00:00:13:10 o analfomegabetismo Somatopsicopneumático o analfomegabetismo Somatopsicopneumático Tanto faz, como tanto fez No sul como no norte Que também significa Deus é quem decide minha sorte o analfomegabetismo Somatopsicopneumático o analfomegabetismo Somatopsicopneumático o analfomegabetismo Somatopsicopneumático 00:02:28:19 -Sonado, você precisa... -Precisa arranjar... -É, sim. Esses bancos. 00:02:36:19 Gilberto e Caetano, nomes bastante positivos da moderna música vanguarda do Brasil. Considerados, desde o início, como dois dos grandes responsáveis por um movimento musical no Brasil integrado, aliás, no movimento geral, chamado "Tropicalismo". No entanto, parece-me que se pode pôr, nesse momento, que era o Gil e que era o Caetano esta pergunta: "A música que eles fazem hoje ainda deve ser subordinada a uma classificação geral de Tropicalismo?" 00:03:35:18 Não. Eu acho que não. Porque o nome de um movimento só existe enquanto o movimento existe, e o Tropicalismo não existe mais como movimento. Ele frutificou. O que nós tentamos fazer chamou a atenção dos outros compositores novos brasileiros. Eles foram, de certa maneira, e modéstia a parte, influenciados pelas nossas ideias. Mas nós já não estamos no Brasil e já não há o Tropicalismo como movimento, entende? De modo que, o que a gente faz hoje, é irresponsável com relação ao movimento Tropicalista. Embora… 00:03:40:20 É habitual que haja, dentre os espectadores, algum inglês e, portanto, pra ele, eu gostaria que explicasse o que é o Tropicalismo. 00:03:50:11 Well… 00:04:41:15 Prometo manter, defender e cumprir a Constituição. Observar as leis, promover o bem geral e sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil. 00:05:02:16 Parece um cordão sem ponta Pelo chão desenrolado Rasgando tudo que encontra, A terra de lado a lado Estrada de Sul a Norte, Eu que passo, penso e peço Notícias de toda sorte, De dias que eu não alcanço De noites que eu desconheço, De amor, de vida e de morte Eu que já corri o mundo Cavalgando a terra nua Tenho o peito mais profundo E a visão maior que a sua Muitas coisas tenho visto Nos lugares onde eu passo Mas cantando agora insisto Neste aviso que ora faço Não existe um só compasso Pra contar o que eu assisto 00:05:47:15 Bom, Tropicalismo... Sim, eu não fiz parte propriamente do movimento Tropicalista, mas eu endossei porque eu achei do maior talento. 00:05:55:07 Carcará, lá no sertão É um bicho que avôa que nem avião É um pássaro malvado Tem o bico volteado que nem gavião 00:06:14:02 Eu conheci o Caetano na Bahia, nessa excursão que eu fiz pelo Brasil, em 64. Foi quando eu conheci Bethânia. Realmente, naquele tempo, quem mais me impressionou, do grupo, foi Bethânia. 00:06:25:12 Carcará mesmo assim num passa fome Os burrego que nasce na baixada Carcará! Pega, mata e come Carcará! Num vai morrer de fome 00:06:39:13 Ela é, de certa forma, uma das deflagradoras do Tropicalismo. E quando apareceu, ela é tão individualista que ela não... ela insuflou, mas não quis... não quis participar. Não queria estar nem em turma, nem em movimento. 00:06:54:16 Ele puxa no bico inté matá Carcará! Pega, mata e come 00:06:59:17 Havia toda uma... uma cultura de esquerda nacionalista e anti-imperialista, mas, justamente, eu nunca fui muito tomado por isso, não, porque eu sempre fui muito desconfiado desses sentimentos de nacionalismo que tomam as pessoas em grande número de forma muito fácil. Nem mesmo das adesões à determinadas ideologias, que também me pareciam acontecer com facilidade demasiado grande. Eu admirava muito o cinema americano e, mais que isso, a canção americana. Então, o antiamericanismo me soava já, desde sempre, um pouquinho... algo raso. 00:07:42:15 Carcará! Não vai morrer de fome Carcará! Mais coragem do que homem Carcará! Pega, mata e come 00:08:22:00 Quando eu cheguei no Rio, eu vi o "Terra em Transe". E vendo o "Terra em Transe", eu disse: "A gente não pode ficar nesse negócio que a gente tá, entendeu? O negócio é... A gente tem que fazer um negócio... que fosse uma coisa que rompesse aquele lugarzinho protegido onde a gente vivia na zona sul do Rio, com o pessoalzinho da segunda fase da Bossa Nova, entendeu?" 00:08:48:02 Quando Pero Vaz de Caminha descobriu que as terras brasileiras eram férteis e verdejantes, escreveu uma carta ao rei: "Tudo que nela se planta, tudo cresce e floresce." E o Gauss, na época, gravou. 00:09:02:13 É "Terra em Transe", "Tropicália", "O Rei da Vela"... Relações existem, mas são relações... Eu não sei se tem relação nenhuma, não, sabe? Esse papo, aliás, eu já enchi o saco desse papo de Tropicalismo, sabe? De forma que Tropicalismo, pra mim, é Caetano e Gil. O teatro do Zé Celso Martinez é a explosão do teatro revolucionário no Brasil que lidera a luta aí no teatro do terceiro mundo, e "Terra em Transe" é filme meu e eu não vou falar, quer dizer, de forma que... 00:09:30:05 -Sou o rei da vela! 00:09:32:15 O disco onde tem a canção "Tropicália" estava pronto. "Alegria, Alegria", "Tropicália"... E eu fui assistir... Não tinha sido lançado o disco, mas estava pronto. Fui assistir ao "O Rei da Vela". Meu queixo caiu e eu disse: "Mas isso aí é Tropicália!". Minha canção... É tudo o que eu queria! Eu não conhecia o Oswald de Andrade. Fiquei apaixonado por aquele negócio. 00:09:56:06 De Oswaldo de Andrade, a herança mais forte são duas frases, que eu acho, inclusive, que são as frases determinadoras da organização do nosso grupo: "Pela unificação de todas as revoltas numa direção só" e "Pela contribuição milionária de todos os erros". Isto é, é uma salada antropofágica, é uma mistura de todos os erros desse país que recebeu demais e filtrou muito mal nosso pensamento. Mas, enfim, a contribuição de tudo para uma grande síntese transformadora. "Ó, criador das elevações artificiais do destino, eu vos maldigo. A felicidade do homem é uma felicidade guerreira. E viva a rapaziada. O gênio é uma grande besteira." 00:10:39:03 Eu vos maldigo! A felicidade do homem é uma felicidade guerreira. E tenho dito! E viva a rapaziada! 00:11:01:23 Entre 1964 e 1968 foi, acho, a meu ver, uma época, assim, muito fértil de, principalmente, coisas de participação do espectador. E eu comecei a fazer as capas Parangolé, em 64, e havia uma opção, assim, de coisas públicas que foram feitas. 00:11:26:16 "Tropicália" era uma obra minha de 1966, 67. Quem eram as peças sendo uma... do ambiente. Aí o Luiz Carlos Barreto conhecia e ouviu falar, e falou com Caetano, aí o Caetano gostou do nome, aí fez a música. 00:11:45:17 Luiz Carlos Barreto viu o negócio dele no Rio e, tendo ouvido minha música aqui em São Paulo, disse que a música devia se chamar "Tropicália", entendeu? 00:11:59:00 Tropicália, para mim, não era só um título de uma obra. Era, como se fosse, assim, uma... uma posição diante das coisas e... uma posição estética, e Glauber fez o quê? Nós fizemos o "Câncer", de Glauber, lá em casa, que é o primeiro filme experimental, no qual eu e Rogério Duarte e Tineca somos atores. E Armandinho que era o maior batedor de carteira do mundo... 00:12:32:00 Vamos devagar! Esse negócio aqui não pode ser assim, não. Esse palco aqui tem que ser mais democrático. Você, que é a favor da democracia, o que você me diz dela? Acha uma coisa bacana ou...? O que você acha? Ou você acha que a democracia só é para algumas pessoas ou nem sempre funciona a democracia? 00:13:00:05 Na Grécia, a democracia era para um décimo da população. 90% era de escravo, de escravo, de escravo, de escravo. 00:13:14:21 O Rogério Duarte, que era meu amigo, se tornou meu amigo, era escritor mais artista gráfico. Ele já olhava para expressões, assim, da cultura de massa, e ele dizia: "Mas esse pessoal fica com esse negócinho de bom gosto, esse pessoal 'universotário'." 00:13:35:20 A estética, o que se diz a estética da Tropicália, era a única que comportava as minhas contradições, entendeu? Em todos os níveis. Entre o malandro e o erudito, entre o baiano e o carioca, entre o... entre o... o europeu e o africano. Em suma... Porque a Tropicália vem a ser, realmente, um pouco a busca de uma síntese, não é, entre ideias totalmente contraditórias. 00:14:11:18 Da loucura... 00:14:14:00 Eu sempre critiquei a ideia de se considerar o Tropicalismo como um movimento da música popular brasileira. 00:14:27:01 -Eu vou te matar. Eu preciso te matar! -A Tropicália… 00:14:30:09 O Tropicalismo foi muito mais do que isso. 00:16:38:06 A Tropicália era uma espécie de ilha, era uma espécie de território, idea lizado. Uma espécie de utopia. Enquanto que o Tropicalismo, e o ismo já denuncia muito claramente isso, era uma coisa do momento. 00:17:26:20 canta palmeira da estrada tem uma moça recostada 00:17:38:06 Eu e Rogério conspiramos para fazer um repertório para Gal, que transcendesse o problema de Bossa Nova ou Jovem Guarda. Eu comecei a falar essas coisas com o Gil. O Gil, que estava começando a ficar apaixonado pelos Beatles, ficou animado com aquilo e foi para Recife passar uma temporada. Em Recife, ele conheceu a Banda de Pífanos de Caruaru e também teve contato com muita miséria e era tempo da ditadura militar... Ele achou que a situação era muito mais violenta… 00:18:12:17 O folk pernambucano, o folk nordestino, como um dos ingredientes importantes... A manifestação mais definitiva de uma expressividade brasileira não poderia se dar com a sonegação desse tipo de coisa, dessa coisa popular. Tudo isso junto com a força dessa outra expressão nascente na mão dos adolescentes ainda, né? 00:18:42:00 Você tem a vida inteira pra viver e saber o que é bom e o que é ruim é melhor pensar depressa e escolher antes do fim você não sabe não sabe, nunca procurou saber que quando a gente ama pra valer bom mesmo é ser feliz e mais nada nada 00:19:14:10 "Vocês ficam nesse mundinho chato." Eu falei: "Pois é, Datena. Eu não vivo nesse mundinho. A gente não tem nada a ver com isso." Eu converso muito com Rogéria sobre esse negócio. E ela falou: "Mas você tem que ver o programa do Roberto Carlos." E eu fiquei maravilhado! Datena disse: "Ali que tem vitalidade." 00:19:31:13 você não sabe nunca procurou saber 00:19:45:02 Eu nem tinha televisão em casa. Não gostava de televisão. Às vezes, ia na casa da vó de Dedé ver o programa do Chacrinha, para ver o que era aquilo. Logo que vi, fiquei maravilhado! 00:19:56:02 Acontece o seguinte sempre me baseei no meu programa, no Norte e Nordeste, de onde eu sou filho. E eu procurava enfeitar o meu programa com coqueiros, bananeiras, aquelas coisas todas, tá entendendo?, para dar um cunho realmente tropical ao meu programa porque o Norte e o Nordeste são regiões eminentemente tropicalistas. Foi nessa época, justamente, que a música popular brasileira começou a ser rotulada, começou a ter rótulo. Aí então, começou haver programa de "Bossa Saudade", Jovem Guarda, festival... Okay, meu filho? 002:20:27:10 Quem vem lá? Quem será? Ah, é? Mais uma? Esperando a polícia chegar Começando a descer de lugar Porque tá balançado querendo sambar Quem vem lá? Quem vem lá? 00:20:45:08 Então, naquela altura, quer dizer, com "O Fino da Bossa", depois com a subida do programa Jovem Guarda, havia um interesse do público de televisão por música popular, um misto de torcidas de futebol com tendências políticas, com partidos políticos, né? E o dono da televisão manipulando aquilo, combinando com a gente: "Então vocês fazem um grupo." Todo mundo acreditando que era nacionalista. "Fazem um grupo contra o 'Iê-Iê-Iê'." O dono da televisão, que tinha o programa do Roberto Carlos e tinha o programa da Elis Regina, combina com todo mundo para fazer um grupo, um contra o outro, para dar audiência para a televisão. É um problema de televisão. E os festivais surgiram durante essa época em que a música na televisão tinha essa importância tão grande. 00:21:35:20 A música colocada em segundo lugar é de outro compositor que procura dar, segundo afirma, um som universal à música brasileira. É "Domingo no Parque", Os Mutantes. Os Mutantes irão cantar, num arranjo de Rogério Duprat, com Gilberto Gil. 00:22:18:18 O rei da brincadeira Ê, José! O rei da confusão Ê, João! Um trabalhava na feira Ê, José! Outro na construção Ê, João!... 00:22:27:22 Era um canto de capoeira. 00:22:31:02 A semana passada 00:22:32:13 Eu queria que tudo isso se juntasse àquela força agressiva do rock 'n' roll. 00:22:39:21 Capoeira! Não foi prá lá Pra Ribeira, foi namorar... 00:22:44:23 Mas o Rogério, foi ele que me chamou a atenção, ele disse assim: "Mas acho que você precisa de uma coisa ainda mais arrojada, uma coisa que vá para além." E foi quando ele me disse: "Eu tenho uns meninos que eu conheço do programa do Ronnie Von, Os Mutantes, eu vou apresentá-los a você. 00:23:06:05 Foi que ele viu Juliana na roda com João Uma rosa e um sorvete na mão Juliana seu sonho, uma ilusão Juliana e o amigo João… 00:23:24:06 Eu apresentei o Gilberto Gil ao Rogério Duprat, que eu tinha começado a fazer um arranjo de domingo no parque, e fui parar no júri do Festival da Record, convidado pelo Solano Ribeiro. 00:23:37:05 Um momento, um momento, um momento. O júri... o júri me pede... o júri me pede que anuncie a vocês que essa música ganhou o prêmio de melhor arranjo... Rogério Duprat. 00:23:54:18 E Solano Ribeiro resolveu reunir uns caras, umas pessoas, pra ver se a gente conseguia canalizar aquela força toda que era a Jovem Guarda, e transformar aquilo numa coisa também que valesse para a música brasileira. Então, começamos a visitar, a visitar a coxia desses negócios. E aí, eu ouvia um, ouvia outro, outro e outro e aí, de repente, apareceu Os Mutantes, que foi um pé na cara de todos nós, né? Ninguém imaginava que podia ter gente tão, tão criativa assim aqui no meio dos botocudos. Eles faziam uma coisa que, às vezes, podia parecer melhor que os Beatles, né? 00:24:58:06 Hoje eu vou fugir de casa Vou levar a mala cheia de ilusão Vou deixar alguma coisa velha Esparramada toda pelo chão 00:25:12:08 Era fantástico porque, eu não sei qual era a idade dele, eu não sei a idade dele em relação a mim, mas a gente falava a mesma língua. E de igual para igual. Isso era um negócio inacreditável para uma criança. 00:25:28:20 Pra onde eu vou, ah 00:25:33:02 O Rogério conseguia botar, na música, a ideia que eu tinha em frases. E isso foi lindo. Se eu pedir um pouco de ópera, se eu pedir um pouquinho de Dez Mandamentos, se eu pedir um pouquinho de paz, ele conseguia tudo. 00:25:57:01 Faróis altos e baixos que me fotografam 01:25:59:03 Putz! Maravilha, gênio total. Duprat é um gênio. Você imagina que se a MPB já era - cuspindo nas guitarras, né? - aquela coisa radical pra chuchu, imagina o que era um maestro de orquestra, né? Música clássica. Devia achar rock uma... E, de repente, veio o Rogério Duprat, uma figura frágil, né? E a primeira coisa que ele falou pra gente: "Eu detesto música.“ Eu achei aquilo maravilhoso! Eu falei: "Pô, é tudo que eu sinto também." Porque é o detestar de tanto adora, não sei. Era uma coisa, né?, do tanto que pode ser feito que nunca nada é feito do jeito que a gente quer. A gente está sempre "I can’t get no..." A gente começava a cantar "I can’t get no..." porque o Rogério nunca estava satisfeito. 001:26:55:09 Na busca do que chama de "som universal", o detentor do prêmio de melhor letrista no segundo festival escolheu, para acompanhá-lo, os Beat Boys. E aí vem, com sua "Alegria, Alegria", Caetano Veloso. 00:27:50:04 Caminhando contra o vento Sem lenço e sem documento No sol de quase dezembro Eu vou O sol se reparte em crimes Espaçonaves, guerrilhas 00:28:07:00 -Agora a gente, por enquanto, está filmando só o que aparece aqui. -Olha lá! Eles estão filmando ali. Aquilo é uma câmera de cinema que estão... que está filmando agora o Caetano Veloso, que faz parte do filme. -Pois é! Eles estão aproveitando para filmar o Caetano, que é meu galã. Agora, eu estou muito contente porque eu convidei o Caetano pra fazer o filme comigo muito antes do festival. Então, eu estou feliz porque, assim, ele não fica pensando que é porque ele está fazendo sucesso e tal. Está bom. 00:28:37:10 Eu vou Por entre fotos e nomes Os olhos cheios de cores O peito cheio de amores vãos Eu vou Por que não, por que não Por que não, por que não Por que não, por que não 00:29:21:00 -Um cantor pode viver sem fazer televisão? -Não. Eu acho que ninguém que faça sucesso poderá viver sem fazer televisão, né?, ou sem aparecer em televisão. Desde o político, do jogador de futebol, do cara que virou notícia, do bandido que saiu no jornal, né? Eu acho que o cantor também está nesse grupo, né? Se ele faz sucesso, deve fazer televisão, deve ser visto em televisão. 00:29:24:05 Em volta da mesa Longe do quintal A vida começa No ponto final 00:29:58:21 No que eu acredito é que, com a jogada comercial, aliás, muito inteligente do Guilherme Araújo, houve, digamos assim, uma banalização. As colocações mais inquietantes eram meio desprezadas em nome de uma eficácia comercial, ou seja: "Deixa pra lá, vamos... O importante é a gente ganhar dinheiro.", ou seja... E o Guilherme, nesse ponto, ele veio meio predestinado. 00:30:29:07 Ele entendia que a gente precisava falar para o grande público. Mas como é que a gente ia transpor esse campo, esse mundo, pra o mundo da "mass media", da... 00:30:40:06 Os interesses do Guilherme pareciam suspeitos porque eram interesses comerciais. Então, o Rogério, que se opunha de uma certa forma ao Guilherme, então ele se dizia "o desempresário". O Rogério dizia assim: "Eu sou o desempresário." 00:31:15:01 Você Precisa saber da piscina Da margarina Da Carolina Da gasolina Você Precisa saber de mim Baby, baby Eu sei Que é assim Baby, baby Eu sei Que é assim Você Precisa tomar um sorvete Na lanchonete Andar com gente Me ver de perto 00:32:47:22 O Edson, o estudante que protestou contra a comida do Calabouço e foi morto, saiu da vida e entrou na história, entende? Eu fui preso na missa de sétimo dia. Foram bagunçados, foram confundidos todos os fundamentos da minha ideologia, da minha visão de mundo, a partir daquele estilhaçamento, daquela fragmentação causada pela prisão, as torturas e tudo mais. 00:33:35:13 Chega à choupana o campônio Encontra a mãezinha ajoelhada a rezar Rasga-lhe o peito o demônio Tombando a velhinha aos pés do altar Tira do peito sagrando da velha mãezinha O pobre coração e volta a correr proclamando Vitória, vitória tem minha paixão Mais em meio da estrada caiu E na queda uma perna partiu E a distância saltou-lhe da mão Sobre a terra o pobre coração Nesse instante uma voz ecoou Magoou-se pobre filho meu Vem buscar-me filho, aqui estou Vem buscar-me que ainda sou teu! 00:35:26:00 Eu, então, a partir daí, e muito mais até do que Caetano e do que outros, passei a incorporar uma dimensão "paranoid" muito clara. Achava que os tentáculos da... do monstro iam se voltar mesmo para nós, e tentar nos agarrar, e tentar nos apertar e nos estrangular. E foi o que aconteceu. 00:36:07:20 Na hora que o Tropicalismo surgiu, no seu primeiro momento, a classe universitária foi contra, a plêiade de jornalista foi contra. Chamaram aquilo de "alienação", de "música americana", de "entreguismo". 00:36:25:11 Atenção, eu preciso falar! Atenção, atenção! Eu quero falar! 00:36:29:09 O Décio Pignatari escreveu, que estava presente com o Augusto de Campos, escreveu que os alunos ferozes queriam, praticamente, destruir Caetano e Gil e eles, de vez em quando, tocavam até bomba no fundo da sala. 00:36:43:17 Era uma cilada porque nós entramos e jogavam casca de banana e xingavam e... Depois, finalmente, houve uma, alguma conversa, mas sempre, na verdade, eram acusações, não proposta de diálogo. 00:37:08:00 Me dê um beijo, meu amor Eles estão nos esperando Os automóveis ardem em chamas Derrubar as prateleiras As estantes, as estátuas As vidraças, louças, livros, sim… E eu digo sim E eu digo não ao não É! -- proibido proibir É proibido proibir É proibido proibir É proibido proibir É proibido proibir... Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder. Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado? São a mesma juventude que vão sempre, sempre matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem. Vocês não estão entendendo nada, nada! Nada, absolutamente nada! Vocês estão por fora! Vocês não vão vencer. Mas que juventude é essa? Que juventude é essa? Se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos. Deus está solto. 00:39:00:17 O pessoal da USP, o pessoal da FAU contra o pessoal da Maria Antônia... São Paulo, movimento estudantil, as várias facções também... Paixão, muita paixão, muito "clubismo", muito partidarismo, essa tentação natural de reduzir as análises, a maneira de perceber ao superficial da cor da camisa, né?, da cor do clube. 00:39:40:08 São, São Paulo, meu amor São oito milhões de habitantes De todo o canto em ação Que se agridem cortesmente correndo a todo vapor E amando com todo ódio, se odeiam com todo amor São oito milhões de habitantes Aglomerada solidão Por mil chaminés de carros gaseados a prestação Porém, com todo defeito, te carrego no meu peito São, São Paulo, quanta dor São, São Paulo, meu amor Salvai-nos por caridade Pecadoras invadiram todo o centro da cidade Armadas de rouge e batom Porém, com todo defeito, te carrego no meu peito Muito bom. 00:41:02:00 Temos dito com muita freqüência, um fato. E, agora, vamos começar a rememoração. O jovem quer ser adulto. O que o jovem não quer é ser como o adulto que ele tem diante dele. Um adulto quadrado, chato, que não sabe viver, moralista. Um adulto realmente nada atraente. Durante todo esse tempo, nós tentamos mostrar, no programa, que existe um tipo de adulto que é detestável para um jovem que seja razoavelmente saudável. Será que os jovens já disseram isto alguma vez na música? Eles já disseram centenas de vezes na música! Existe uma delas que eu gostaria de pedir aos Mutantes que executassem. E gostaria de pedir aos adultos que ouvissem. "Panis Et Circenses". 00:42:02:10 Eu quis cantar Minha canção iluminada de sol Soltei os panos sobre os mastros no ar Soltei os tigres e os leões nos quintais Mas as pessoas na sala de jantar São ocupadas em nascer e morrer Mandei fazer De puro aço luminoso um punhal Para matar o meu amor e matei Às cinco horas na avenida central Mas as pessoas na sala de jantar São ocupadas em nascer e morrer 00:43:03:22 Eu me lembro que quando foi fazer o disco, Caetano disse: "Olha, é um disco de grupo. Cada um vai dizer o que quer fazer, e fazer." Me lembro que Torquato gritou logo: "Eu quero a mãe!" 00:43:15:02 Aqui está o Anjo Torto. Esse cara foi muito mais subversivo do que a gente pode imaginar. Foi ele que me apresentou à maconha. A mim e ao Gil. 00:43:27:55 Eu tinha muita proximidade natural com ele. Muito mais do que com Capinam, por exemplo, que era da Bahia e que eu conhecia há mais tempo. 00:43:35:10 Bom, Capinam trabalhou comigo no CPC da Bahia. CPC era a classe universitária reunida para fazer arte para as outras escolas, para manter vivo o espírito de confrontação com o capitalismo... 00:43:52:17 Pelo fato de terem sido, vamos dizer assim, não tão sorteados pela fama, como Caetano e Gil, por exemplo, acabaram se tornando um pouco dissidentes, um pouco ressentidos. 00:44:14:23 É claro que tinha competição. Nós tínhamos um pouco de medo, um do que o outro ia fazer. 00:44:25:09 essas pessoas na sala de jantar (11x) 00:45:08:10 Um poeta desfolha a bandeira E a manhã tropical se inicia Resplendente, cadente, fagueira Num calor girassol com alegria Na geléia geral brasileira Que o jornal do Brasil anuncia 00:45:22:20 Pensa bem, bicho! Olha só nessa imagem: Rita, Gal e a Nara. A gente viveu isso tudo intensamente, né? Era a tal da salada né? 00:45:36:15 Ê bumba iê iê iê É a mesma dança, meu boi "A alegria é a prova dos nove" E a tristeza é teu Porto Seguro Minha terra é onde o Sol é mais limpo Em Mangueira é onde o Samba é mais puro Tumbadora na selva-selvagem Pindorama, país do futuro 00:46:13:10 Caetano me disse que tinha um projeto de fazer um repertório específico para mim. 00:46:19:03 E que fosse mais violento, ao mesmo tempo, mais poético, mas que tivesse elementos do rock 'n' roll. 00:46:35:22 Para mim foi quebrar uma barreira, né? Foi me jogar num abismo assim e me envolver com aquele momento, ouvindo as discussões, as conversas. 00:46:47:05 Atenção Tudo é perigoso Tudo é divino maravilhoso Atenção para o refrão É preciso estar atento e forte Não temos tempo de temer a morte (2x) Atenção Tudo é perigoso Tudo é divino maravilhoso Atenção para o refrão É preciso estar atento e forte Não temos tempo de temer a morte (2x) 00:47:22:15 Metade vaiava, metade aplaudia. Tinha uma pessoa, na frente, que gritava: "Fora!" Mas ela... essa pessoa, acho que era um homem, estava enraivecido, puto da vida. E eu, aí, cantei para ele assim, sabe?, cantei com tanta raiva, com tanta força, que eu me lembro que ele sentou na cadeira. E aí quebrou tudo, né? Aí mudou tudo. 00:48:06:00 É preciso estar atento e forte Não temos tempo de temer a morte É preciso estar atento e forte Não temos tempo de temer a morte É preciso estar atento e forte Não temos tempo de temer a morte-te-te-te 00:48:40:04 Quarta colocada no júri especial: "2001", de Rita Lee Jones e Tom Zé. Com Gilberto Gil e Jiló. Instrumentos eletrônicos de Cláudio e interpretação de Os Mutantes. 00:48:58:05 Astronauta libertado Minha vida me ultrapassa Em qualquer rota que eu faça Dei um grito no escuro Sou parceiro do futuro Na reluzente galáxia Eu quase posso palpar, a minha vida que grita Emprenha e se reproduz, na velocidade da luz 00:49:29:12 É bonito isso que a gente, de uma certa forma, conseguiu unir o lado campestre, o folk song com a música, né? Então a gente colocou a música caipira num sentido mais de rock 'n' roll. 00:49:50:01 Você vê o Cláudio aí com o gerador de áudio dele. Isso foi o que ele tocou em "2001". Esse gerador de áudio, ele construiu. Era um kit que não existia aqui, não existia nada. Ele estava fora do palco, mas ele era o quarto Mutante, com certeza. O que ele fazia era milagre. A gente gravou também parte daquele "ih". E era solto por isso. Então a gente não estava nem imaginando as coisas, por onde a gente estava navegando e em que época, né? É inacreditável ver isso! Sabe quando você é criança e você está brincando de pirata e você é pirata? A gente assimilava as coisas igual esponja! Tal antropofagia era imediata. Então não é verdade que a gente só tocava música de "gringo". De jeito nenhum. 00:51:02:15 Ela é minha menina E eu sou o menino dela Ela é o meu amor E eu sou o amor todinho dela A lua prateada se escondeu E o sol dourado apareceu Amanheceu um lindo dia Cheirando a alegria 00:51:41:17 Essa percepção imediata, visceral, que eles tiveram da força do Jorge, né, da música do Jorge Ben Jor. É uma prova muito clara de que ele era um... uma força tropicalista fundamental. 00:51:59:23 O Jorge é... ele era parte disso tudo. Quando a gente fez o Divino Maravilhoso, o programa, era a coisa mais incrível que você possa imaginar na face da Terra. 00:52:17:22 Aqui jaz o Tropicalismo. O primeiro programa começava com os Mutantes fazendo o enterro do Tropicalismo. 00:52:25:23 Miserere-re nobis Ora, ora pro nobis É no sempre será, ô, iaiá 00:52:36:10 Quem éramos nós e o que era a televisão naquele tempo? Aquele casamento tinha sido uma verdadeira felicidade. 00:52:45:21 Já não somos como na chegada Calados e magros, esperando o jantar Na borda do prato se limita a janta 00:52:52:11 Qual é a mensagem que a gente está dando para todo mundo que estivesse assistindo? "Sejam livres." Então isso tudo era extremamente subversivo na época. 00:53:01:20 As espinhas do peixe de volta pro mar 00:53:07:11 Estamos aqui no tablado Feito de ouro e prata De filó de nylon Eles querem salvar as glórias nacionais 00:53:19:05 Esse show da Boate Sucata é um negócio espetacular! 00:53:23:08 As glórias nacionais, coitados 00:53:29:23 Esse aí foi realmente vanguarda no negócio de música popular no Brasil, de rock 'n' roll no Brasil. 01:53:36:11 Eu sou contente Eu sou cigana Eu sou terrível Eu sou o samba A voz do morto Os pés do torto O cais do porto A vez do louco A paz do mundo Na Glória! Na Glória! Eu canto com o mundo que roda 00:54:11:12 O presidente da República, no uso da atribuição que lhe confere o artigo 9º do Ato Institucional número 5, de 13 de dezembro de 1968, resolve baixar o seguinte Ato Complementar: "Fica decretado o recesso do Congresso Nacional a partir desta data." Artigo 2º: "O presente Ato Complementar entra em vigor nesta data revogadas as disposições em contrário." 00:54:46:03 Havia um defeito no nosso sonho, ou seja, havia uma espécie de euforia meio ainda adolescente. É como se poderia dizer hoje em dia, uma gíria que apareceu depois: "Não tinha caído a ficha ainda", "Da barra pesada". Ou seja, ainda estavam muito... O que foi maravilhoso que nos permitiu toda aquela liberdade. A repressão ainda não tinha se abatido com tanta eficácia. 00:55:26:07 A maneira como o... o regime de exceção, a ditadura, se relacionava com a variedade de manifestações no Brasil era, basicamente, de hostilidade a tudo e a todos. 00:55:48:18 Havia muita confusão, assim, de... em que estado estavam as pessoas e tudo passou-se muito rápido. Porque, veja bem, o disco que tem "Tropicália", aquele meu primeiro disco do Tropicalismo, foi feito todo em 67 e era para sair em dezembro de 67 e eu não sei se saiu mesmo ou se, finalmente, só saiu no início de 68. E em dezembro de 68, eu e o Gil já estávamos presos, entendeu? 00:56:25:08 Caetano é uma espécie de herói civilizador, é uma... agora só eu rasgando um... Opa! Quase que eu rasgo. Rasgando um pedaço da minha roupa para mostrar como Caetano era naquele tempo, a firmeza com que ele se dirigia, às vezes, até... - eu diria até sem saber - como ele se dirigia para que o Tropicalismo se transformasse no braço armado da Segunda Revolução Industrial, que iria ser muito importante chegar para o Brasil. O Brasil, naquele tempo, sob a sombra de uma ditadura, precisava que a juventude tivesse material mental para se excitar, para que, na hora que a ditadura saísse, ela estar preparada para... E ela estava preparada justamente porque ia chegar a Segunda Revolução Industrial... Cadê o cartazinho que tem isso? Está aqui para eu não ficar gaguejando. Neusa, eu dei a ele... Sim, sim. Não, é o outro. Passa o segundo. Passa o terceiro. Passa o quarto. Esse! O que Caetano, por intuição, queria era ser o braço armado dessa Segunda Revolução Industrial. Quer dizer, enquanto a ditadura pensar era crime, ele, como a ditadura, ele e Gil, como a ditadura não compreendia as letras... "você precisa saber da margarina, da gasolina..." Isso parecia uma tolice, não é? Isso era uma puta malandragem! O que era o nosso mundo aqui nesse momento? Nós éramos um mundo de opressão, era a sombra da ditadura... Deixa eu pegar uma coisa aqui para imitar a sombra da ditadura. Numa ditadura, pensar é crime! Numa ditadura, dar, dar para a fome, da cabeça da juventude, elementos para eles estarem na excitação de pensar, na excitação de compreender seu tempo para fazer a antítese dele, tudo isso é crime! E aí, o Tropicalismo de Gil e Caetano estava cedendo isso por debaixo do pano. Eles estavam presos, mas as canções estavam por aí. 00:58:59:19 From the stern to the bow Oh; my boat is empty Yes, my heart is empty From the hole to the how From the rudder to the sail Oh my boat is empty Yes, my hand is empty From the wrist to the nail 00:59:45:17 Depois dos dois meses de prisão nós fomos levados para salvador e nós ficamos lá confinados quatro meses, e no fim desses quatro meses é...eles apresentaram a solução para o nosso caso, que era: deixar o país! 01:00:15:01 O nome de um movimento só existe enquanto o movimento existe, e o Tropicalismo não existe mais como movimento. Ele frutificou. O que nós tentamos fazer chamou a atenção dos outros compositores novos brasileiros. Eles foram, de certa maneira, e modéstia a parte, influenciados pelas nossas ideias. Mas nós já não estamos no Brasil e já não há o Tropicalismo como movimento, entende? De modo que, o que a gente faz hoje, é irresponsável com relação ao movimento Tropicalista. 01:00:46:04 Vocês tem intenção de integrar-se, e acham que é possível integrar-se, no movimento musical inglês ou vocês pretendem que o movimento musical inglês se integre a vocês? 01:00:58:02 Eu não sei. Eu não sei o que é possível nem o que é impossível. Não tenho a menor ideia sobre isso. Eu vou pra Londres. Eu não sei. 01:01:17:16 First time I came to Babylon I felt so lonely I felt so lonely and people came along To mistreat me Calling me so many names in the streets And I was so shy That I began to cry First time I came to Babylon I felt so lonely I felt so lonely and people came along To mistreat me Calling me so many names in the streets And I was so shy That I began to cry But now I am so proud Of whatever should be Cause I have a silver knife And my lover is Satan's wife And I don't care If you don't dare see Yeah I don't care If you don't dare see 01:02:55:14 Precisávamos estar em grupo, precisávamos ser uma tribo, precisávamos estar unidos, precisávamos ter o espelho permanente um do outro para nos identificarmos. A nossa identidade era dada, basicamente, por esse traço coletivo, por esse desejo, esse querer, essa nova tribo, né? Tinha que ser um pouco assim, não tinha outro jeito. "Uma andorinha só não faz verão." 01:03:37:04 I just like to explain to you, that this good people that are coming to the stage, are from Brazil, and, one of the reasons they are here, is because politics hasn’t allowed them to do their thing in Brazil. One thing is for sure: they can do it here. 01:03:53:01 O Haiti estava tomado por uma centena de milhares de pessoas. Esse grupo, por exemplo, que vai pro palco, ele leva o que estava acontecendo na ilha toda. Tudo que aquelas 500 mil pessoas estavam lá na ilha pra representar, que era, enfim, toda essa liberdade, essa cultura solta da época hippie, da época psicodélica, tudo aquilo estava naquele grupo, naquelas 15, 20 pessoas que foram para o palco naquele momento. A "rapazie", né? A rapaziada. 01:04:43:05 Você sabe que eu quase não fui para esse festival. Mesmo assim, eu estava vendo coisa... Eu tinha visto o festival, do ano anterior, que tinha sido encerrado pelo Bob Dylan e, nesse daí, eu já não... Achei que pra ir até lá... Eu dizia assim: "Cara, eu não sou escoteiro. Esse negócio de hippie... Eu não sou hippie, eu não sou escoteiro." 01:05:08:16 Shoot me dead or be good or Shoot me dead or say that you die for me Always said, understood and Always said, understood And clear to see Don't waste your time in saying Don't waste your time in looking for sorrow I'm as sure of the past as I'm certain about tomorrow 01:05:53:09 É muito difícil tentar achar palavra para descrever isso, bicho. É indescritível! É como você tentar descrever moléculas do... Por que o meu braço não se dissolve, não sai voando? Quem segura isso tudo junto? Como? Qual é a explicação? Eu sou um milagre ambulante. Nós somos. Como é que... Por que essas moléculas e átomos ficam aqui juntos? Por que eles não se dissolvem e saem andando? Qual é a cola que segura isso tudo? Qual é a cola que juntou essas pessoas todas? 01:06:34:03 Os Mutantes, comme son nom l'indique, sont les mutants brésiliens qui veulent aller plus loin et être plus extravagants que la Bossa Nova. C'est un flux tropical de paroles de réclamation et de sonorité agressive. Os Mutantes symbolise un lieu de rencontre entre un type de folklore sud-américain et des guitares électriques et le rythme du rock américain. Ils sont l'image du jeune Brésil. Ils découvrent, avec une fascination, un univers sonore qu'ils commencent à explorer avec la folie de l'effet wah-wah de guitares et de batterie. 01:07:21:08 Bat Macumba ê ê, Bat Macumba obá Bat Macumba ê ê, Bat Macumba obá Bat Macumba ê ê, Bat Macumba obá Bat Macumba ê ê, Bat Macumba obá Bat Macumba ê ê, Bat Macumba obá Bat Macumba ê ê, Bat Macumba obá Bat Macumba ê ê, Bat Macumba obá Bat Macumba ê ê, Bat Macumba oh Bat Macumba ê ê, Bat Macumba Bat Macumba ê ê, Bat Macum Bat Macumba ê ê, Batman Bat Macumba ê ê, Bat Bat Macumba ê ê, Ba Bat Macumba ê ê Bat Macumba ê 01:07:59:05 Eu nunca ia imaginar, quando eu estava no ginásio, que eu, um dia, ia sair do Brasil, tocando lá fora. Mas deu certo essas coisas, né? E a gente vai continuar a levar adiante isso de rebeldia, de contestação, de aprovação, de amor, de ódio. Tem até uma música que eu falo: "Eu me amo como eu amo você. É fácil." E tem uma outra que eu inventei: "Eu te odeio como eu odeio a mim. É difícil." Mas isso eu nunca quero ouvir. É piração. 01:09:26:12 -O que estais fazendo nessa tarde tão estranha? Tão estranha como a sua alma? Um sol que vai e vem... Você parece tão angustiado, tão triste. -É. -O que acontece em sua vida? -Nostalgia. -Nostalgia? Eu vim te oferecer, novamente, a juventude. -A juventude? Mas eu sou jovem, cara. -Não é a essa juventude cronológica que me refiro. Eu me refiro à volta da tua inocência. A última timidez e a última inocência. Eu quero te restituir a tua inocência, assim, você não ficará mais amargurado nessas tardes estranhas. Interessa? -Não sei. Vou pensar. -Pense bem, meu caro Demiurgo, porque o tempo corre. O tempo voa. E a história está mudando. 01:10:27:23 I'm wandering round and round, nowhere to go I'm lonely in London, London is lovely so I cross the streets without fear Everybody keeps the way clear I know, I know no one here to say hello 01:11:00:20 Se não houvesse esse negócio da prisão, exílio, eu queria deixar a música meio de lado por causa da... por eu não respeitar muito o meu talento como músico, eu queria fazer filmes, começar a entrar para um outro lado e a música fica como uma coisa secundária na minha vida. Mas o exílio me botou muito sem coragem para dar passos tão grandes assim. Eu digo: "Eu mal consigo sobreviver." Estava deprimido, estava assustado. Depois de dois meses de cadeia, quatro meses de confinamento no exílio num lugar onde só chovia, era fogo. 01:11:43:16 Caetano Veloso est l'un des musiciens les plus merveilleux au monde. Brésilien, fils d'un employé postal à Bahia, une ville au nord-est du pays. Là, il a commencé à être plus qu'une idole, un mythe. La liberté d'esprit, l'ironie, la tendresse, l'agilité et le talent l'ont emmené en prison puis à l'exil en 1968. Il vit à Londres dans un groupe où le théâtre, le cinéma et la musique innovants fleurissent. C'était une véritable renaissance appelée Tropicalisme, qui prit son nom d'une de ses meilleures chansons, "Tropicalia". Regardez. Ecoutez. J'ai rarement vu tant de concentration, tant de sérénité provenant d'un visage, d'une voix, où tout est la gravité et l'agilité et ce qui est essentiel. 01:12:14:13 Quando olhei a terra ardendo Igual fogueira de São João Eu perguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação Eu perguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação Eu perguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação Que braseiro, que fornalha Nem um pé de plantação Por falta d'água perdi meu gado Morreu de sede meu alazão Por farta d'água perdi meu gado Morreu de sede meu alazão 01:14:58:23 Até mesmo a asa branca Bateu asas do sertão Entonce eu disse, adeus Rosinha Guarda contigo meu coração Entonce eu disse, adeus Rosinha Guarda contigo meu coração 01:16:17:06 A decisão de voltar eu tomei desde a hora em que eu sai daqui. Eu só pensava em voltar. A partir do momento em que eu vi que me era permitido voltar eu arrumei as coisas pra vir morar no Brasil. 02:17:02:17 Lá em Londres, vez em quando me sentia longe daqui Vez em quando, quando me sentia longe, dava por mim Puxando o cabelo Nervoso, querendo ouvir Celly Campelo pra não cair Naquela fossa Em que vi um camarada meu de Portobello cair Naquela falta De juízo que eu não tinha nem uma razão pra curtir Naquela ausência De calor, de cor, de sal,de sol, de coração pra sentir Tanta saudade Preservada num velho baú de prata dentro de mim Digo num baú de prata porque prata é a luz do luar Do luar que tanta falta me fazia junto do mar Mar da Bahia Cujo verde vez em quando me fazia bem relembrar Tão diferente Do verde também tão lindo dos gramados campos de lá Ilha do norte Onde não sei se por sorte ou por castigo dei de parar Por algum tempo Que afinal passou depressa, como tudo tem de passar Hoje eu me sinto Como se ter ido fosse necessário para voltar Tanto mais vivo De vida mais vivida, dividida pra lá e pra cá 01:19:27:21 Lá em Londres, vez em quando me sentia longe daqui Vez em quando, quando me sentia longe, dava por mim Puxando o cabelo Nervoso, querendo ouvir Celly Campelo pra não cair Naquela fossa Em que vi um camarada meu de Portobello cair Naquela falta de juízo que eu não tinha nem uma razão pra curtir Naquela ausência De calor, de cor, de sal, de sol, de coração pra sentir Tanta saudade Preservada num velho baú de prata dentro de mim Digo num baú de prata porque prata é a luz do luar Do luar que tanta falta me fazia junto do mar Mar da Bahia 01:20:28:18 Minha mãe, uma graça! 01:20:33:20 Tão diferente Do verde também tão lindo dos gramados campos de lá Ilha do norte Onde não sei se por sorte ou por castigo dei de parar Por algum tempo Que afinal passou depressa, como tudo tem de passar Hoje eu me sinto Como se ter ido fosse necessário para voltar Tanto mais vivo De vida mais vivida, dividida pra lá e pra cá 01: -Que beleza! Pronto, agora eu adorei. Agora, eu posso ir. -Obrigado. -Obrigado. Eu adorei! Eu adorei essas imagens. -Cheio de emoções. -E essa agora, eu fiquei... eu voltei pro Brasil.