou preso ou não. Foi o doutor Getulio quem mandou? O senhor falou com ele sobre o assunto? Eu não posso falar. Eu não sou delator e nem quero aumentar ainda mais o sofrimento do meu irmão. Quem tem que falar é você. Eu não tenho que falar. Eu não sei o que falar. Obrigado. [O senhor Getulio Vargas [não é mais autoridade legítima [desde que se descobriu que gente sua [pode ser autora do atentado [da rua Tonelero. [Getulio Vargas já está deposto. [Vargas já esta deposto [moralmente por suas próprias mãos. [Presidente, de todo o coração eu faço esse apelo supremo. [Saia do poder se ainda queres merecer [algum respeito como criatura humana. [Já que perdeste totalmente o direito [de ser acatado como chefe do governo. Sua mãe não vem jantar? Obrigado. Ela vai jantar no quarto. Está exausta depois do velório. Não sabia que a sua sogra estava tão doente assim. -E o seu marido? -Está conformado. A morte da dona Alice, por um lado foi um alívio, porque já vinha doente a tempos. As meninas é que andam impressionadíssimas. A nova mania delas é fazer perguntas sobre a morte. Para onde a gente vai depois que morre? O que a gente faz? Imagina o senhor. Se vão encontrar comigo depois de mortas? Isso passa. Você sabia que a minha guarda presidencial tem mais de 80 homens? 80! -O senhor não sabia? -Não! Claro que não. Os que me cercam são sempre os mesmos. Não passam de 15 ou 20. Eu acredito que a renuncia é a melhor solução para acalmar os ânimos. Que ideia mais absurda, papai. Se o senhor renuncia, o povo faz uma revolução. Não vai comer, papai? A carne de São Paulo é melhor. Eu gostaria de ler aqui uma declaração assinada por sua Excelência, o Presidente da República, o sr. Getulio Vargas, onde ele diz: "Até agora eu considerava Carlos Lacerda meu principal inimigo. Mas agora eu o considero o meu inimigo número 2. O inimigo número 1, aquele que causou o maior prejuízo no meu governo foi o homem que atentou contra a sua vida." Afastar-se! Licenciar-se! Denunciar! São coisas que ocorrem nos países democráticos. Tem ocorrido muitas vezes, e muitas vezes são um remédio para males políticos sem remédios! Renúncia! Mas não é essa a disposição do nosso presidente. Sua Excelência tem o gosto pelo poder. Não confunda as coisas, deputado. As evidencias são enormes. O Presidente é culpado. -É? E onde estão as provas? -Os fatos dos jornais. Os jornais são pagos para achincalhar o presidente. Isso nunca abalou o Getulio. Ele não vai entregar o cargo. Ele está planejando um novo golpe. -Isso é impossível. -Getulio tem alma de ditador. Ele é incompatível com o regime democrático. O senhor está louco? Nós estamos em uma democracia, deputado. Getulio foi eleito pelo voto. E as eleições para escolha de um novo presidente já foram marcadas. O senhor acha sinceramente que um homem que perseguiu e torturou os seus opositores como ele fez vai de repente se tornar um "sem ação"? Deputado, ditador é como mal caráter. Não muda, só tira férias. Eu posso esperar, major Tenente, se o senhor me adiantar o assunto, talvez o presidente possa recebê-lo. Eu não posso, major. É um assunto pessoal, obrigado. Já existem fortes indícios que o secretário da guarda, João Valente, pode estar envolvido no crime. Abrindo um inquérito militar nós podemos prender o sujeito por quanto tempo quisermos. Estão transformando um cadáver em cabo eleitoral. O que a Aeronáutica quer com esse inquérito é usar o major morto para eleger mais deputados. Quem a Aeronáutica quer que comande o inquérito? Doutor Getulio é melhor não fazer. O nome terá que ser aprovado pelo senhor. A Aeronáutica sabe que só pode fazer com a sua autorização. Quero que apure tudo. Doa a quem doer. Eu não tenho medo. Diga que eu mandei fazer. Ministro, eu estive com o o vice-presidente, Café Filho, e ele se recusa a tomar qualquer medida que possa levá-lo à presidência Essa atitude me fez vir até aqui para propor ao senhor a deposição do presidente Getulio Vargas. Getulio não está envolvido nesse crime. Eu não vou trair o Presidente. Deixa eu lembrar ao senhor... Eu sou o Ministro da Guerra do Presidente da República. General, a sua escolha é muito simples. Ou o senhor trai o Presidente ou o senhor trai o seu país. O senhor sabia que milhares de pessoas estão fazendo um baderna infernal no centro da cidade neste exato momento? Gente que assistiu a missa de sétimo dia do major e depois marchou para a Cinelândia quebrando tudo. Está percebendo o que está fazendo com o seu país? Isso é consequência da insatisfação do povo, general. É óbvio que o conflito está existindo porque o senhor está fugindo com as suas responsabilidades. Se o senhor quiser eu posso ir lá e acabar com o tumulto. É só o senhor me autorizar a dizer que vai convidar o Presidente da República a renunciar. Isso é um absurdo! Eu não autorizo o senhor a nada! A POLÍTICA FRANCESA EM RELAÇÃO AOS PROBLEMAS DA SEGURANÇA EUROPÉIA COMEÇOU A IMPOSTURA DOS MANDANTES MILHARES DE PESSOAS NA BAHIA, PELA RENÚNCIA FORÇAS ARMADAS REPELEM CONVITE AO O GOLPE. Meu irmão ligou de Roma. Está sabendo do atentado e está preocupado. Essa Lua de Mel do seu irmão não acaba nunca. E eu que nunca sai da América do Sul. Ora papai, chances é que não faltam. Pegue os óculos escuros, ali pra mim por favor. Falou com a mamãe hoje? Estive no quarto dela, mas não a encontrei. E seu irmão, afinal, quando é que ele vem? -Está para voltar. -Ótimo. Ainda bem, ele vai chegar a tempo do meu funeral. Ah, papai... Que bobagem. Vamos lá minha filha. A polícia identificou o homem que atirou no major. Chama-se Alcindo. Parece que é mesmo associado ao Crimério da guarda. Doutor Getulio, se realmente for provado a participação de um integrante da guarda o Lacerda e o Brigadeiro vão vir para querer derrubar o governo. Um Brigadeiro e um jornalista candidato a deputado não podem derrubar um Presidente da República. Meu irmão, você tem que tomar uma atitude. Acabar com esses cafajestes. Obrigada. -Olá, Darcy. -Olá. -Estou indo para Belo Horizonte. -Sim, eu sei. Getulio... -Boa viagem. -Obrigado. Estou de volta depois de amanhã. -Oi, mamãe. -Oi, meu amor. Renúncia! Renúncia! O Presidente tem que renunciar. Foram os capangas dele que mataram o major. -Chega! -Calma... A polícia precisa apresentar provas. Senhores, a Constituição está de pé. Renúncia... Renúncia... Alcindo João do Nascimento, matei o major porque ele pulou pra cima de mim e segurou a minha arma. Mas a encomenda era para matar o doutor Lacerda. Quem mandou matar? Eu fiz uma pergunta. -Boa noite. -Boa noite. Onde está a chave? Vê se está no outro bolso. Achou, papai? Vamos indo pela garagem. -Pai, o que é isso? -Me obedece. Faz o que estou mandando, entre no prédio. Não. Eu já estou indo. Com licença. Trabalhadores do Brasil enquanto eu planto usinas para a emancipação econômica do país meus adversários plantam a desordem nas ruas. Mas eu não vou permitir que levem o país ao caos. A justiça cumprirá o seu dever com independência e o povo nas próximas eleições manifestará livremente a sua vontade. Viva Getulio! Presidente, bem-vindo. Olá Tancredo. Prenderam o tal de Alcino. Ele confessou ter atirado no Major, mas tem uma coisa ainda mais grave. Diga. O prisioneiro incriminou o Lutero. O Alcino declarou que quem mandou matar o Lacerda foi o Lutero Vargas, filho do Presidente. O assassino foi preso. Tem algo a declarar presidente? Presidente, uma pergunta... Eu não tenho nada a ver com isso, meu pai. Lacerda me acusa de tudo em seu jornal. Vontade não me falta, mas eu sei que qualquer atitude contra ele iria recair sobre o senhor. Eu já imaginava, mas eu precisava ouvir isso da sua própria boca. Eu vou prestar depoimento no Galeão. Vou abrir mão da minha imunidade parlamentar. Se tiverem provas contra mim, que me prendam, mas não terão. Venha cá. Faça o que for preciso, meu filho. Mas eu tenho que saber quem foi que preparou tudo isso contra você. Vá. [Atenção, atenção! [Acaba de chegar a notícia [de que oS suspeitoS de envolvimento [no atentado que vitimou o major Vaz [estão sendo interrogados nas [dependências da Aeronáutica no Galeão. [A qualquer instante, os oficiais [responsáveis pela investigação [devem divulgar detalhes sobre [o mandante do crime hediondo. Senhor João Valente, e o dinheiro? O senhor sabe de onde veio os 50 mil Cruzeiros que seu chefe, o Gregório Fortunado entregou? Era dinheiro para financiar a campanha de um deputado. O senhor entregou o dinheiro para quem? Eu entreguei para o Soares. Senhor Soares, o que o senhor fez com o dinheiro que recebeu do secretário da guarda? Uma parte eu entreguei ao Climério, a outra para o Alcino. O pistoleiro Alcino disse que foi o senhor que forneceu a arma. O senhor confirma? Climério, a ordem de matar veio de quem? Quem deu a autorização foi o tenente Gregório. Ele é o meu chefe na guarda. Mas doutor, eu trabalho para família Vargas há mais de 20 anos, e o tenente também. O senhor está querendo dizer que foram os Vargas que mandaram matar? Não senhor, não estou dizendo isso. Tem alguém acima do tenente Gregório envolvido nisso? Essa gente diz que eu sou sujo e que os Gregórios são sujos. Mas se eu tivesse feito a sujeira que o brancos limpos do Galeão queriam que eu fizesse e dissesse todas as mentiras que eles queriam que eu dissesse sobre o Presidente Vargas agora todo esse pessoal que está doido para rebentar com os Gregórios estariam anunciando que eu não tive culpa. Que eu era um santo. Que eu era um anjo, e até me chamariam de negro de alma branca. O Anjo Negro, Gregório Fortunato, chefe da guarda presidencial, o secretário da guarda, João Valente, o membro da guarda, Climério, o contratante Soares e o pistoleiro Alcino, todos a serviço de um único chefe... Perante Deus eu acuso um só homem pelo assassinato do major da Aeronáutica e pelo tiro que me atingiu... Esse homem é o Presidente da República, Getulio Vargas. Finalmente... Pela primeira vez um Vargas vem me visitar. Não vim como amigo pois você me acusou de ser o mandante do crime. Eu li a sua confissão. Vim saber da verdade. Você não é burro. Quem te pagou para fazer tamanha idiotice? Eu não sei de nada, doutor Lutero. Eu fui dopado pelo pessoal da Aeronáutica para assinar essa confissão. Puseram meu corpo pra fora do avião, me ameaçaram de morte... Quem te pagou para fazer isso? É verdade que o Gregório é responsável pelo atentado contra o Lacerda. Tudo indica que sim. -E você sabia disso? -Eu estou velho mas não sou burro. É claro que eu não sabia. O que nós vamos fazer? Eu não sei. Mas você não precisa se preocupar com isso. Vamos deixar como está para ver como é que fica. O Zenóbio falou em uma reunião que estava demissionário, o que é mentira. Ao em vez de unir, os três ministros militares estão nos dividindo. Eles sabem que eu não vou concordar com nenhuma manobra. E querem me excluir. Mas eu sei, presidente, que o meu cargo está nas suas mãos. General, o senhor fez uma reunião, não me chamou, e disse aos oficiais presente que eu havia pedido demissão. A quem eu pedi demissão? Ao senhor? Calma ministro, eu não disse isso. Eu fui mal interpretado. O que quis dizer então, senhor? Calma, você está muito nervoso. Não adianta tapar o sol com a peneira, o senhor é um mentiroso. É melhor você voltar para casa. O senhor está me chamando de traidor, ministro? Justo o senhor que não faz nada para acabar com aquela subversão na Aeronáutica. Deixa o Eduardo Gomes tomar conta daquele ministério. Numa crise dessas se nós não estamos trabalhando em conjunto é porque você está tomando atitudes isoladas. -Agindo a seu bel prazer. -Para, para... Já ouvi, só um minuto... Eu vou lhe dizer uma coisa, ou o senhor perdeu a sua autoridade ou nunca teve. Com licença. Por isso você tem chamado os meus oficiais a sua casa? Para tratar de problemas da Aeronáutica? -Para. Você está piorando as coisas. -Eu sei a hora de me retirar. Com licença. Dona Alzira, por favor. Então... Já decidiu quem vai ser o novo ministro da Aeronáutica? Nero Moura é fiel, mas não tem autoridade sobre seus comandados. Eu gostaria que ele ficasse, mas não tenho como. É impossível que Gregório tenha feito isso sozinho. Não acusa ninguém, -não fala de mandante de nada. -Impossível! -Doutor Getulio. -Sim. -O senhor aceita uma sobremesa? -Hoje não. O charuto, por favor. Calma pai. O senhor sabe que a acusação contra o Lutero foi retirada. A esposa do pistoleiro confessou que foi orientada a acusar o filho do presidente. O Gregório ficou louco? Não percebe que está incriminando todos nós? Como é possível que ele tenha feito uma besteira dessa contra mim? Calma, pai. DEIXO À SANHA DOS MEUS INIMIGOS LEGADO DA MINHA MORTE Eu quero que você me ajude com esse discurso. LEGADO DA MINHA MORTE Eu quero que você me ajude com esse discurso. Eu quero algo que fale da espoliação do povo. Tem que ser um texto bem incisivo, de acordo com a gravidade do momento. É, está bom. Está bom Getulio, muito bom. Eu estou pronto para resistir, meu amigo, mas eu não sei até onde eles vão. Eu não acredito que as coisas cheguem a esse ponto. Eu já fiz documentos assim anteriormente, eu já fiz... Faz parte da minha vida. Mas uma coisa eu posso lhe dizer: Se eles entrarem aqui à força, eu vou responder a altura, Maciel. Já atravessamos situações mais difíceis do que essa e no final, tudo acabou bem. Maciel... Maciel... Eu gosto desse seu otimismo. Eu gosto! Vasculharam, tudo, tudo, Nos armários do Gregório no quarto dele aqui no Palácio. Suborno a funcionários do governo para obter licençaS de importação no valor de 13 milhões de dólares. Pedidos de transferências de funcionários e proteção assinadas por altas personalidades da política. Bilhetes de bicheiros dando dinheiro a guarda presidencial. É muito dinheiro por baixo do pano, doutor Getulio. Até a mulher do tenente Gregório tem uma firma com capital de 2 milhões de cruzeiros. A dona Juraci anda em carro oficial, tem uma secretária particular e ganha salário como funcionária dos Correios. Naturalmente ela não tem a menor ideia de onde fica o Departamento dos Correios. E o mandante? Por enquanto, nada. Mas o Gregório continua sob interrogatório. Com licença. Tenente Gregório, se até o irmão do presidente fugiu, não é o senhor que vai bancar o herói. Seus amigos te abandonaram. BENJAMIN VARGAS FOGE PARA MONTEVIDEU O Benjamin Vargas fugiu? Esse jornal é filho único de mãe solteira. O pessoal do Lacerda que fez. É de mentira. serve só para o Gregório abrir o bico. Vamos lá, Gregório, já que você não quer falar sobre o atentado contra o Lacerda, Me explica como você conseguiu dinheiro para comprar uma fazenda. Como é possível que um chefe da guarda pessoal do Presidente da república tendo um salário oficial de 15 mil cruzeiros pudesse dispor de avultadas quantias a ponto de comprar por um total de 3 milhões e que pagou adiantadamente 2.6 milhões de cruzeiros uma fazenda ao senhor Manoel Vargas, filho do Presidente da República. Como conseguiu tanto dinheiro? Isso não tem cabimento. É uma exploração. Esses jornais me perseguem. -Esse é um documento falso. -Pai... Que fazenda é essa que o meu irmão vendeu ao Gregório. O Maneco ficou encarregado de vender a fazenda São Manoel. Isso foi no ano passado. O Maneco não comentou com o senhor que tinha vendido a fazenda ao Gregório? Eu vou ligar para o meu irmão. Quero saber direitinho desse assunto. Dona Alzira, por favor, nós precisamos agir com prudência. O assassinato do major está sendo esclarecido e nesse caso não há nada contra o presidente. Isso é muito grave. Pode ir general. Com licença. Dona Alzira, preciso falar com a senhora. O "Olho Bobo" estava arrumando os papéis do presidente quando encontrou isso sob a mesa do gabinete. O que a senhora acha? O que foi? O que aconteceu? O que você está fazendo aqui? É sobre isso aqui. "A sanha dos meus inimigos deixo o legado de minha morte." Onde você encontrou isso? Na mesa do seu gabinete, junto com outros papéis. Quem mandou você ser bisbilhoteira? Quem manda você deixar bilhetes como esse ao alcance de uma bisbilhoteira. Não é o que você está pensando, é apenas... Trata-se de notas. Notas para um discurso. Uma carta. Um documento de resistência, nada mais do que isso. Agora na minha idade o senhor quer que eu comece a sofrer do coração. Não seja boba, Alzira. O que é isso? Isso é pra... Uma extrema necessidade, caso... o nosso Palácio seja invadido. Só isso, nada mais do que isso. Eu não estou pensando nisso. Eu fiquei assustada. Nem pense nisso. Minha filha, se eu tivesse a certeza de que a minha renuncia iria trazer tranquilidade, e que eu teria... absoluta... tranquilidade para os meus dias de sossego, eu... Eu renunciaria. Estou farto, cansado, velho demais para aceitar essas injustiças que pretendeM me atingir. Fique tranquila. Obrigada, patrão. Patrão não... Papai... Papai. Agora me deixa dormir. Vá Alzira, me deixa dormir. RENÚNCIA DO PRESIDENTE INSISTE A MINORIA GETULIO QUER RASGAR MAIS UMA CONSTITUIÇÃO GENTE DO CATETE GANHA MILHÕES EM NEGOCIATAS Getulio Vargas tenha a coragem de perceber que o seu governo é hoje um estuário de lama e sangue. Verifique a sua guarda pessoal, homem ela é o subsolo de uma sociedade em podridão. Tome aquela deliberação que é a última que um presidente na sua posição pode tomar. Não permaneça no governo se não for digno de exercê-lo. Como é vice-presidente? -Já veio assumir? -Não dona Alzira, estou muito cansado e tenho o coração fraco. A informação que trago é que agora os oficiais estão pressionando os seus chefes para colocar as tropas nas ruas contra o governo. -O que o senhor sugere? -Querem que o senhor renuncie e eu assuma no seu lugar. Pois bem, presidente, eu tenho uma proposta diferente. Vamos sacudir o país com uma ideia, já que nós fomos eleitos juntos na mesma chapa. Vamos renunciar juntos, agora. Uma renúncia conjunta? Vamos escolher uma pessoa da sua confiança, um político anfíbio. Entre governo e oposição. Renunciamos os dois juntos e em seguida vira me buscar uma patrulha da Aeronáutica e me leva daqui do Palácio preso. Diga logo o que eu preciso saber. Quem mandou? Foram eles. O doutor Roberto Alves, o deputado Evaldo Lorde, o deputado Danton Coelho, e o general Midas de Moraes. Todos ele disseram que eu devia bombardear o Lacerda. Um deles disse que eu podia comprar um terreno na Rio-São Paulo, cavar um poço, jogar o corpo do Lacerda e depois tampar. Isso que você está falando muda tudo. Você tem provas? Eles pediram, mas eu não aceitei fazer aquilo. Eu confesso ao senhor que eu mandei acompanhar o Lacerda, isso foi uma decisão minha. Mas desde quando você tem autonomia para tomar uma decisão dessas? O Lacerda tinha que saber que nós estávamos de olho nele. Major, a nossa intenção não era matar ninguém. O crime foi uma armação, eu dou a minha palavra. Armação de quem? Do jeito que a coisa está a culpa recai sobre o presidente. Papai, o senhor está tendo preocupações demais para um homem da sua idade. -Onde é a dor? -Onde fica o coração? -Dois dedos do mamilo esquerdo. -O quê? Aqui. Aqui? É onde dói? Eu não tenho certeza, meu filho. Essa é a posição da Aeronáutica. A essa altura o presidente já tem conhecimento desse documento. Quer dizer então que quando os oficiais da Aeronáutica acharem que o presidente não serve, vão correr um abaixo assinado numa ação entre amigos -para depor o presidente, é isso? -Nós não queremos revolução. Queremos a ordem. O que está aí é a desordem e a bagunça. Os oficiais da Aeronáutica reafirmam sua determinação em permanecer dentro da ordem. Consideram que a presente crise nacional só poderá ser resolvida satisfatoriamente com a renúncia do Presidente da República. Presidente, a Marinha também pede a sua renúncia. A minha sugestão é a prisão dos militares que assinaram o manifesto. O simples fato de assinar já é o suficiente para a prisão disciplinar rigorosa. Também deveríamos solicitar o estado de sítio assim que a mensagem chegar ao Congresso, muda o ambiente. Não. Isso não é necessário. Os criminosos já estão presos. Os fatos devem continuar sendo averiguados. Não devemos dar mais pretextos aos militares. Não há com o que se preocupar. Se a Aeronáutica e a Marinha forem além de um manifesto num pedaço de papel, eu tenho como contê-los. Então por que o senhor não poe... o exército no clube da Aeronáutica e no clube Naval? São movimentos subversivos que precisam ser proibidos. O senhor não faz nada. Depois do manifesto da Aeronáutica vem o manifesto da Marinha. O senhor não se surpreenda se aparecer um manifesto do Exército. Eu asseguro ao senhor que do Exército não vai surgir nada. Positivamente o único homem que não pode mexer na Constituição do país, sou eu. Eu já rasguei duas. Não posso fazer isso de novo. Mas nós precisamos confiar no nosso Ministro da Guerra. As Forças Armadas estão sobre controle. Ele não vai fazer isso. Eu conheço ele bem. Ele é o meu pai, Tancredo. Mas o presidente não pode ficar paralisado com complexo de ditador. Meia dúzias de prisões e acaba essa palhaçada dos militares. Ele não vai tomar nenhuma atitude de força. Mas isso é uma conspiração, Alzira. Eles estão induzindo a opinião pública para assegurar um golpe. Meu pai foi ditador e isso nunca lhe pesou nas costas. Agora ele não vai agir como se estivesse numa ditadura. Nem que isso custe o seu próprio governo. A confirmação da venda da fazenda deixou ele muito abatido, Alzira. Você precisa convencer o seu pai a reagir. Eu sei, eu sei, eu sei... O ÓDIO, AS INFÂMIAS... A CALÚNIA... MINHA MORTE, NADA MAIS VOS POSSO DAR... A NÃO SER MEU SANGUE. NO CAMINHO DA ETERNIDADE... Melhor do que a encomenda. Esses anos todos pelo menos serviram para alguma coisa. Você, Maciel, me conhece muito bem. Ninguém conhece ninguém tão bem, Getulio. Meu amigo, eu confesso que eu... Eu ando muito cansado. Ando com saudades, saudade de São Borja. Saudades do churrasco, do chimarrão. Então por que você não pega um avião e encerra com tudo isso aqui, e vai embora matar a saudade? Não é isso, não. Eu ainda não posso. Ainda não. Tudo tem a sua hora. Menos a morte, que parece sempre chegar de repente. Você sabe que... daqui a 4 dias, 24 de Agosto... É, daqui a 4 dias, meu filho, o Getulinho... Esse guri faria 37 anos. Já são 11 anos... 11 anos que ele morreu. Meu Deus! 11 anos. 11... Você sempre soube que o Gregório estava envolvido nisso. Gregório me contou quando foi a Petrópolis me chamar. Mas não adiantava nada falar com você. Quem disse a você que não adiantava nada? Eu achei que naquele momento o melhor seria você não saber. Benjamin, quem tem que achar aqui, sou eu. Eu... O que você fez foi uma traição. Esses militares são uns canalhas. Estão usando o Gregório Para dar um golpe. -Você ainda pode agir. -Os militares agem como militares. É assim que eles funcionam, eu já conheço. Benjamin, eu aqui me preparando para uma guerra e você me vem com silêncioS. Sinceramente, com aliados como você eu não preciso de inimigos. O Exército depôs. O povo repôs, o Exército vai lhe opor de novo. -Não existe uma prova contra ele. -Mas existe contra o governo dele. Isso é a mesma coisa. Quem fez foi gente comandada por ele. O Gregório foi seu cão de guarda durante mais de 15 anos, mandando matar e roubar. General, o senhor se sente pessoalmente responsável por todos os atos dos seus comandados? Eu não escolhi os meus comandados. O presidente escolheu. Getulio não poderia deixar isso tudo acontecer dentro da sua própria casa. VocêS sabem que Zenóbio vai resistir. Isso tudo pode se transformar numa guerra civil. O Zenóbio não tem escolha. Ele não seria capaz de enfrentar a insubordinação dos seus comandados. Esse manifesto só pode ser liberado quando tiver o número suficiente de assinaturaS para forçar a renúncia. General, o senhor sempre foi contra o Presidente. Até mesmo quando ele criou a Petrobrás, o senhor o atacou, dizendo que não tinha cabimento o petróleo ficar nas mãos do Estado. Senhores, seria correto forçar a renúncia de um Presidente apenas por questões ideológicas? A questão aqui não ideológica, e sim de moralidade pública, General. Não é possível que não perceba a que nivel de corrupção chegou esse governo. Se não concorda com o documente, não assine. Os arquivos de Gregório mexeram muito mais com a opinião pública do que com o atentado contra o Lacerda. Eu poderia ter proibido a entrada da polícia aqui no Palácio, mas não fiz. Não tenho medo. Acontece Getulio que os fatos revelados pelos arquivos não tiveram nenhuma contestação do governo. O povo anda dizendo que a pessoa mais distante do Catete envolvida nesse crime era o motorista do táxi. Ele fazia ponto a 50 metros daqui e deu fuga ao assassino. Eu entendo a sua atitude, mas o que eles querem e que eu não presida as próximas eleições. Eles tentam me escorraçar do Palácio como se eu fosse um criminoso. Ma eu não cometi crime nenhum. Esqueça a sua proposta. Eu não renuncio de maneira alguma. Foi diante desse estado de coisas que em alguns círculos se começou a admitir a hipótese de uma solução através da transição do poder supremo ao vice-presidente da República. Ignorante! Se elegeu nas suas costas e agora faz acordos por debaixo da capa contra o senhor. O senhor precisa preparar uma resposta imediatamente deixando claro se vai ou não aceitar a renúncia. Uma acusação como essa não merece resposta. Eu não vou renunciar. Eu não vou sair desse governo enxovalhado. Não vou sair com essa pecha de condescendência com roubo e assassinato. -Papai... -Não, eu não vou. Eu ficarei no governo o tempo que for necessário para poder defender o meu nome. Já existe um manifesto dos generais. Estão colhendo assinaturas para forçar a sua renúncia. Quantos generais assinaram o manifesto? De 80, 37 já assinaram. Presidente, apesar do adiantado da hora eu sugiro que a reunião ministerial seja convocada imediatamente. É preciso tomar uma decisão sobre o futuro do governo. -Já estão todos aí? -já. Acredito que a maior parte do Exército não está disposta a combater a Aeronáutica a Marinha. Eu sou a favor da resistência armada. Se o General Zenóbio me der tropas, eu prendo. Não seja por isso, eu te dou uma tropa ara comandar e você vai lá e prende o Eduardo Gomes. Ministro, alguns generais estão reunidos no ministério exigindo a renúncia. Por que o senhor não vai falar com eles? Almirante, aqui quem fala em nome do Exército sou eu. O senhor se quiser, fale em nome da Marinha. [Eu defendo expressamente [a renúncia do culpado. Eu temo que uma resistência armada nesse momento possa provocar derramamento de sangue, muito sangue. A decisão portanto, sr. Presidente, é exclusivamente sua. Desculpe patrão, mas eu não posso ouvir tudo isso calada. General, o senhor bem sabe que essa conspiração é de Gabinete. Os generais que assinarem esse manifesto ???(inteligível)... A vila militar é???(inteligível)... Sem a vila militar, pode alguém dar um golpe nesse país? Me respondam. Eu obtive essa informação na vila militar. Nos termos que o ministro está colocando, a renúncia não é um ato espontâneo... Eu opto pela resistência pessoal... Não podem aceitar passivamente a indisciplina dos seus subordinados. Tem que cumprir a constituição. Vamos colocar as tropas nas ruas custe o que custar. Não venham depois me responsabilizar pelas consequências. Bem, já que os senhores não decidem, eu vou decidir. A minha determinação é de que os ministros militares mantenham a ordem e o respeito a Constituição. Nessas condições, estarei disposto a solicitar uma... licença, até que se apurem todas as responsabilidades. Caso contrário, se resolverem impor a violência e chegar até o Catete, só levarão daqui o meu cadáver. Boa noite, senhores. Getulio. Getúlio... Getúlio... Esse é o nosso deputado. Agora sim, fim à corrupção. [Aqui estou eu [no dia da redenção nacional, [no dia de São Bartolomeu, [para declarar que Getúlio Vargas, [esse covarde, [não está licenciado, [ele está é deposto. [O lugar dele é no Galeão [ou no estrangeiro, [e deve apodrecer na cadeia. Getúlio, eles estão aí. O general diz que eu tenho que ir a Base Aérea do Galeão. O que eu faço? Querem que você vá ao Galeão depor a essa hora, por quê? Não sei. Bem, a menos que seja uma armadilha para me retirar daqui e me prender. Não vá. Se eles querem o teu depoimento, que venham aqui. Pai... Fala minha filha. -Você ainda não foi dormir? -Eu durmo quando eu quiser. Então vá embora e me deixe dormir, filha. Pai... A Vila Militar permanece fiel. Se você pedir ao Zenóbio ele ordena ação militar contra os golpistas. O senhor me dá a senha e eu mesma falo ao telefone. Os tanques vão para as ruas e inverte essa situação e pronto. Pai, Você não precisa nem levantar. Quando acordar vai ser senhor absoluto da situação. Não se iluda, filha. Zenóbio vai ser ministro no novo governo. O meu vice o convidou. Por que você não me falou isso antes? Filha, eu estou a tantos anos no poder quase nunca me pediram algo para o país. Sempre me pediram algo para alguém. Sempre... Deixe-me dormir, filha, que eu estou exausto. Tudo acaba como começa. Senhores, o Zenóbio comunicou a licença, e quando perguntaram se o doutor Getúlio ia voltar, ele respondeu que apesar dos termos da nota redigida ele ouviu em conversa entre alguns ministros que a licença é definitiva. O Zenóbio disse isso? As palavras deles foram: A licença é pro-forma, ele não voltará. Meu pai não vai renunciar. Eu tenho certeza disso. Veja bem, o Presidente precisa saber disso imediatamente. Eles não aceitaram a licença temporária. Zenóbio disse aos oficiais que você não vai voltar. Isso significa que eu estou deposto? Não sei. Vivo eu não me entrego. Vá. Vá ver como estão as coisas e passe tudo a limpo. Vá, Benjamin. Vá. [Eu aguardo. Dona Alzira, a senhora viu? -O Presidente já acordou. -Eu já vi. Eu vou lá. General, alguma novidade da reunião do Ministério da Guerra? O que foi? Com licença, Presidente. -O senhor precisa de alguma coisa? -Feche a porta, por favor. Sim, senhor. Não... Não... Pai... Pai... pai... [Aos que pensam que me derrotam respondo com a minha vitória. [Tenho lutado de peito aberto. [O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram o meu animo. [Eu vos dei a minha vida agora ofereço a minha morte. [Nada receio. [Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade. [E saio da vida para entrar na história *END*